26 de mai. de 2022

Fórum Econômico Mundial: jornalistas escolhidos a dedo discutem liberdade de imprensa defendendo a censura na Internet



Nota do editor


O Fórum Econômico Mundial reúne centenas de chefes de estados, homens de negócios, artistas (ativistas e), ativistas e presidentes de bancos centrais do mundo, para discutir questões relevantes para a política e economia global. Eles permitem que seus convidados do mundo dos negócios e inovação deem detalhes sobre seus projetos, os quais pretendem atrelar a agenda da ONU. Em um dos painéis, o representante canadense do Grupo Alibaba (empresa chinesa pertencente ao Partido Comunista) falou sobre como estão criando um “rastreador individual de pegada de carbono” para que os próprios consumidores acompanhem seus hábitos de consumo. É como um histórico de compras do app do cartão de crédito, ou a nota fiscal após uma compra no mercado, só que com mais detalhes. Através deste sistema, todos os cidadãos estariam monitorando seus hábitos “por si mesmos”, a princípio. Mas outros tópicos interessantes também entram na discussão, como por exemplo, a liberdade de imprensa. Curiosamente, os representantes da imprensa e  jornalistas foram escolhidos a dedo, e todos eles trabalham para grandes conglomerados de mídia, principalmente nos Estados Unidos, onde a liberdade de imprensa é garantida até condição de monopólio. 

Uma questão curiosa foi posta durante a discussão: os jornalistas, que representam grandes conglomerados de mídia, saíram em sua própria defesa alegando perseguição de autocratas aqui e ali, e apontando suas canetas para um grupo específico que ameaça seu status quo. Podíamos pensar que estavam falando da China, ou de Putin e quem sabe até de Erdogan, mas não! Eles apontaram para os internautas nas redes sociais. Sim, para a grande mídia, os internautas – cidadãos comuns – são um risco para a democracia, e a liberdade de imprensa por espalhar "desinformação", ou ser suscetível a ela. Para a mídia corporativa, só pode existir liberdade de imprensa, e não de expressão e opinião, porque os que exercem essas liberdades não são profissionais, e não têm aspirações ideológicas elevadas como eles. Para eles, os intermediários e sumo sacerdotes da informação devem ser eles mesmos, e mais ninguém. O público deve-se recolher a sua própria insignificância, e ouvir calados. 

É por isso que é um erro defender a liberdade de imprensa, ao invés da liberdade de expressão: ao defender a liberdade de imprensa, nós corremos o risco de defender uma profissão, cujo corporativismo está acima da verdade, bem como a afinidade ideológica. Os interesses políticos da redação sobressaem os temas, e acabam contaminando o público. É por causa dessa visão de que existe uma diferença entre liberdade de imprensa e de expressão, que veículos de mídia e seus jornalistas tornaram-se as agências de checagem de fatos, que visam aplicar censura aos indivíduos nas redes sociais, e seus portais independentes. O  fact checking não nasceu da iniciativa das empresas de mídia social, mas dos jornalistas que exigiram uma mudança nelas. A liberdade de imprensa nada mais é do que a liberdade de expressão, pois cada indivíduo pode ser narrador dos fatos, estejam eles em que posição estiverem na sociedade. Só existe liberdade de imprensa se o jornalismo for um livre exercício, sem quaisquer amarras comerciais ou jurídicas. É nosso dever lembrar disso, e colocar jornalistas antidemocráticos em seus devidos lugares, e instar os que prezam pela liberdade a tomarem partido dela, em vez de sua profissão e seus chefes nas grandes companhias.




Euronews, 26/05/2022 


Ucrânia, fome e liberdade de imprensa. Assim termina o Fórum Económico Mundial 


A edição deste ano do Fórum Económico Mundial chegou ao fim, esta quinta-feira, com a guerra na Ucrânia a dominar quase todos os painéis de debate. 

O chanceler alemão, Olaf Scholz não fugiu à regra e perante uma plateia de líderes e empreendedores mundiais, em Davos, afirmou estar convicto de que "Putin não vai ganhar esta guerra".

Ele já falhou no alcance de todos os seus objetivos estratégicos. A tomada de controlo russa de toda a Ucrânia parece hoje mais distante do que o que estava no início, sobretudo por causa da impressionante resistência do exército e da população ucranianos

Olaf Scholz 

Chanceler da Alemanha

Os efeitos do conflito que se arrasta há mais de três meses são também uma preocupação para vários especialistas na área dos negócios.

Em entrevista à Euronews, Arancha Gonzalez, ex-diretora executiva do Centro Internacional de Comércio, destacou o "efeito cascata" da guerra, com a retenção de cereais nos portos ucranianos a agravar a crise económica mundial e a fome em vários pontos do planeta.

Os preços dos alimentos estão de novo a subir a novos máximos, depois da crise alimentar de 2008. Estamos a ter dificuldades em fazer sair os alimentos de onde eles estão, porque os alimentos existem, os alimentos estão lá, o trigo, os cereais estão lá. Temos de garantir que estes alimentos possam sair da Ucrânia, quanto mais não seja para garantir que respondemos às necessidades humanitárias.

Arancha Gonzalez 

Ex-diretora executiva do Centro Internacional de Comércio

Os desafios da liberdade de imprensa

Jornalistas, "defensores da liberdade de imprensa" e ativistas dos direitos humanos debateram esta quinta-feira como os governos e o sector privado tentam controlar uma imprensa livre e o que pode ser feito para salvaguardá-la.

No palco, Agnès Callamard, secretária-Geral da Amnistia Internacional, Sasha Vakulina, editora da Euronews, Christophe Deloire, Secretário-Geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, e Patrick Chappatte, Cartoonista Editorial e Presidente da Freedom Cartoonists Foundation, partilharam os seus receios e visões do mundo editorial, num momento em que, como recordou o representante dos Repórteres Sem Fronteiras, "pela primeira vez na história das democracias há uma distorção sem precedentes de concorrência, há agora no ecossistema digital, uma vantagem competitiva para o remorso, o discurso de ódio, o extremismo, para as pessoas que veem conspirações em todo o lado e o próprio jornalismo está enfraquecido".

Artigos recomendados: FEM e Censura


Fonte:https://pt.euronews.com/2022/05/26/ucrania-fome-e-liberdade-de-imprensa-assim-termina-o-forum-economico-mundial

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