Euronews, 07 de novembro de 2018
A França tem a maior comunidade judaica da Europa, cerca de 550 mil pessoas. Mas, muitos judeus dizem que não se sentem em segurança no país. A família Pinto decidiu abandonar o bairro onde vivia, em Seine-Saint-Denis, nos subúrbios da capital francesa, depois de ter sido mantida refém dentro da própria casa por três homens [muçulmanos].
"Disseram-nos que éramos judeus e que tínhamos dinheiro. Ataram o meu filho, deram um pontapé nas costelas da minha mulher, bateram-me e fiquei inconsciente. Ataram-nos, no quarto, em cima da cama. Disseram-nos que nos matavam se nos mexêssemos. Quando viram que não nos impressionavam, pegaram numa chave de fendas e encostaram-na ao meu pescoço aí senti que era grave", recordou Roger Pinto.
Os suspeitos foram presos mas o medo persiste e espalha-se entre a comunidade. Uma escola judaica de Paris, que se afirmava como um local de ensino aberto a toda a sociedade, tem medo de expor os estudantes ao perigo.
"Houve uma altura em que tínhamos oito soldados armados de forma permanente. As crianças judias interrogam-se por que razão é preciso ter militares na escola?", contou Cohen Solal, diretor da instituição.
Entretanto os soldados deixaram a escola, mas, o estabelecimento é vigiado pela polícia e por um grupo de pais.
"As famílias sentem-se mais seguras, mas a segurança tem um preço, as pessoas vivem fechadas em si próprias", acrescentou o responsável.
De acordo com a investigadora Nonna Mayer, o número de atos antissemitas cresceu fortemente desde 2000, com o aumento das tensões no Médio Oriente.
"Tínhamos menos de cinquenta atos antissemitas, por ano, em meados dos anos noventa. Depois, houve um aumento espetacular desses atos por volta do ano 2000, após a Segunda Intifada. A partir daí, registámos mais de 900 atos. Os números acompanharam as grandes intervenções do exército israelita nos territórios palestinianos. Não conhecemos precisamente a identidade dos agressores. Sabemos que são homens jovens, às vezes descendentes de imigrantes. Antes, os agressores eram sobretudo pessoas de extrema-direita que nutriam um ressentimento em relação a uma comunidade vista como privilegiada", resumiu a investigadora do CNRS.
Devido ao medo, muitos decidem partir. Estima-se que todos os anos, há três mil judeus a sair de França, para ir viver, principalmente, para Israel.
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