PP, 26/09/2023
Por Oriana Rivas
O vice-presidente de Honduras, Salvador Nasralla, disse exclusivamente ao PanAm Post que a atual presidente de esquerda violou o acordo de governança que a levou ao poder. Agora, como principal adversário da presidente, alerta sobre os perigos que o país centro-americano enfrenta
Através de um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional de Honduras proibiu o nomeado presidencial (equivalente ao vice-presidente), Salvador Nasralla, de falar sobre questões relacionadas à política externa. Ou seja, o segundo no comando da nação centro-americana não pode referir-se a estes assuntos. A desculpa é que as suas expressões “são de caráter estritamente pessoal e não são as do Governo da República”.
É atípico que as declarações da segunda autoridade de um país em relação às relações internacionais sejam minimizadas desta forma. Isto provavelmente responde às divisões internas que estão surgindo no governo de esquerda de Xiomara Castro. Para ser eleita, fez aliança com o Partido Salvador de Honduras (PSH), liderado por Nasralla, mas com o passar dos meses rompeu esse pacto.
No PanAm Post conversamos exclusivamente com o vice-presidente hondurenho, que hoje também se tornou o principal adversário do governo Castro. Por telefone, garantiu que a declaração “procura informar à comunidade internacional que as suas opiniões não representam os sentimentos do governo e do grupo de comunistas que atualmente governam Honduras”.
O roteiro do Foro de São Paulo
A esposa do ex-presidente Manuel Zelaya não cumpriu a aliança que havia prometido e que ambos assinaram em 13 de outubro de 2021, 45 dias antes das eleições presidenciais, explica Salvador Nasralla. O objetivo do referido documento era chegar a um acordo sobre a governabilidade em igualdade de condições entre o PSH e o Partido Libertad y Refoundación (Libre).
“Tentei manter um bom relacionamento, mas como resultado desse fracasso eles estavam tomando decisões erradas no campo econômico e social, nomeando pessoas incapazes e praticamente seguindo o roteiro do Foro de São Paulo para empobrecer o povo hondurenho. Não é que eu queira colocar-me na oposição por fazê-lo, mas porque é meu dever explicar às pessoas que isso é errado”, afirma aquele que contribuiu com “praticamente 65% dos votos que permitiram a Xiomara ser presidente."
Nasralla alerta para a situação preocupante do país, o claro nepotismo em torno da família Castro e as alianças com regimes ditatoriais. “Posso afirmar que ela [Xiomara Castro] quer dissolver o Congresso para estabelecer uma ditadura em Honduras, e que até está promovendo e ajudando países como a República Dominicana a instalar lá um presidente de esquerda”, afirma.
Nota do editor
Salvador Nasralla é o vice-presidente de Xiomara Castro, e foi candidato as presidenciais em 2021, mas desistiu para tornar-se vice dela amando de Manuel Zelaya, o homem que o cogitou para presidência. Nasralla é um socialista, e como tal, ele pregou união entre as esquerdas latino-americanas e centro-americanas. Contudo, a prisão do ex-presidente Juan Orlando Hernandez, e as eventuais absolvições de Manuel Zelaya deram sobrevida ao ex-líder e seu partido, agora no poder. Os próprios EUA (sob Obama) ajudaram a normalizar a vida política de Zelaya em Honduras, apesar de terem muitos relatos, até mesmo dentro da própria DEA, de que ele queria abrigar as FARC em território hondurenho, e até trazer forças militares da Venezuela para proteger sua posição de poder. A acusação que levou o ex-presidente Juan Orlando Hernández para a cadeia, tinha também por base um testemunho específico, do chefe de um grupo narcotraficante hondurenho. O narcotraficante Geovanny Mendez Ramirez denunciou que o ex-presidente Hernández aceitava subornos, em troca de dar guarida para seu bando. Mas o ex-presidente Zelaya também era acusado de ter recebido, principalmente para colocar homens chave de Ramirez no poder. Contudo, somente Hernández dançou, e Zelaya, que tem acusações de narcotráfico que antecedem o testemunho de Ramirez, nunca foi tocado, e está livre leve e solto, e aparentemente, fazendo tudo o que Washington quer.
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