GQ, 02/10/2023
Por Anay Mridul
A startup alemã de micoproteínas Nosh.bio fez parceria com a empresa de biologia sintética Ginkgo Bioworks, com sede em Boston, para aproveitar a plataforma de programação celular desta última para encontrar cepas de fungos produtores de proteínas com perfis sensoriais superiores. O processo liderado por IA ajudará a Nosh.bio a desenvolver uma alternativa à carne com um único ingrediente.
A Nosh.bio cria ingredientes funcionais a partir do uso da fermentação de biomassa para produtos alimentícios à base de plantas, enquanto a Ginkgo hospeda uma plataforma de programação celular e biossegurança para ajudar as empresas a fabricar alternativas mais sustentáveis para seus produtos.
A parceria fará com que a Nosh.bio use os serviços de otimização de cepas de Ginkgo, e aproveite seus recursos de triagem encapsulada de altíssimo rendimento para rastrear cepas de fungos que podem criar proteínas alternativas, mais saborosas e nutritivas, que podem fornecer um sabor saboroso e “naturalmente carnudo” em produtos alimentícios.
Em busca do ingrediente fúngico perfeito
As duas empresas argumentam que a proteína sem origem animal ainda enfrenta um desafio na criação de deliciosos produtos de carne alternativa, que sejam menos processados, e mais acessíveis do que a carne convencional. Vários estudos têm demonstrado a importância do sabor, da textura e da paridade de preços para o crescimento deste setor. Além disso, os “rótulos limpos” com listas de ingredientes mais curtas e menos elementos processados são igualmente importantes para os consumidores.
A plataforma tecnológica da Nosh.bio usa biomassa fúngica para desenvolver alternativas de carne derivadas de micoproteínas com um único ingrediente. A startup, que angariou 3,2 milhões de euros numa rodada de financiamento inicial no início deste ano, afirma que os produtos de carne vermelha – como o bife – são o produto mais difícil de recriar e que as alternativas atuais podem conter muitos ingredientes e aditivos químicos. Acrescenta que o seu processo de produção “altamente eficiente” e “econômico” pode produzir carnes alternativas com sabor e textura iguais aos da carne convencional, mas com melhores credenciais de saúde.
Para permitir a criação de tal ingrediente, a Ginkgo espera descobrir uma cepa de fungo com “proteínas nativas mais altas”, envolvidas na obtenção das qualidades superiores que a Nosh.bio procura em seus produtos cárneos à base de plantas. A plataforma de programação celular executará uma campanha de mutagênese e triagem com EncapS, sua tecnologia proprietária de encapsulamento e triagem, que é capaz de pesquisar até um milhão de variantes em uma única execução. Isso ajudará a selecionar as cepas de melhor desempenho para desenvolvimento posterior.
“A Nosh.bio está ansioso para permitir a transição de produtos de origem animal para produtos sem animais. Nossos ingredientes vegetais acessíveis e de alta qualidade podem criar um produto que está ainda mais próximo da carne em sabor e textura, do que as opções de proteína alternativa atualmente no mercado”, disse o cofundador e CEO da Nosh.bio, Tim Fronzek. “O que realmente nos entusiasma na parceria com a Ginkgo é sua tecnologia de triagem acelerada, que pode nos ajudar a identificar e desenvolver uma micoproteína super ‘carnuda’.”
Kalpesh Parekh, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Ginkgo Bioworks, acrescentou: “Nossa tecnologia proprietária de encapsulamento e triagem pode fornecer rapidamente insights valiosos, que permitem que nossos parceiros otimizem seus esforços de P&D e o produto em geral”.
A Ginkgo, que se tornou uma empresa pública na NYSE em 2021 com uma avaliação de US$ 15 bilhões após fechar um acordo SPAC com a Soaring Eagle Acquisition Corp, já tem ligações com a gigante suíça de ingredientes Givaudan para ingredientes sustentáveis baseados em fermentação, a startup de materiais alternativos Bolt Threads para sua proteína b-seda, e a gigante farmacêutica Pfizer, entre outras. Lançada em 2008, sua tecnologia também deu origem a diversas empresas spinoff, como Motif FoodWorks e Joyn Bio (uma joint venture com a Bayer).
Inteligência artificial e proteína alternativa
À medida que a IA entra cada vez mais na nossa vida quotidiana, está também se tornando parte da indústria das proteínas alternativas, com as empresas a aproveitarem a tecnologia voltada para o futuro para resolver problemas atuais e futuros. No mês passado, a Food System Innovations, organização sem fins lucrativos de sustentabilidade, fez parceria com a especialista em IA Noa Weiss para lançar o GreenProtein AI, que usa aprendizado de máquina para otimizar a extrusão e a textura da carne vegetal.
A IA já é usada há anos pela marca chilena de tecnologia alimentar NotCo para suas alternativas à base de plantas. Sua tecnologia patenteada de IA, Giuseppe, é o cérebro por trás dos leites alternativos, maionese e hambúrgueres da empresa. Da mesma forma, a Howw Foods de Cingapura usa IA para fabricar Hegg, seu ovo em pó vegano.
Enquanto isso, muitas empresas colaboraram com empresas de IA para melhorar o desenvolvimento de produtos de proteína alternativa. A Bel Foods – a gigante francesa de laticínios por trás do queijo Babybel – fez parceria com a Climax Foods da Califórnia para fabricar produtos veganos, enquanto a Danone está trabalhando com a empresa californiana de IA Brightseed para descobrir nutrientes e compostos ocultos nas culturas vegetais. E o fabricante de carne de micélio Meati, com sede no Colorado, colaborou com a empresa de IA PIPA para acelerar e expandir a sua compreensão das credenciais de saúde e nutrição dos seus produtos ricos em nutrientes.
Algumas empresas usaram IA como ferramenta de marketing. A startup norte-americana Pleese Foods revelou uma campanha em agosto que empregou IA para gerar imagens extravagantes do queijo, como uma cultura florescente e sendo cultivado em árvores.
Artigos recomendados: Fungos e P-Based
Nenhum comentário:
Postar um comentário