1 de mai. de 2018

A Grã-Bretanha ainda é um país livre?




Townhall, 26 de abril de 2018. 






Mesmo como um firme crítico do sistema de saúde socialista do Reino Unido, eu felizmente admitirei ser um anglófilo completo. Eu adoro os nossos primos amados e aliados próximos do outro lado do oceano. Eu gosto de visitar o Reino Unido, de Londres a Birmingham e Edimburgo. Acredito que a “relação especial” entre nossos dois países é um dos pilares da segurança global. Sou um ávido consumidor de programas de televisão britânicos, desde o Bake Off até Broadchurch. E acima de tudo, eu amo o povo britânico caloroso, inteligente e acolhedor. Até mesmo a comida deles melhorou. Por isso, é realmente difícil avaliar essa questão nos últimos dias: a Grã-Bretanha ainda é um país livre que valoriza os valores democráticos ocidentais? Entre esses princípios centrais, destacam-se a proteção da vida humana inocente, a liberdade de expressão, e a capacidade de cidadãos livres de cuidarem de suas vidas diárias sem interferência indevida ou pesada do Estado. Enquanto os britânicos continuam – e devem permanecer – os nossos amigos íntimos, e enquanto nossos interesses nacionais ainda se alinham de muitas maneiras, não posso deixar de olhar com tristeza e repulsa ocasional como o Estado britânico parece cada vez mais considerar e tratar os seus cidadãos como vassalos. 


O povo do Reino Unido ainda é capaz de eleger seus líderes e impor mudanças dramáticas, é claro, então seria um exagero grosseiro comparar seu governo (como fazem alguns críticos) a um regime totalitário. Mas uma série de histórias e incidentes recentes levantaram sérios temores em minha mente sobre se a Grã-Bretanha está se tornando algo diferente – algo menos que – de um país verdadeiramente livre. Vou apresentar vários exemplos e permitir que os leitores tirem as suas próprias conclusões a respeito dessa preposição provocativa, começando com: 

(1) O tratamento desumano de Alfie Evans e sua família. Muitos americanos podem se lembrar do caso de Charlie Gard a partir de 2017, em que os pais de um jovem doente foram ordenados pelo governo a não viajar para os Estados Unidos para procurar um tratamento inovador para a condição extremamente grave do filho. Depois de uma prolongada batalha legal, o estado prevaleceu. O jovem Charlie Gard não foi autorizado a deixar a Grã-Bretanha, os cuidados cessaram e ele morreu. Uma saga semelhante e grotesca caracterizada por outro bebê em estado terminal está acontecendo hoje: 
O pai de Alfie Evans, de 23 anos, disse a repórteres na terça-feira que está dando à criança reanimação boca a boca depois que o hospital retirou o suporte de vida do bebê. “Tanto Kate quanto eu tivemos que lhe dar reanimação boca a boca. Estávamos fazendo o que uma enfermeira deveria fazer para sustentar sua vida”, continuou ele. “Agora eles estão dizendo que ele parece muito melhor, mas todos nós sabemos que ele deveria estar na Itália agora”. O suporte de vida de Alfie foi retirado na tarde de segunda-feira, e agora ele está recebendo apenas oxigênio. Os médicos ficaram “chocados” que a criança continuou a respirar por conta própria perto das 24 horas depois que ele foi retirado do suporte de vida, disse o pai dele. Um juiz do Supremo Tribunal negou na segunda-feira o pedido de última hora dos pais para que pudessem levar o seu filho, que tem uma doença neurológica degenerativa, à Itália para tratamento após a decisão do Hospital Infantil Aldery Hey de que a alimentação do menino fosse retirada. Conforme os desejos de seus pais… A Itália concedeu ao bebê a cidadania de emergência na segunda-feira, mas seus pais ainda não podiam legalmente transportá-lo para fora do país. O juiz classificou a iniciativa da Itália de conceder cidadania a Alfie como “desrespeitosa aos princípios da diplomacia internacional”, e disse que os defensores dos pais lhes deram conselhos “enganosos” sobre o filho. 
Como se atreve… Itália? É difícil exagerar quão distorcida é essa atribuição de opróbrio moral. Sim, a condição do pequeno Alfie é terrível e suas chances de sobrevivência são insignificantes. Mas há médicos na Itália dispostos a oferecer tratamentos experimentais sem nenhum custo para a família, com um jato de prontidão para levá-los para fora do Reino Unido. As chances de recuperação do menino podem ser próximas de zero (talvez especialmente depois dos atrasos impostos pelo Estado), mas, independente do resultado médico, parece-me indizivelmente escandaloso que os tribunais britânicos tenham autoridade para ordenar que os seus próprios cidadãos livres sejam efetivamente feitos reféns dentro do Reino Unido até que o seu bebê tenha sido sufocado até a morte. Como a família de Charlie Gard, suas viagens internacionais e assistência médica suplementar não teriam custado nada aos contribuintes britânicos, mas os Evans estão sendo privados da liberdade básica de ir e vir – embora contra pesadas dificuldades – para salvar a vida de seu filho. Se Alfie fosse saudável, seus pais seriam inteiramente livres para levá-lo a Disneyworld, ou qualquer outro lugar. Mas ele está doente, então eles estão proibidos de levá-lo para o outro país para explorar tratamentos alternativos? É insondável, caprichoso e cruel. Seus apoiadores ficaram cada vez mais desesperados e furiosos, como se poderia imaginar. Como resultado de estarem se envolvendo
Tradução:



