MAGG, 01 de março de 2018.
“A minha geração está arredada do poder. Na Direita, temos de olhar com atenção para os mais novos”
Sofia Afonso Ferreira é fundadora do D21, movimento que quer ser um partido liberal de Direita. Leia a entrevista e conheça os seus ideais.
Faz 41 anos a 3 de março e acredita que a classe política em Portugal precisa de dar ouvidos a uma nova geração. Sofia Afonso Ferreira é a fundadora do Democracia21, um movimento liberal encostado à Direita, que se encontra em fase de recolha de assinaturas para se formar oficialmente partido, embora defenda algumas posições tradicionalmente próximos da Esquerda, como a adoção e casamento gay ou o direito à morte assistida.
Com um passado ligado à imprensa e à comunicação, a fundadora do D21 dedica-se atualmente à construção deste novo partido, enquanto mantém funções como consultora de comunicação em regime de freelancer.
A MAGG entrevistou Sofia Afonso Ferreira, que quer mais mulheres na política, embora seja contra o sistema de quotas, e critica sem medos a nomeação de Elina Fraga para vice-presidente do Partido Social-Democrata, considerando-a “uma escolha insólita”.
O que é a Democracia21?
A Democracia21, ou D21, é uma plataforma de movimento cívico. Temos neste momento duas mil assinaturas recolhidas num mês e esperamos em abril/maio entregar o pedido de constituição de partido no Tribunal Constitucional.
Fechada essa etapa mais “burocrática”, que confesso que não ajuda em nada ao surgimento de pequenos partidos, vamos apresentar ao longo do ano, no nosso site (já registado em www.democracia21.pt, que estará online nas próximas semanas) e na imprensa, propostas de medidas em várias áreas.
Para tal estamos a constituir vários grupos de trabalho, da Economia à Saúde, que vão estar a trabalhar ao longo deste ano e até às próximas eleições, as Europeias, em maio de 2019.
Como surgiu a ideia de criar este novo partido, assumido como liberal de Direita?
Sim, definimos o D21 como um movimento liberal encostado à Direita. Basicamente, a ideia surgiu com seis pessoas, três homens e três mulheres, que sentiam a falta de um partido liberal de Direita. Há muitos anos que se fala de um movimento do género no espectro político português, até já existiram várias tentativas, mas nunca vingaram — acabam por se encostar à Esquerda, onde já existem muitos partidos formados.
Quando vivemos numa democracia, o governo serve as pessoas e não o contrário.”
Depois de dez anos a ver tentativas goradas de formar um partido com estas características de Direita, decidi arregaçar as mangas e avançar. O D21 é na sua maioria constituído por pessoas originárias do PSD, CDS e independentes. Somos a favor de uma maior participação dos independentes por acreditarmos que temos excelentes profissionais em várias áreas no País que têm de ser ouvidos, para além de uma filiação ou cor partidária.
São um movimento à Direita, mas defendem ideais muitas vezes conotados com a esquerda.
Há coisas que para mim são questões da sociedade, onde acho que o Estado não deve interferir. É verdade que defendemos questões como o casamento e adoção gay e a eutanásia, mas olho para estes temas como escolhas pessoais. Quando vivemos numa democracia, o governo serve as pessoas e não o contrário. Os cidadãos é que têm de ter o poder de decisão nessas temáticas e tudo tem de ser regulamentado de outra forma.
Podemos então afirmar que o D21 é a favor da eutanásia?
Sim, somos a favor, e atenção que esta é uma questão que vai ser muito discutida este ano. Infelizmente, há pessoas a sofrerem com doenças muito graves e, caso seja esse o seu desejo, deveriam poder optar por escolher morrer nas suas condições, com dignidade. Não deveria ser o Estado a impor aos cidadãos que não podem ter uma morte assistida, mas deveria, sim, mais uma vez, ser uma escolha das pessoas. Nesta e outras questões, somos muito liberais.
Constituído o partido Democracia21, quais serão as medidas a apresentar aos cidadãos?
As nossas prioridades prendem-se com reformas profundas nas áreas da Justiça, Saúde e Educação; redução de impostos e do peso do Estado e consequente defesa de maior poder de decisão por parte dos cidadãos.
Sou filha de advogados e oiço falar de uma reforma na Justiça há anos e parece que não há maneira de chegarmos lá. No setor da Saúde, também estamos a entrar por um caminho muito errado, acho mesmo que há aqui qualquer coisa a falhar. Temos atualmente um atraso de 11 meses em pagamentos a fornecedores hospitalares, e esta má organização só pode vir de decisões péssimas. Quando o setor da Saúde se atrasa nos pagamentos isto coloca em causa todo o sistema. E este é apenas um exemplo de questões de bom senso e gestão que têm faltado no nosso país.
Em Portugal, a minha geração está arredada do poder e, principalmente na Direita, temos de olhar com atenção para as pessoas mais novas.”
Acho que é imperativo arranjar outra solução que não apenas o aumento de impostos para colmatar a má organização, tudo isto tem de ser visto de outra maneira.
