26 de fev. de 2025

Brasil – Estudo Sugere que Disparidades Regionais Moldam Atitudes do Consumidor em Relação à Carne Cultivada





GQ, 25/02/2025 



Por Anay Mridul



Como as diferenças regionais e as disparidades econômicas afetam o interesse pela carne cultivada no maior exportador de carne bovina do mundo?

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, o segundo maior produtor de carne e o terceiro maior consumidor per capita de carne bovina. No entanto, com o sistema alimentar respondendo por quase três quartos das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do país, uma transição proteica é crucial.

O país abriga gigantes da carne como JBS, Minerva e Marfrig, algumas das quais se uniram a startups como Fazenda Futuro (Future Farm), The New e Vegabom para oferecer proteínas alternativas aos brasileiros.

De fato, as vendas no varejo de análogos de carne e frutos do mar aumentaram 38% em 2023, alcançando US$ 226 milhões. Além disso, um terço dos brasileiros se identifica como flexitariano, pescetariano ou vegetariano.



Mas será que o crescente interesse por proteínas vegetais se estende a tecnologias como a carne cultivada? Essa questão foi explorada por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, que examinaram como as disparidades regionais impactam as atitudes em relação a esses alimentos inovadores em um estudo publicado na revista PLOS One neste mês.

Como a agricultura e a produção animal constituem uma parte significativa do PIB do país, a introdução nacional de alternativas à carne, como a carne cultivada, parece essencial para manter sua participação de mercado no futuro. Isso requer um planejamento cuidadoso para maximizar os benefícios e mitigar as desvantagens”, escreveram os autores.

Falta de conhecimento sobre saúde é um grande obstáculo para a carne cultivada

O estudo, que entrevistou 800 pessoas, focou em duas cidades brasileiras extremamente diferentes: São Paulo e Salvador. A primeira é a mais populosa e economicamente desenvolvida do país, enquanto a segunda apresenta os piores indicadores econômicos e de emprego entre as capitais brasileiras.

Quase dois em cada cinco (38%) entrevistados já tinham ouvido falar da carne cultivada, sendo a familiaridade maior em São Paulo (45%) do que em Salvador (32%).

Essa tendência também se refletiu no consumo. Um terço dos participantes da pesquisa disse que comeria carne cultivada, enquanto 41% estavam incertos. Em São Paulo, 41% demonstraram interesse em experimentar essas proteínas, em comparação com 24% em Salvador.

Entre aqueles dispostos a consumir carne cultivada, quase um terço afirmou estar simplesmente curioso, um quarto mencionou o bem-estar animal como motivação, e um em cada dez citou razões de saúde.

Por outro lado, 26% indicaram que não consumiriam esses alimentos, sendo a neofobia – medo do novo – o principal fator de rejeição. Outros fatores mencionados incluíram a “artificialidade” do produto, a falta de conhecimento sobre ele e seus processos de produção, além de preocupações com impactos na saúde.



A pesquisa mostrou que o interesse pelo consumo aumenta com o nível de informação. Metade daqueles que já tinham ouvido falar da carne cultivada demonstrou vontade de experimentá-la, enquanto 29% estavam incertos. No entanto, entre os que não conheciam o produto, apenas 22% disseram que o comeriam, e quase metade (49%) não soube responder.

Embora a maioria dos entrevistados familiarizados com a carne cultivada acredite que ela seja melhor para os animais e para o meio ambiente, apenas um terço acredita que ela seja benéfica para a saúde humana. Isso evidencia uma lacuna de conhecimento sobre os impactos desses produtos na saúde. A percepção é ainda pior entre aqueles que nunca ouviram falar da carne cultivada – apenas 15% acreditam que ela traz benefícios à saúde, enquanto 23% acham que pode ser prejudicial, e um terço disse não saber.

Contexto regional e cultural é essencial para marketing e políticas públicas

O estudo revelou que os homens (37%) demonstram mais interesse em consumir carne cultivada do que as mulheres (30%). Além disso, os alimentos cultivados são mais populares entre a Geração Z (39%) e os millennials (32%) do que entre aqueles com 50 anos ou mais (22%).

O interesse pela carne cultivada é semelhante entre diferentes níveis de escolaridade e renda, embora pessoas de renda mais alta tenham uma maior propensão a consumi-la.

No entanto, há uma grande disparidade entre consumidores frequentes de carne e aqueles que a evitam. Pessoas que comem carne regularmente demonstraram maior interesse em experimentar a carne cultivada. Apenas 9% dos que não consomem carne manifestaram interesse em prová-la, enquanto essa taxa sobe para 29% entre aqueles que comem carne até três vezes por semana, e para 38% entre os que a consomem de quatro a sete vezes por semana.

Os entrevistados associaram a carne cultivada de forma mais positiva ao meio ambiente do que as proteínas animais convencionais, mesmo aqueles que nunca tinham ouvido falar sobre proteínas cultivadas. Essa é uma descoberta importante, considerando que a produção de carne representa a maior parte das emissões agroalimentares do Brasil. Somente a carne bovina é responsável por 78% dessa pegada de carbono.



Os pesquisadores destacaram a importância de considerar fatores regionais ao discutir a carne cultivada. Eles observaram que São Paulo possui uma economia mais diversificada e maior acesso a tecnologias e inovação. Somado ao maior poder aquisitivo e consciência climática, isso torna os paulistanos mais informados e propensos a aceitar a carne cultivada.

Em contraste, os cidadãos de Salvador, que enfrentam desafios econômicos como maior taxa de desemprego e menor poder de compra, podem encontrar barreiras para acessar informações sobre esses novos produtos, o que pode resultar em menor intenção de consumo”, afirmou o estudo.

Os pesquisadores argumentaram que políticas públicas poderiam ser mais eficazes por meio de iniciativas educacionais direcionadas, abordando as preocupações específicas de cada região. Além disso, recomendaram que as empresas do setor adaptem suas estratégias de marketing para serem mais sensíveis ao contexto cultural de cada local.

Além disso, colaborar com instituições locais pode facilitar uma abordagem mais eficaz para a introdução da carne cultivada”, acrescentaram.

O estudo chega em um momento em que os brasileiros estão reduzindo o consumo de carne bovina. De acordo com o Good Food Institute, 36% dos consumidores diminuíram sua ingestão de carne vermelha entre 2023 e 2024, principalmente devido a preocupações com saúde e altos custos.

A pesquisa também está alinhada com um estudo de 2021, que revelou que 66% dos brasileiros estavam interessados em experimentar carne cultivada.

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Fonte:https://www.greenqueen.com.hk/brazil-lab-grown-beef-cultivated-meat-poll/ 

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