Eu nem tenho certeza se é um exagero. Ao longo desta provação, tenho lutado para entender por que um governo seria tão insensível e hostil aos desejos de uma família desesperada. Allahpundit oferece uma teoria arrepiante que temo ser mais ou menos correta: “A única razão concebível para o Reino Unido se recusar a deixá-lo ir é porque eles estão com medo de que ele realmente possa ser tratado com sucesso. Se eles estiverem errados em uma questão de vida ou morte que agora está sendo vista internacionalmente, ninguém jamais confiaria em uma avaliação do fim da vida útil do sistema NHS novamente. Deixá-lo ir exigiria que os sistemas judiciários e de saúde britânicos fizessem a única coisa que as burocracias erram ao fazer, sabendo como isso enfraquece a sua autoridade institucional: eles teriam que admitir que estavam errados. Eles não podem fazer isso”. Doentio. Por acaso, se fosse um filho do ministro do governo, ou dos celebrados bebês reais, uma única pessoa viva duvida que todo o esforço seria esgotado em nome dessas famílias? Desculpe, pessoas comuns, o governo controla como e onde o seu filho deve morrer. Você não pode  falar nada sobre isso, você só deve obedecer. 

(2) Nós já compartilhamos essa história de um homem de 78 anos que foi preso por assassinato depois de esfaquear um criminoso que estava tentando roubar a sua casa. Detalhes: “Um dos assaltantes, que estava armado com uma chave de fenda, forçou o proprietário a entrar em sua cozinha enquanto o seu cúmplice subia. Os detetives acreditam que uma luta ocorreu entre um dos homens e o dono da casa. O intruso foi esfaqueado na parte superior do corpo”. Sob pressão e depois deu m protesto, os policiais decidiram não prosseguir com o caso, mesmo depois que alguns partidários construíram um santuário memorial ao criminoso falecido do lado de fora da casa [do proprietário da casa]. Mas a questão é a seguinte: a Grã-Bretanha não só desarmou os seus cidadãos de armas de fogo, mas está intensificando os esforços de “controle de facas”, o que é extremamente tão ridículo quanto parece. Os britânicos ainda têm algum direito significativo a autodefesa? Ou tentar proteger suas vidas e propriedades – especialmente com utensílios proibidos – se tornará outra forma de ir para a prisão? Quando o Estado é o Grande Protetor (exceto para pessoas como Alfie Evans, é claro), todos os outros estão condicionados a pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa de modo a achar “melhor” deixar nas mãos das autoridades. Mesmo se alguém estivesse sendo morto ou estuprado, pelo menos ela o faria em conformidade com os decretos do governo. Sofra pela rainha e o país, ou então.

(3) Em seguida, há o caso do homem britânico que foi mandado para a prisão por oito meses como punição por ter mostrado o dedo para uma câmera de trânsito e usado um bloqueador de radar para frustrar a confusão da receita [imposto, indústria da multa] do estado babá:

Se você quiser ficar fora da prisão, não “desrespeite as nossas câmeras de segurança móveis”. Bloquear um objeto inanimado que representando uma pequena porção do poder do Estado é um crime grave. A palavra “assustador” não é suficiente para classificar isto.  


