RFI, 08/04/2023
Um grupo de mídia nacional revelou a primeira âncora virtual em tempo integral da Índia, um bot chamado Sana que apresentará atualizações de notícias várias vezes ao dia em vários idiomas.
A âncora alimentada por IA será apresentada no canal de notícias Aaj Tak do India Today Group.
"Ela é brilhante, linda, jovem, incansável", disse a vice-presidente do grupo, Kallie Purie, em um evento de lançamento na semana passada com a presença do primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
“Tenho muita sorte de ter sido escolhida como âncora de lançamento da Aaj Tak AI entre centenas de candidatos avaliados para o cargo”, disse Sana em um inglês impecável, antes de mostrar suas habilidades linguísticas locais.
O humanóide solicitou uma entrevista com Modi em 2024, quando o primeiro-ministro – uma força motriz por trás do desenvolvimento de serviços de IA na Índia – vai encarar o eleitorado para um terceiro mandato.
Meet Sana, India’s first AI-powered news anchor, who will present news several times a day in different languages on Aaj Tak. How will this impact human anchors? Only time will tell. Find out more about Sana here: https://t.co/FnXjNBwcy9
— Thinkly - Stay Relevant (@mythinkly) March 28, 2023
VC: Aaj Tak#Sana #AI #News #NewsUpdates pic.twitter.com/IVCSoFkSru
Falsa imparcialidade?
Alguns esperam que os bots ajudem a combater as notícias falsas e pagas na Índia, onde muitas das mais de 890 estações de TV privadas e 18.000 publicações dependentes da publicidade do governo são acusadas de encobrir questões críticas.
Os críticos os denunciam como “Godi”, ou “lapdog”, mídia (mídia comprada).
Mas especialistas disseram que em breve os apresentadores de IA poderão servir de propaganda na Índia, onde 200 milhões de lares têm TV, incluindo 22 milhões de aparelhos habilitados para internet.
O país consome uma enorme quantidade de conteúdo online e as pessoas confiam profundamente na inteligência artificial, de acordo com uma pesquisa internacional recente, que constatou que 75% dos entrevistados estão dispostos a confiar e aceitar sistemas de IA.
STUDY: A KPMG survey found that Brazil, India, China, and South Africa have over 50% of their population showing strong trust in artificial intelligence technologies. India had the highest trust rate at 75%. pic.twitter.com/5aJ54pEaZe
— Coingraph | News (@CoingraphNews) April 4, 2023
“Será um consentimento fabricado, pois as empresas de mídia estarão inclinadas a usar bots para evitar críticas contra o conteúdo editorial partidário e manter seus humanos longe de controvérsias”, disse a jornalista independente Shahira Naim à RFI.
Jornalistas de TV vistos como pró-governo foram agredidos nas ruas por partidários de partidos políticos da oposição.
Sana Amjad, uma apresentadora de TV paquistanesa, ficou perplexa. “Agora os problemas vão aumentar para os âncoras de notícias indianos”, ela previu, enquanto alguns outros grupos de mídia disseram que esperariam pelas avaliações de Sana.
“Eu realmente não entendo o propósito disso”, disse o professor de comunicação Shivaji Sarkar, apontando que milhares de pessoas se formam em jornalismo todos os anos, mas encontram poucos empregos no mercado de mídia da Índia.
Batalha dos bots
A Índia é agora um dos pelo menos quatro países a inaugurar emissoras com inteligência artificial. Um canal de notícias online, Canal IAM, afirmou enganar Sana com seu próprio apresentador de IA, que fala com um sotaque visivelmente americano.
A Svoye TV da Rússia apresentou no mês passado Snezhana Tumanova como sua primeira apresentadora do clima virtual, mas garantiu que não estava de alguma forma substituindo seus colegas humanos por bots.
Na Coreia do Sul, o canal de TV MBN usou uma de suas âncoras da vida real para gerar um equivalente de IA em 2018, apresentando as duas no ar lado a lado.
A agência de notícias chinesa Xinhua revelou as primeiras âncoras de IA do mundo em 2018, enquanto o jornal estatal People's Daily adicionou o apresentador virtual Ren Xiaorong à sua equipe de notícias no mês passado.
Os criadores do bot se gabam de transmitir notícias 24 horas por dia com as habilidades profissionais de “milhares de âncoras de notícias”, embora até agora suas funções tenham se limitado a compartilhar mensagens que ecoam o ponto de vista do governo.
No início deste ano, a principal emissora estatal da Venezuela exibiu vídeos de repórteres que falavam inglês que mais tarde foram revelados como deepfakes – avatares gerados por IA contando histórias que lisonjeavam o governo.
Proeminentes cientistas da computação e outros notáveis da indústria de tecnologia, incluindo o CEO do Twitter, Elon Musk, e o cofundador da Apple, Steve Wozniak, pediram recentemente uma pausa de seis meses no desenvolvimento de sistemas de IA, alertando sobre "riscos profundos para a sociedade e a humanidade".
Mas outros tecnocratas ignoraram os temores em torno da nova tecnologia, especialmente na Índia, que atualmente não possui leis ou regras relacionadas à inteligência artificial.
Jibu Elias, chefe de conteúdo do portal nacional de IA do governo indiano, INDIAai, disse à NDTV que o país estava "no caminho certo" com seu próximo Projeto de Lei da Índia Digital, que apresentará uma nova estrutura regulatória para tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial.
Ele recomendou "regulamentos baseados em risco", com as restrições mais rígidas reservadas para serviços de IA em áreas de alto risco, como saúde.
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