FIF, 11/04/2023
Por Marc Cervera
11 de abril de 2023 --- Pesquisa sinaliza que os preços dos ovos atingiram níveis recordes em vários mercados e abalaram a cadeia de suprimentos global por muitos meses. Embora os preços possam estar mostrando sinais de queda, o Rabobank espera que eles permaneçam em níveis relativamente altos ao longo de 2023, enfatizando que é necessária uma melhor cooperação nas cadeias de produção e um melhor controle da gripe aviária nos países fortemente afetados.
A gripe aviária, o aumento dos custos dos alimentos e dos preços de fabricação fizeram com que os preços dos ovos ficassem atrás de outras commodities que estão tendo algum alívio, já que os preços das commodities caíram pelo décimo segundo mês consecutivo.
Enquanto isso, os preços dos ovos não começaram a cair até o início deste ano.
Nan-Dirk Mulder, especialista sênior internacional em proteínas animais do Rabobank, diz que o pior da inflação de ovos aconteceu nos EUA, Europa e Japão, países que viram “picos extremos de preços”.
Os EUA e a UE estão experimentando preços recordes de ovos, com aumentos de 155% e 62%, respectivamente, desde o primeiro trimestre de 2022.
Enquanto isso, no Japão, os preços dos ovos atingiram seu nível mais alto desde 2003, segundo o Rabobank, com os supermercados do país enfrentando escassez.
Segundo o Rabobank, os preços dos ovos não cairão significativamente nos próximos meses.
“Não esperamos ver os níveis de preços baixos que vimos após outros períodos de pico. Existem algumas diferenças em relação a esses períodos anteriores que têm uma grande influência nisso”, destaca Mulder.
Inflação persistente
Mulder explica que “no setor de ovos, os picos de preços geralmente levam a reduções de preços comparáveis após um ou dois anos”.
Isso se deve a uma resposta natural dos fabricantes a períodos de margens mais altas.
“Eles geralmente aumentam o número de galinhas para se beneficiar de preços mais altos, resultando em excesso de oferta. Vimos essa tendência em 2009 após a proibição alemã de gaiolas convencionais, em 2012 após a introdução da proibição de gaiolas convencionais na UE, em 2015 após a crise da IA nos EUA e em 2017 após a crise do fipronil na Holanda,” Mulder continua.
No entanto, embora os preços caiam significativamente nos países onde os preços dos ovos mais subiram – como nos EUA, onde uma dúzia de ovos grandes caiu de US$ 5,2 no início do ano para US$ 3,13 ontem, segundo dados do USDA – O Rabobank não espera que os preços caiam como em outros períodos de pico.
“Espera-se que os preços permaneçam altos em países com pressões contínuas da gripe aviária, restrições à importação de avós ou reprodutores, acesso limitado a financiamento corporativo ou disponibilidade de dólares americanos e em países onde os regulamentos estão mudando (como a Alemanha)”, Mulder explica.
“Por exemplo, a rápida disseminação da gripe aviária na América Latina está tendo um grande impacto atualmente, com os preços nos países mais afetados pelos surtos subindo fortemente”, detalha.
As causas da inflação dos ovos
De acordo com o Rabobank, os altos preços globais dos ovos resultam de uma combinação de seis fatores de oferta e demanda, sendo que algumas causas são mais prementes em algumas regiões.
Custos crescentes de alimentação, que representam 60-70% dos custos do criador de galinhas poedeiras e dobraram entre meados de 2020 e meados de 2022.
Mais de 100 milhões de aves foram abatidas em todo o mundo.
O rescaldo do COVID-19, que causou distorções para os fornecedores de ovos, é outro motivo crucial que afeta o aumento dos preços.
Medidas regulatórias: a proibição de 2022 do abate de galos de um dia na Alemanha fez com que o país europeu perdesse 20% de suas galinhas. Além disso, a introdução de uma proibição de gaiolas para produtores na Nova Zelândia levou a uma redução de galinhas poedeiras no país de 5 a 12%.
Mudanças no comportamento do consumidor: os consumidores passaram a buscar fontes de proteína mais baratas, levando ao aumento da demanda por ovos.
Oferta apertada: a incerteza do produtor devido a todos os motivos mencionados acima desencorajou as empresas a ampliar suas operações.
Espera-se algum alívio nos preços das rações, de acordo com Mulder.
“Achamos que os preços dos alimentos para animais cairão de 5 a 10% no segundo semestre do ano, em comparação com o nível do primeiro trimestre, devido a uma forte perspectiva de safra para milho e soja no Brasil, safra de trigo melhor do que o esperado nos EUA e milho melhor do que o esperado nos EUA e previsão de rendimento de soja devido em parte aos baixos custos de fertilizantes. Além disso, há uma forte safra de trigo na Rússia e a demanda global por rações está fraca devido à inflação de preços”.
No entanto, a UE pode agir para implementar a proibição de gaiolas de frango, seguindo o exemplo da Nova Zelândia, o que pode impulsionar os preços dos ovos.
Alívio necessário
A Associação Europeia de Processadores de Ovos disse à FoodIngredientsFirst que o fim da gripe aviária e da Guerra na Ucrânia também podem ser catalisadores para a tão necessária redução nos preços dos ovos.
A GAIN alertou há mais de um ano que, se os consumidores pobres forem forçados a abandonar alimentos ricos em nutrientes, como ovos, isso levará a um forte aumento nas taxas de fome e desnutrição em todo o mundo.
“Atualmente, existem grandes preocupações sobre a acessibilidade dos ovos para consumidores de baixa renda, principalmente em mercados emergentes. Para esses grupos, os ovos são um importante alimento básico e uma fonte de proteínas e nutrientes como as vitaminas B6, B12 e D”, explica Mulder.
“Nesses mercados, os ovos se posicionam como a proteína mais acessível e de fácil distribuição, pois não necessitam de refrigeração durante o transporte. Se os ovos ficarem mais caros e menos disponíveis para esses consumidores, isso pode representar grandes riscos sociais e de saúde”, conclui.
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