A maior força policial da Grã-Bretanha criou uma polêmica unidade – apelidada de “polícia do pensamento” pelos críticos na noite passada – por investigar supostos comentários ofensivos na Internet. Ela [a unidade] será apoiada por um exército de voluntários [online] treinados para buscar qualquer coisa que julguem inadequada nas redes sociais como Facebook e Twitter. Eles então reportarão aos policiais que tentarão rastrear os culpados e possivelmente processá-los, de acordo com um relatório visto pelo The Mail on Sunday. A Scotland Yard está gastando 1,7 milhão de libras esterlinas para montar sua equipe do Twitter, que terá cinco detetives administrando-a. O estabelecimento da nova unidade vem depois de uma onda de relatos de abuso racista e sexista nas mídias sociais, com alguns trolls presos por fazer ameaças de morte contra os deputados. Mas também houve casos de grande repercussão em que a polícia foi acusada de ser muito agressiva ao prender e processar pessoas simplesmente por fazer piadas

As prisões por “discurso de ódio” dispararam nos últimos anos, com “incidentes de ódio” dignos de investigação por serem definidos de forma muito ampla: 

Os membros do Parlamento também participaram do ato orwelliano. 

(5) Há essa convicção alucinante de que o “crime de ódio” de um jovem que postou letras musicais em seu Instagram privado como uma homenagem a um menino que foi morto em um acidente: 

Uma adolescente que postou letras de Rap que incluíam linguagem supostamente racista no Instagram foi considerado culpado de enviar uma mensagem grosseiramente ofensiva. Chelsea Russell, de 19 anos, de Liverpool, publicou a letra de I’m Trippin’, de Snop Dogg, para homenagear um menino que morreu em um acidente na estrada, segundo um tribunal, Russell argumentou que não era ofensivo, mas recebeu uma advertência da comunidade. Os promotores disseram que sua sentença foi aumentada de uma multa para uma ordem de serviço comunitário como se fosse efetivamente um "crime de ódio”. Ela foi acusada depois que a polícia de Mereyside enviou anonimamente um screenshot da atualização do seu perfil… Membros do Centro de Justiça de Liverpool, estiveram na Corte de Magistrados de Sefton, que ouviu Russell após postar letras em sua conta de rede social depois da morte de um menino de 13 anos em um acidente de trânsito em 2017, informou o Crown Prosecution Service. As palavras que Russell usou em sua conta continham um rótulo racial que algumas pessoas acharam extremamente ofensivo. A imagem foi passada para a chefe da unidade de crimes de ódio politicamente correta Dominique Walker, que disse ao tribunal que o termo era “grosseiramente ofensivo” para ela como uma mulher negra e para a comunidade de modo geral. O Liverpool Echo relatou que a defesa de Russell argumentou que o uso da palavra mudou ao longo dos anos e que foi usado pelo rapper Jay-Z “na frente de milhares de pessoas no Festival de Glastonbury”. 

Essa defesa não funcionou. A menina foi considerada culpada de crime de ódio – sim, realmente – e recebeu a seguinte sentença: “Ela recebeu uma ordem de serviço comunitário de oito semanas, recebeu um toque de recolher de oito semanas e pagou 500 libras e £ 85 sobretaxa da vítima". A formulação “sobretaxa da vítima” quase parece paródia, mas temo que o clima de liberdade individual na Grã-Bretanha esteja passando do ponto de paródia. Ao contemplar a minha pergunta original, também poderei sobre essa ideia de despedida: se você fosse um amigo ou familiar de Alfie Evans hoje, estaria sujeito a ser acusado e processado por objetar “abusivamente” ao tratamento ( ou à falta dele), ou por citar as letras de uma música em memória de alguém próximo falecido a qual pode ser considerada inadequada por algum tribunal de forma inexplicável. Este é um perigo legal [na forma de lei ou instituição] muito mais grave do que qualquer burocrata ou magistrado que ordenou que o senhor e senhora Evans permanecessem na Grã-Bretanha até que o seu filho morresse, obrigando-os a abrir mão de oportunidades médicas financiadas pelo setor privado em outros lugares. Quão profundamente, surpreendentemente isso é perverso. Pessoas livres têm um senso geral de como é a liberdade, e não é isso. 

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