PP, 22/07/2022
Por Marcelo Duclos
A rede internacional de supermercados lançou há dois anos uma campanha publicitária que contribuiu para a confusão econômica da população. Isso resultou em gôndolas vazias.
Antes de mais nada, vale reiterar que sempre, sempre, sempre, o único responsável por um processo inflacionário é o governo e o uso de seu monopólio monetário. Embora o kirchnerismo argentino insista na responsabilidade dos “formadores de preços” do setor privado, quando todos os bens e serviços da economia tendem a subir, o único culpado é a entidade que emite a moeda que está sendo imposta coercivamente à população. Fazendo essa exceção, em meio a processos inflacionários, agentes privados podem contribuir para a desinformação e para o prejuízo das pessoas por diversos motivos. A campanha do supermercado Carrefour de "Preços Corajosos" é um exemplo claro disso.
Há pouco mais de dois anos, ao som épico de When Johnny Comes Marching Home, a rede de supermercados lançou uma campanha de congelamento de preços que, de certa forma, endossou a falsa tese inflacionária do governo. Como se dependesse de uma questão voluntária, a empresa prometeu a seus clientes que não aumentaria o valor de uma série de produtos por um determinado tempo, não importa o quê.
Claro que uma empresa privada não tem a obrigação de educar os cidadãos, mas, numa altura em que se insiste na “responsabilidade empresarial”, vale a pena refletir sobre a natureza antiética da publicidade que contribui para a confusão generalizada em matéria económica. O Carrefour tem todo o direito do mundo de propor a estratégia comercial que julgar adequada e de realizar as campanhas publicitárias que lhes aprouver. Mas referir-se ao drama da alta de preços, que complica os argentinos com menos recursos, como um problema que pode ser combatido voluntariamente e com esforço, com música de marcha militar ao fundo, na minha opinião é questionável.
Neste momento, em meio a uma nova escalada do dólar (com seu lógico impacto inflacionário e a mão de uma emissão descontrolada de pesos), mais do que nunca é necessário insistir em conceitos econômicos mínimos, para que os argentinos parem de buscar soluções mágicas nas urnas. Preços estáveis não vêm da mão do esforço ou do voluntariado. Eles são o resultado da liberdade absoluta de fixá-los, dentro de um quadro de livre concorrência, em um contexto de dinheiro saudável e liberdade monetária para escolher os ativos. A campanha do Carrefour, que vincula seus preços a algo rígido, é totalmente o oposto do que deveria ser a discussão de ideias no país.
Como dissemos, todas essas conclusões devem ser dadas no campo da discussão de ideias. A empresa é livre para publicar sua campanha publicitária, que na minha opinião é desinformação e contribui para a confusão geral, e eu deveria ser igualmente livre para repudiá-la vigorosamente. Vale fazer esse esclarecimento, pois, em um país de costumes estatistas e autoritários, não faltam fascistas que se propõem a proibir e multar em nome dos supostos interesses do povo.
Da mesma forma, as lojas do Carrefour já estão sofrendo o carma de sua embaraçosa campanha publicitária. As fotos do artigo foram tiradas ontem na loja Viamonte y Pasteur, onde as gôndolas vazias lembram o recente drama venezuelano. Apesar de tudo, a porta da loja exibe o cartaz desastroso dos "Preços Corajosos". No interior há escassez de todos os tipos e muitos dos produtos disponíveis são de apenas uma ou duas marcas. Se trocarmos os pesos desvalorizados dos clientes por cartões de racionamento, o cenário é de socialismo puro e simples.
É claro que a empresa não deve ser ameaçada ou multada com a desastrosa e contraproducente "lei de suprimentos", como gostariam mais de um kirchnerista ou esquerdista. Basta explicar o fenômeno que gerou esse problema repetido e tentar contribuir para a conscientização para que a situação se inverta e não se repita.
Nota do editor do blog: como empreendedores eles poderiam ter simplesmente dito não, e fechado suas portas no país, de modo que puniram o governo, e o povo trataria de puni-lo ainda mais. Mas o Carrefour fez o contrário, e aderiu alegremente a campanha. Isso não é marketing, isso é adesão ideológica e cumprimento de uma agenda política. As empresas têm seguido o compliance dos grandes organismos financeiros globais, como o Fórum Econômico Mundial, e outros formuladores (fundos de investimentos, agências de risco etc). O que é tendência é passado para vários desses grupos especializados, onde os CEOs de companhias se espelham para cumprir uma agenda, a fim de atrair investimentos daqueles que procuram empresas que seguem tendências no mercado. O Starbucks recentemente reclamou da falta de segurança nas mediações de seus cafés, porque a polícia não chega ao local, e muitos dos clientes são afugentados pela horda de viciados, ou potenciais ladrões. Mas a própria companhia havia feito publicidade para a causa do Black Lives Matter, um grupo que prega o saque e o fim da polícia. O que o Starbucks fez foi propaganda contra a própria ordem que mantém seu estabelecimento funcionando, e frequentado. A realidade é que o Carrefour sabe as políticas do presidente Fernandez são destrutivas, e o próprio Fernandez sabe. Os banqueiros internacionais não ligam que a Argentina esteja prestes a se tornar um Haiti, pois para eles, uma economia quebrada com moeda completamente sem valor é um achado, pois para fazer a transição para um novo modelo econômico, baseado na pegada de carbono, e no Crédito Social será fácil. A meta é essa afinal.
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