Panampost, 22/01/2022
Por Oriana Rivas.
Por trás do conflito entre as FARC e o ELN está uma estratégia de conquista de territórios que envolve a Rússia. “Agora vemos Maduro de certa forma tentando reiniciar essa fusão da Gran Colombia, mas com um destino chavista”, explicou o especialista em segurança global Joseph Humire ao PanAm Post.
A bandeira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) tremula na margem venezuelana do rio Arauca, suas águas se dividem com a Colômbia, logo à beira do estado de Apure. Naquele território, o ano começou assediado por uma nova leva de crimes, atentados e cerca de 30 mortes nas mãos do Exército de Libertação Nacional (ELN).
A área foi historicamente controlada por este grupo terrorista que contrabandeava petróleo. No entanto, os “dissidentes” das FARC entraram em cena posteriormente com a economia ilícita do narcotráfico. A luta pelo território tornou-se uma questão que hoje ocupa as manchetes. É a explicação mais simples do conflito. Mas por trás disso há toda uma trama transnacional na qual a Rússia participaria por meio de armas e militares com a aprovação de Nicolás Maduro.
Células que rompem com as FARC, como a Segunda Marquetalia, liderada pelo terrorista de pseudônimo Iván Márquez, têm fuzis russos. Foi ele mesmo quem os mostrou em vídeo para falar em memória do ex-comandante Manuel Marulanda. Também houve confrontos sobre o controle de armas , bem como a suposta existência de soldados do Kremlin na fronteira Colômbia-Venezuela.
Recentemente, o Centro de Estudos para uma Sociedade Livre e Segura (SFS, em inglês) divulgou material audiovisual documentando a realidade que hoje abrange o departamento colombiano de Arauca. A premissa para iniciar a investigação foi: "Por que Maduro está entrando na área com tecnologia avançada da Rússia e da China?"
Os benefícios para Maduro
Um dos benefícios que esta guerra traz para Maduro na fronteira é que "dá a ele o pretexto perfeito para pedir e receber mais apoio externo da Rússia, China e Irã", explicou Joseph Humire em entrevista ao PanAm Post após viajar para a área em conflito. Em 21 de março, em Apure, soldados venezuelanos foram sequestrados, famílias deslocadas e houve assassinatos. Portanto, isso daria ao ditador uma desculpa: uma suposta defesa contra grupos que ele mesmo estaria promovendo.
Outro benefício é que a área entre Arauca e Apure é comercial. Funciona para contrabando, segundo a investigação. "A linha de fronteira só existe legalmente, mas não prática ou economicamente." Os colombianos vão, compram na Venezuela e revendem na Colômbia, e vice-versa. "Essa economia favorece Maduro, porque é a maneira pela qual grupos ilícitos podem entrar na Colômbia com mais força."
El componente simbólico
O material em questão mostra a ponte internacional José Antonio Páez, estrada que liga as cidades de El Amparo, na Venezuela, a Arauca, na Colômbia.
Em vida, o ditador Hugo Chávez mostrou seu ódio por Páez, o general venezuelano que dá seu nome à mencionada ponte e que liderou o movimento que conseguiu separar a Venezuela da Grande Colômbia de Simón Bolívar. Ele o chamou de "traidor". As diferenças acabaram por dissolver a nação que não sobreviveu mais de uma década.
“Agora vemos Maduro de certa forma tentando reiniciar essa fusão da Gran Colombia, mas com um destino chavista. Não é mais com exércitos, mas com grupos ilícitos, mudando economias, subornando outros países e apostando em governos socialistas. Se pensarmos que ele tem essa visão expansiva, é muito consistente que comece no lugar onde a Gran Colombia falhou, entre Arauca e Apure”, explicou o especialista em segurança global.
Os benefícios para Putin
Há uma lição que a América Latina deve aprender. A compra de armas russas traz consigo a necessidade de manter tecnologia e sistemas complexos que eventualmente exigem a presença russa, alertou o especialista. É o pretexto para a chegada de mais soldados de Moscou.
"Depois de 2019 eles estão chegando em maior número e agora sabemos que é para um propósito estratégico de Putin, que tem uma carta na Venezuela que pode ser jogada durante as negociações e as altas tensões internacionais sobre a Ucrânia." Sem dúvida, e acrescento que, é interessante como o complemento de armas russas atua no campo geopolítico.
A batalha da Rússia não é convencional
"Se temos esse conceito de expansão sobre Maduro e a capacidade de querer expandir a revolução bolivariana e começar a ganhar terreno, mas de forma assimétrica, então não há melhor conselheiro e parceiro do que a Rússia. Ele é o rei de fazer isso", lembrou Humire. Exemplos estão no Cazaquistão, Crimeia, Bielorrússia e possivelmente na Ucrânia.
Há outro fator a ser levado em conta: a ameaça que o governo Putin lançou contra os EUA de enviar um arsenal militar para a Venezuela e Cuba que levaria a uma ação militar. Alguns especialistas disseram que tal ataque seria caro e inviável. Mas você tem que olhar para essa maneira russa de lutar.
"Não estou dizendo que [a guerra convencional] é impossível, mas acho que esse não é o ponto. Não temos que focar nisso. O que [a Rússia] faz é enviar empreiteiros, armas, sistemas eletrônicos, campanhas de desinformação. Implementa uma estratégia multidimensional porque o objetivo é impor sua vontade. Isso é guerra, impor sua vontade a outro."
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