EXP, 07/12/2022
Por Mara Tribuna
Uma bactéria altamente contagiosa está a infetar mais crianças e a provocar mais mortes do que o habitual no Reino Unido. A streptococcus do grupo A está a circular a um ritmo oito vezes superior ao período pré-covid e estima-se que a culpa possa ser da pandemia. Em Portugal, a DGS e o INSA ainda não registaram qualquer anomalia e garantem estar vigilantes. Perguntas e respostas sobre esta bactéria, com a ajuda do professor de Saúde Internacional Tiago Correia
Nove crianças morreram no Reino Unido após terem contraído uma infeção por streptococcus do grupo A, uma bactéria contagiosa que, em casos raros, pode causar doença grave e levar à morte. A Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido já emitiu um alerta perante o aumento de casos, mas descarta a circulação de uma nova estirpe. Uma das hipóteses apresentadas — e a mais plausível até agora — é que a prevalência está a aumentar devido à ausência de contatos sociais, durante a pandemia, e à baixa imunidade das crianças para bactérias e vírus.
“Este aumento da prevalência está a ser estimado em mais de oito vezes em relação às atividades desta bactéria antes da pandemia”, afirma Tiago Correia, professor de Saúde Internacional. Todos os anos, no Reino Unido, entre uma a duas crianças morrem de streptococcus do grupo A durante o inverno, segundo o registo das autoridades de saúde britânicas. Este ano, desde setembro, já faleceram nove crianças.
Como se estima que a bactéria está a circular oito vezes mais rápido face ao período pré-pandémico, “é de assumir que o número de crianças que infelizmente acabam por ter manifestações mais graves também aumenta”, acrescenta o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.
Esta bactéria altamente contagiosa não é nova: costuma afetar sobretudo crianças entre os cinco e os 15 anos, encontra-se normalmente na pele e garganta, e causa por exemplo faringite, escarlatina e impetigo. Na maioria das vezes as infeções são ligeiras, mas em casos raros podem agravar-se e provocar doenças e problemas de saúde sérios. “O que está agora a surpreender é esta infeção invasiva, com manifestações mais severas da doença quando a bactéria entra na corrente sanguínea”, explica ainda.
QUAIS OS SINAIS DE ALERTA?
Os principais sintomas associados são febre persistente, dores de garganta, amígdalas inchadas e inflamadas, dor a engolir/grande dificuldade a deglutir, dificuldades respiratórias, erupções cutâneas, língua avermelhada e inchada (chamada ‘língua de morango’), ou ainda prostração por parte das crianças. Estes são alguns sinais de alerta a que os pais devem estar atentos. A bactéria é facilmente identificável através de análises.
COMO SE TRANSMITE?
“Os contágios acontecem maioritariamente através das gotículas respiratórias e do contacto direto com as lesões cutâneas”, esclarece Tiago Correia. Assim, contacto interpessoal, partilha de objetos, troca de saliva, tosse e espirros podem transmitir a infeção causada pela bactéria streptococcus do grupo A.
COMO SE TRATA?
O tratamento é feito com antibióticos. Nos casos mais graves deve haver algum tipo de vigilância e acompanhamento médico, alerta o especialista em saúde internacional. Este domingo, o ministro britânico Nadhim Zahawi avisou: “É realmente importante estar vigilante porque na circunstância muito rara de [a infeção] se tornar grave, então precisa de tratamento urgente”.
QUANDO É QUE ESTA BACTÉRIA SE PODE TORNAR FATAL?
Quando entra em partes do corpo normalmente livres da bactéria, como sangue, pulmões, medula espinhal, músculos ou articulações — é a chamada infeção invasiva por streptococcus do grupo A e é rara. Podem desenvolver-se doenças como fascite necrosante (morte dos tecidos moles) e síndrome de choque tóxico (choque e falência de órgãos). Nestes casos é preciso ajuda médica urgente.
HÁ REGISTO DE AUMENTO DE CASOS EM PORTUGAL?
Ao Expresso, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge diz não ter conhecimento de qualquer caso de streptococcus do grupo A, até ao momento, em Portugal, lembrando que este tipo de diagnóstico é feito a nível hospitalar. O INSA acrescenta que, se porventura os hospitais portugueses começarem a detetar um aumento de casos anormal, a situação é comunicada à DGS e investigada posteriormente pelo Instituto.
Também a Direção-Geral da Saúde, “atenta a todo e qualquer surgimento destes casos”, assegura que está a acompanhar o que se passa no Reino Unido e que “está montada a vigilância epidemiológica” com uma rede de médicos e pediatras. Em declarações ao Expresso, a autoridade nacional de saúde diz ainda ter capacidade de fazer análises laboratoriais a esta bactéria.
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