O D21 dirige-se a um grupo especifico da população?
Era o partido que gostava que tivesse aparecido quando eu tinha 25, 30 anos. Falamos para a população ativa, a geração dos 30, 40, 50 anos, que paga impostos de uma forma bastante pesada — e acho também que esta geração tem pouca expressão nos partidos de Direita.
Sigo com atenção o percurso da Assunção Cristas no CDS, mas no geral não concordo que esta faixa etária esteja bem representada. Por exemplo, ainda na mais recente eleição do PSD, os candidatos eram Pedro Santana Lopes e Rui Rio, ambos pessoas que estão na política há 40 anos. Não vejo qualquer problema com esta questão, mas demonstro preocupação em não ver ninguém da minha geração representado.
Recentemente estive na Alemanha e tive a oportunidade de apertar a mão ao Emmanuel Macron, que tem 40 anos. E na altura pensei que este era um momento quase insólito. Estava perante mim alguém que é mais novo que eu cerca de dois anos e é Presidente da França, um país que é um dos pilares da Economia da Europa.
Em Portugal, a minha geração está arredada do poder. Na Direita temos de olhar com atenção para os mais novos, formar para o futuro. É esta geração, a minha, que está e vai suportar uma situação muito complicada, em que cada vez há mais reformados e menos bebés a nascer.
É por isso que na D21 falamos para a população ativa, para esta geração que devia ter uma boa representação. Queremos ter um maior diálogo com estas pessoas, que pagam impostos. Até porque estamos cada vez mais a aumentar a idade da reforma e é completamente absurdo estarmos a aproximar-nos cada vez mais dos 70 anos quando deveríamos seguir outros caminhos, e temos o exemplo francês, que reduziu a idade da reforma em vez de aumentar.
Gostaria de ver mais mulheres na política portuguesa?
Acho que deveriam existir mais mulheres em todo o lado, não só na política — até porque as mulheres representam 52 por cento da população.
Na área da paridade, apresentámos a 9 de fevereiro um inquérito nacional às mulheres numa conferência de empreendedorismo feminino, o Paridade21, onde abordamos várias questões desde a descriminação profissional e salarial até à representação no parlamento e nos partidos. No final da consulta, pretendemos elaborar várias propostas de medidas para implementar na área da paridade.
Elina Fraga esteve contra membros do antigo governo PSD, fez uma defesa acérrima de José Sócrates. Acho que foi uma escolha insólita por parte de Rui Rio.”
Vamos realizar o primeiro evento de rua a 8 de março, Dia da Mulher, com uma ação sobre a disparidade salarial entre mulheres e homens em Portugal, que é de 17,8 por cento. Mas é importante realçar que no D21 somos completamente contra o sistema de imposição de quotas. Concordamos em lutar pelas coisas, em dar mais oportunidades às mulheres na política, mas que devemos chegar lá pelo mérito.
Elina Fraga é a nova vice-presidente do PSD. O que achou desta nomeação?
Não me parece que tenha sido a melhor escolha e nada tem a ver com o facto ser mulher. Diria a mesma coisa de um homem nomeado nas mesmas circunstâncias. Elina Fraga esteve contra membros do antigo governo PSD, fez uma defesa acérrima de José Sócrates. Acho que foi uma escolha insólita por parte de Rui Rio.
Qual é a sua opinião sobre a atual classe política portuguesa?
Falando apenas do que me diz mais, considero que atualmente existe uma grave crise na Direita. Está no ar este dilema se o PSD se vai virar para um acordo com o PS, o que a meu ver seria péssimo. Acho que o CDS tem feito um trabalho meritório, a Assunção Cristas também tem tido um caminho interessante mas precisamos de mais ideias e de uma nova geração na Direita, precisamos de chegar a 2019 com renovação.
Com o D21 queremos trabalhar para uma reformação da Direita portuguesa, desmistificar o liberalismo e contribuir ativamente para um novo discurso.
Nota do editor do blog: em Portugal, o grupo majoritário é a esquerda; seja na cultura ou na política. Em minha sincera opinião, acredito que muitas pessoas não vêem a necessidade de uma oposição, visto que os atuais partidos estão comprometidos com a integração europeia, além de subscreverem o programa liberal que, “coincidentemente”, corrobora com a agenda da esquerda que é o da liberação das drogas, aborto, “casamento” gay, eutanásia, bem como a ideologia de gênero. Esse grupo surge dizendo que “definimos o D21 como um movimento liberal encostado à Direita”, que faz exatamente como a esquerda, subscrevendo toda a sua programação. Assim sendo, Portugal não terá uma oposição legitima, mas uma oposição com pressa de implementar a mesma agenda que os seus adversários. Eu espero que você que está lendo esse artigo já tenha em mente mais essa tapeação travestida de partido político, e que não caia no engodo de alguns luminares tupiniquins, que com toda certeza farão marketing e louvarão esse grupo. Fique atento!
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