Aleksandr e Stefan Vlahov Micov à direita |
BI, 05/03/2018.
O filósofo russo Alexander Dugin emocionou uma audiência em Skopje com sua mensagem de que o liberalismo ocidental falhou – e que os macedônios devem colocar a sua fé na fraternidade eslava.
Cerca de 400 pessoas abarrotaram a sala de conferências no Hotel Continental de Skopje no sábado, muitos dos quais ficaram de pé.
Havia lá para ver a estrela convidada do evento, o analista, estrategista e filósofo russo Alexander Dugin, um filósofo russo que foi referido como o “filósofo favorito” do presidente russo, Vladimir Putin.
Dugin, junto com outro proeminante analista russo, Leonid Savin, foram convidados no painel organizado por um pequeno partido pró-russo, a Macedônia Unida – que escolheu esse nome aparentemente em referência ao próprio partido de Putin, o Partido Rússia Unida.
Embora os convidados russos não estejam listados entre os conselheiros oficiais de Putin, muitos veem Dugin como o principal “ideólogo” ou “cérebro” do Kremlin.
De qualquer forma, Dugin se opõe fortemente aos valores liberais ocidentais e defende uma irmandade pan-eslava alternativa, que inclui o fortalecimento da União Econômica Eurasiática liderada pela Rússia.
Ele próprio disse que estava na Macedônia em uma missão não-oficial, como um “diplomata conhecido” da Rússia.
O Ocidente deve parar de exportar a sua ideologia “fracassada”.
Dugin disse à audiência que o “Ocidente está falhando, ao lado da União Europeia, observando a decisão da Grã-Bretanha de deixar a União Europeia e o surgimento do euro-ceticismo na Polônia, Grécia, Itália e Hungria. A Turquia já descartou a ideia de uma adesão à União Europeia”, afirmou.
“Quando eles lhe dizem que não há alternativa para a União Europeia e a OTAN, isso representa a chantagem, a humilhação e a colonização”, acrescentou, exortando o Ocidente a se ocupar com os seus próprios problemas em vez de espalhar a sua “ideologia fracassada”.
O público ouviu atentamente, rompendo em aplausos e gritos de “Rússia, Rússia”, durante cada breve intervalo [de sua fala].
“A ideologia liberal é totalitária. Quer destruir tradições. Muitas nações descartam isso [liberalismo] para proteger sua cultura, idioma e religião. Estamos satisfeitos pela Rússia ter se tornado um símbolo deste processo”, continuou Dugin.
“Nós dizemos a vocês que vocês têm uma alternativa e que cada nação deve escolher por si mesma. Não importa a sua decisão, vocês permanecerão nossos amigos e irmãos, mas vocês devem se tornar livres para tomar essa decisão”.
Os altos agradecimentos a cada menção a Rússia e Putin continuaram durante o discurso do outro convidado russo, Savin.
Ele insistiu que a União Econômica Eurasiática era uma força democrática, ao contrário da União Europeia.
“A criação da União Europeia baseou-se numa falsa ideologia do medo. Foi criada para que certos países ocidentais deixassem de guerrear uns com os outros”, disse Savin, acrescentando que “Bruxelas é o satélite de Washington”.
Por outro lado, ele disse, a respeito da União Econômica Eurasiática, “vocês terão integração baseada no respeito, não importa se o país tem 2 milhões ou 200 milhões de pessoas”.
Savin chamou a União Europeia de “uma síntese de diferentes soberanias”, baseada na tomada de decisão consensual.
“Se um estado-membro não aceitar algo, essa coisa não é implementada. Essa é uma democracia real”, disse ele.
Ele argumentou que se a Macedônia escolhesse se juntar ao clube liderado pela Rússia, sua identidade e tradições seriam preservadas, o que pode não ser o caso – como ele disse – se o país se juntasse à OTAN e a União Europeia.
Ele estava se referindo à pressão europeia e americana sobre a Macedônia, para que resolva a disputa de longa data sobre o seu nome com a Grécia se deseja avançar em suas perspectivas euro-atlânticas.
Isso também pode resultar em a Macedônia ter de mudar o seu nome.
União Europeia e OTAN são comparados ao “Quarto Reich”.
Um dos anfitriões do evento, o vice-presidente do partido não-parlamentar da Macedônia Unida, Stefan Vlahov Micov, foi menos contido do que os seus convidados russos ao falar sobre o Ocidente.
Ele chamou os Estados Unidos, a OTAN e a União Europeia de “o Quarto Reich fascista”, teorizando que os Estados Unidos querem guerra com o “mundo livre” - definido como sendo a Rússia, China, Irã e outros países – além da aniquilação da Sérvia e da Macedônia.
“Os Estados Unidos estão determinados a entrar em guerra com a Rússia até o último europeu em pé, e com a China até o último asiático [em pé]”, disse.
Ele pediu à Macedônia que se liberte das “garras anglo-saxões” e se junte a uma união pan-eslava onde “naturalmente pertence”.
Alguns na audiência tentaram bajular os convidados russos falando em russo ou entregando pinturas de ícones cristãos ortodoxos.
Muitos deles pediram à Rússia para ajudar a Macedônia a resistir a pressão para mudar o seu nome, caso o atual governo de centro-esquerda sob Zoran Zaev chegue a um acordo com a Grécia.
Mas Dugin advertiu que a Rússia só poderia ajudar países que buscam ajuda.
“Para ajudar alguém, ele deve pedir ajuda antes”, disse Dugin, insistindo que Moscou não interfere antes de receber um pedido oficial de outro país.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, “veio à Rússia e pediu ajuda e a Rússia correspondeu enviando nossos heróis para a Síria para lutar e morrer pelo povo fraterno sírio”, ele citou, como exemplo.
Embora desprezando o liberalismo ocidental, Dugin insistiu que a melhor maneira de vencê-lo envolve o uso de alguns dos seus próprios métodos preferidos, como agitação de rua e campanhas de redes sociais.
“Quando [o filantropo bilionário George] Soros não gosta de algum governo, ele leva as pessoas para as ruas. Devemos usar os mesmos métodos – as redes sociais são um bom campo de jogo e também servem para protestos”, disse ele ao público.
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