Gospel Notícias, 31 outubro de 2018
Por Jarbas Aragão
Grupos de extremistas muçulmanos saem às ruas para exigir que ela seja executada
A paquistanesa Asia Bibi foi acusada em 2009 de ter insultado o profeta Maomé e acabou presa. Mesmo sem provas, no ano seguinte, um tribunal a condenou à morte, gerando indignação internacional.
Nesta quarta-feira (31), o Supremo Tribunal finalmente a declarou inocente. “Asia Bibi foi absolvida de todas as acusações”, anunciou o presidente do conselho de juízes Mian Saqib Nisar na leitura do veredito. Também explicou que a cristã seria libertada “imediatamente”.
Bibi, 47 anos, tornou-se um símbolo internacional da liberdade religiosa. Mesmo sem haver provas contra ela, a não ser a acusação de vizinhas muçulmanas com quem havia discutido. A cristã, que ficou presa em uma solitária durante a maioria dos oito anos de prisão, não estava em tribunal quando a sua absolvição foi anunciada.
O anúncio de sua absolvição provocou a fúria de grupos islâmicos que vinham pedindo sua execução imediata. Ao longo do dia, manifestantes reuniram-se em cidades como Karachi e Peshawar para protestar contra a decisão do Supremo Tribunal. Centenas de pessoas carregavam cartazes e gritavam palavras de ordem exigindo sua morte.
Contestando a decisão, o líder do partido islâmico Tehreek-e-Labaik (TLP) pediu também a morte dos juízes do Supremo Tribunal que decretaram a libertação. Duas semanas atrás, Zubair Ahmad, porta-voz do TLP, divulgou um vídeo ameaçando os três juízes que analisaram a apelação da defesa. “Os seguidores do profeta farão com que eles [os juízes] enfrentem seu castigo se Asia for declarada inocente”, bradou.
Lembre o caso
A lei da blasfêmia no Paquistão prevê sentenças de prisão perpétua para quem profanar o Alcorão ou de morte para quem insultar Maomé, considerado profeta pelos muçulmanos.
Apesar de sempre ter negado as acusações de ter ofendido Maomé, Asia Bibi foi condenada à morte em 2010. Ela sustentava que se tratava de perseguição religiosa. No Natal de 2016 ela afirmou que perdoava suas acusadoras. Também explicou que orava pelos “seguidores de Maomé” para que “tenham sabedoria e para que Jesus Cristo conceda a paz para o mundo inteiro”.
Ao longo dos anos, campanhas internacionais e apelos de importantes figuras políticas e religiosas (incluindo os papas Bento 16 e Francisco), ela continua detida e esta era sua última possibilidade de recurso dos seus advogados.
A defesa de Bibi sempre afirmou que ela apenas se envolveu em uma discussão com suas vizinhas e que as acusações sem provas eram questionáveis.O caso sempre dividiu o Paquistão. Dois políticos que tentaram ajudá-la foram assassinados.
A lei antiblasfêmia sempre foi alvo de fortes críticas por parte da comunidade internacional, igrejas e organizações humanitárias, mas a comunidade islâmica fundamentalista no Paquistão tem muita força e não permite que a legislação seja abolida ou alterada. Sempre que isso é sugerido, promovem-se manifestações e até atos de violência.
Apesar de ninguém ter sido executado no país desde que a lei religiosa foi instituída, muitos dos que são acusados acabam por ser mortos enquanto aguardam julgamento ou mesmo depois de terem sido libertados.
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