LDD, 21/04/2023
Na antevisão do Conselho da PJ, sem avisar ninguém, publicou um vídeo em que anunciava que ia sair da luta pela candidatura da Frente de Todos. Massa e Cristina descobriram no Twitter.
A crise econômica que atravessa a Argentina, sem dúvida a pior desde a eclosão de 2001, mas que pode ter a mesma magnitude da brutal explosão hiperinflacionária de 1989, já fez sua primeira vítima. Para alegria do povo argentino, o presidente Alberto Fernández anunciou que não será candidato à presidência este ano e declina qualquer possibilidade de reeleição.
A decisão veio depois de longos meses de luta interna na Frente de Todos. Principalmente entre três espaços: o setor albertista, que não tem apoio popular, mas alcançou enorme poder quando Cristina nomeou Fernández presidente, o setor cristinista, que tem enorme apoio popular, mas uma liderança mais focada em seus casos legais do que em governar, e o setor massista, que também não tem muito apoio popular, mas consolidou o apoio dos governadores.
O Cristinismo e os governadores pediram que ele se afastasse, mas Alberto Fernández resistiu. Só depois que a crise econômica o dominou completamente e sua tentativa fracassada de chegar a um acordo de paz no governo após o episódio de Aracre, ele decidiu se afastar.
Em um lamentável vídeo postado no Twitter, totalmente abstraído da realidade e pintando uma Argentina que está apenas em sua imaginação, Alberto Fernández reivindicou seu governo e disparou contra as outras facções kirchneristas de sua coalizão por suas "críticas constantes".
O anúncio veio pouco antes do Conselho da PJ, presidido pelo próprio Alberto Fernández, cargo que também recebeu numa altura em que conseguiu consolidar o poder na Frente de Todos mas depois teve de despromover Massa quando entrou no Governo.
Conforme relatado pelo Infobae, Alberto Fernández discutiu o assunto com seu círculo de maior confiança - entre eles, o secretário da Presidência, Julio Vitobello e a porta-voz, Gabriela Cerruti - no retorno de sua última atividade na quinta-feira em Mar del Plata, para onde fizeram uma viagem para uma inauguração histórica. Lá ele informou que "estava pronto" para sair da luta pela candidatura.
Naquela mesma noite conversou com ele de Olivos, por telefone, com a mão direita, o chanceler, Santiago Cafiero, e com o chefe de gabinete, Agustín Rossi, que desponta como o pré-candidato que apoiará o albertismo na eventual STEP da Frente de Todos, embora meça abaixo dos 10 pontos.
Posteriormente, mandou ligar para a sua equipe de comunicação, que, segundo fontes oficiais, trabalhou no vídeo durante a noite, para que o mesmo saísse na manhã desta sexta-feira .
As mesmas fontes indicam que falou algo com Massa quando se encontrou com ele pessoalmente, em Olivos, na manhã de ontem, mas que não lhe teria dado qualquer confirmação oficial; o que implica uma verdadeira bagunça institucional pelo impacto que isso teria na economia.
Com quem não trocou uma palavra foi com Cristina Kirchner, de quem está absolutamente distanciado. Apesar de ter sido ela quem o apresentou como candidato e lhe tem dado a (pouca) legitimidade que tem como Chefe de Estado, "há semanas que não se falam ", segundo familiares.
Com a decisão, o PASSO da Frente de Todos está totalmente aberto. Tudo indica que o peronismo terá seu primeiro estágio em mais de 30 anos, quando Menem derrotou Cafiero em 1988, embora desta vez seja "aberto" e qualquer argentino poderá votar nas primárias do kirchnerismo.
O ex-senador por Santa Fe, ex-diretor do SIDE e atual chefe de gabinete, Agustín Rossi, será o representante do albertismo. Do lado do massismo, ainda se especula se o próprio Massa vai concorrer à eleição, mas a grave crise econômica praticamente descarta a possibilidade. Algumas fontes indicam que o ministro acabaria apoiando um governador.
Entre os governadores há vários que marcam presença: do Chaco, Jorge Capitanich disse que quer competir; de San Juan, Sergio Uñac, que todos querem que ele ocupe "pelo menos a vice-presidência" no futuro binômio kirchnerista, e de Tucumán, Juan Manzur, que primeiro tem que ver se consegue reeleger Jaldo em sua própria província.
Do cristianismo estão medindo Wado de Pedro, atual Ministro do Interior, embora também se fale de Máximo Kirchner ou Axel Kicillof, embora este último esteja praticamente confirmado para buscar a reeleição na Província de Buenos Aires. Cabe esclarecer que a própria Cristina Kirchner poderia até se apresentar, embora tenha dito em dezembro após sua condenação no caso Rodovia que não seria candidata a presidente e sua idade avançada cada vez mais a afasta da disputa.
Outro que quer concorrer é o embaixador no Brasil, Daniel Scioli, que representa seu próprio setor político dentro da Frente de Todos, mas que conseguiu se infiltrar no Governo na época em que se tornou ministro da Indústria e Batakis como ministro da Economia, e agora ela não encolhe na competição.
Por fim, há o líder piquetero Juan Grabois, da Frente Patria Grande, que não mede praticamente nada nas pesquisas, mas está consolidando o apoio de vários piqueteros e organizações sociais, além de já ter dado o primeiro passo e proposto o inapresentável Pedro Rosemblat como candidato a chefe de governo da Cidade de Buenos Aires, em binômio com Ofelia Fernández.
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