Expresso, 13 de março de 2018.
Por Paula Cosme.
Porque é que todos os homens devem apoiar os direitos das mulheres e a igualdade de género? António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas explica
Ontem, o atual secretário-geral da ONU juntou a sua voz à de outros líderes como Justin Trudeau ou Barack Obama ao reforçar publicamente que é “feminista, com orgulho”. Porque é que isto é importante? Bom, usando as palavras de Guterres, porque “as Nações Unidas têm a responsabilidade de dar o exemplo ao mundo”. Tal como qualquer líder que preze a paridade de direitos, oportunidades e dignidade dos seus cidadãos e cidadãs deveria dar.
Já no passado dia 8 de março, o ex-primeiro-ministro português tinha deixado claro num belíssimo artigo de opinião publicado no jornal Público que a promoção dos direitos das mulheres “não é um favor às mulheres”. Ontem, voltou a passar a mesma mensagem, sem deixar de lado a autocrítica à organização que atualmente representa, chegando mesmo a meter o dedo na ferida no que toca não só à desigualdade de representação masculina e feminina nas Nações Unidas (a paridade nos cargos de direção tem sido uma resolução bem sucedida de Guterres) , como também nas gravíssimas denúncias de casos de violência sexual sobre mulheres sírias, perpetrados por funcionários humanitários, que operam em nome da ONU.
AS IDEIAS-CHAVE DO DISCURSO DE GUTERRES
Num discurso totalmente marcado pela referência à podridão dos poderes instituídos, dominantemente masculinos, as palavras de Guterres não foram apenas dirigidas aos que participavam nesta sessão – que este ano é dedicada ao empoderamento das raparigas e mulheres rurais – mas também a todos nós. Se têm dificuldade em perceber porque é que assumirmos coletivamente que a luta contra a desigualdade e violência de género é uma responsabilidade que recai sobre todos nós, talvez as palavras de Guterres vos ajudem a compreender melhor. Podem ler tudo que ele disse ontem clicando AQUI, ou então espreitar este conjunto de ideias chaves que retirei do seu discurso para partilhar convosco.
- “Vamos ser claros, o problema fulcral que enfrentamos é uma questão de poder. Normalmente o poder nunca é dado, precisa de ser conquistado. Vivemos em um mundo dominado pelos homens, com uma cultura dominada pelos homens. E é por isso que o empoderamento das mulheres e das raparigas é nosso objetivo central comum”.
- “Séculos de patriarcado e de discriminação deixaram-nos um legado prejudicial. As atitudes e os estereótipos sexistas são perpetuados nos governos, no setor privado, na academia, nas artes, na ciência e na tecnologia, e mesmo na sociedade civil e nas organizações internacionais como as Nações Unidas”.
- “As mulheres são pioneiras na ciência e na matemática - contudo ocupam menos de 30% dos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo. As mulheres são artistas, escritoras e cineastas. Mas este ano, 33 homens levaram para casa os prémios da Academia, e apenas 6 mulheres. As mulheres são empresárias e comunicadoras dotadas - contudo, nas Nações Unidas, a proporção de mulheres embaixadoras paira em torno de 20%. Apenas quando conseguirmos mudar estatísticas como estas é que poderemos dizer verdadeiramente: estamos numa nova era para mulheres e meninas”.
- “Ao construirmos igualdade, damos às mulheres a chance de realizarem o seu potencial. E também construímos sociedades mais estáveis. A participação das mulheres na tomada de decisões torna os acordos de paz mais fortes, as sociedades mais resilientes e as economias mais vigorosas”.
- “Falamos muitos vezes de empoderamento feminino. Quando as mulheres já estão a tomar medidas, ainda precisamos de as saber ouvir e de as apoiar”.
- “Prevenir e acabar com a violência contra mulheres e meninas e elevar mulheres marginalizadas, mulheres indígenas, mulheres em comunidades rurais e mulheres refugiadas e migrantes, impulsionar-nos-á todos e assegurará que ninguém seja deixado para trás”.
- “O progresso das mulheres e das meninas significa mudar as dinâmicas de poder desiguais que sustentam a discriminação e a violência. Este não é apenas o maior desafio dos direitos humanos do nosso tempo. Também é do interesse de todos”.
- “Das escolas às empresas, dos auditórios aos laboratórios, nos filmes, na publicidade e anos media, temos de deixar isto claro: as capacidades das mulheres são ilimitadas. As ambições das mulheres são infinitas”.
- “A discriminação contra as mulheres prejudica comunidades, organizações, empresas, economias e sociedades. É por isso que todos os homens devem apoiar os direitos das mulheres e a igualdade de género. E é por isso que me considero orgulhosamente feminista”.
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