ZH, 13/01/2025
Por Tyler Durden
Mais de 100.000 romenos de diversas orientações políticas tomaram as ruas no domingo, para expressar indignação com a anulação de uma eleição presidencial, que parecia prestes a colocar no poder um cético em relação à OTAN e à guerra na Ucrânia. George Simion, líder da Aliança para a Unidade dos Romenos (AUR), um partido de direita, resumiu o objetivo das manifestações organizadas por seu grupo:
“Estamos protestando contra o golpe de estado que ocorreu em 6 de dezembro. É lamentável descobrir tão tarde que vivíamos em uma mentira, liderados por pessoas que afirmavam ser democratas, mas não são. Exigimos o retorno à democracia por meio da retomada das eleições, começando pela segunda rodada.”
🇷🇴 Close to 100,000 people on the streets of Bucharest protesting against the decision to cancel the elections and in support of Georgescu
Man tries to find the end of the protest, gives up after he keeps running into masses of people pic.twitter.com/EEs7C2ga3P
— Daily Romania (@daily_romania) January 12, 2025
Em novembro, a Romênia realizou o primeiro turno de sua eleição em duas etapas. O resultado foi mais um caso na Europa em que um candidato populista, nacionalista e de direita obteve um desempenho muito superior ao previsto pelas pesquisas. Em um campo de 13 candidatos, Călin Georgescu liderou com 23%, garantindo sua passagem para a segunda e última rodada contra a reformista Elena Lasconi, do partido União Salve a Romênia (USR).
Contudo, apenas dois dias antes da segunda rodada, programada para 8 de dezembro, o tribunal constitucional da Romênia anulou a eleição e ordenou a repetição completa dos dois turnos. A justificativa: suposta interferência russa, manifestada em votos manipulados, irregularidades na campanha e gastos secretos. A decisão veio após o presidente em exercício, Klaus Iohannis, alegar ter compartilhado inteligência que apontava que a Rússia organizou milhares de contas em redes sociais para impulsionar a campanha de Georgescu.
“Vocês, políticos mesquinhos, com seus jogos ingratos e infantis, nem sequer saberão o que os atingiu nesta tempestade global”, disse Georgescu em uma postagem nas redes sociais, na qual promoveu o protesto e comparou os líderes e juízes romenos ao ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que enfrenta acusações de corrupção. “Vocês são tão insignificantes que não conseguem entender nada. Nada do que fazem fará diferença. O inevitável é inevitável.”
🇷🇴 Călin Georgescu announces a massive protest on January 10 in front of the Constitutional Court of Romania, the court which cancelled the elections:
— Daily Romania (@daily_romania) January 7, 2025
Raise your flags, raise your heads and raise your hearts.
We are the people, with God forward. pic.twitter.com/BCEdlt1gse
No domingo, multidões – estimadas entre dezenas de milhares e mais de 100.000 pessoas – marcharam pelas ruas de Bucareste. A agência Reuters informou que muitos esquerdistas também se juntaram ao protesto. Os slogans nos cartazes incluíam: “Queremos eleições livres”, “Tragam de volta a segunda rodada”, “Liberdade” e “Democracia não é opcional”. Em um país que está entre os mais religiosos da Europa, muitos carregavam ícones da Igreja Ortodoxa Cristã. Vídeos postados nas redes sociais mostraram manifestantes expressando sua insatisfação com a mídia tradicional.
The mainstream media right now is one of the most hated institutions in Romania
— Daily Romania (@daily_romania) January 12, 2025
For 35 years they have lied to us without shame and worked against the interests of the Romanian people
Journalists are being booed at the protest in Romania, where more than 100,000 are attending pic.twitter.com/sthy9DqFl5
As redes sociais foram o principal catalisador do sucesso de Georgescu, de 62 anos. Ele não concorreu como membro de nenhum partido político, mas sua conta no TikTok acumulou 1,6 milhão de curtidas com conteúdos que o mostravam indo à igreja, correndo, praticando judô e sendo entrevistado por podcasters.
O mandato de Iohannis deveria terminar em 21 de dezembro, mas ele permanecerá no poder até que as novas eleições sejam concluídas. As datas ainda não foram oficializadas, mas, na semana passada, líderes da coalizão governista indicaram que os dois turnos ocorreriam em 4 e 18 de maio.
As opiniões de Georgescu são contrárias ao establishment europeu. Ele prometeu restaurar a soberania romena e acabar com o que descreve como subserviência à OTAN e à União Europeia. Criticou duramente a presença do sistema de defesa antimísseis da OTAN em Deveselu, no sul da Romênia, chamando-o de uma “vergonha diplomática” que é mais confrontadora do que promotora da paz.
Ele também defende que a Romênia adote uma política não intervencionista na guerra da Ucrânia e acusa fabricantes de armas dos EUA de manipularem o conflito. Desde a invasão russa, a Romênia tem facilitado exportações de grãos ucranianos e fornecido assistência militar, incluindo a doação de uma bateria de mísseis Patriot. Além de seu tema central de restaurar a soberania romena, Georgescu fez campanha para combater a inflação de preços, enfrentar a pior taxa de pobreza da UE, apoiar agricultores e reduzir a dependência do país de importações.
Contudo, agora é a própria soberania do povo romeno que está em risco. Como disse Cornelia, uma economista envolta em uma bandeira, à Reuters no domingo: “Nesse ritmo, não votaremos mais; eles imporão um líder como nos velhos tempos.”
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