2 de abr. de 2017

“Adeus, Pequim!”: mensagem sincera de jovem cientista faz a China refletir

Crianças numa escola primária em Pequim em 13 de março de 2012. A situação difícil de um pai chinês, compartilhada num post online recentemente, foi ressoada por muitos na China. 



EpochTimes, 02 de abril de 2017. 



O seguinte texto foi publicado em resposta a pergunta: “O extremamente alto preço da habitação em Pequim destruiu a criatividade e a paixão da geração jovem?” A questão foi postada no início de março no Zhihu, um sítio chinês da rede sobre perguntas e respostas, popular entre a juventude. Apesar de ser um destacado pesquisador, o autor discute como políticas governamentais relacionadas à habitação e residência levaram-no ao desespero e a deixar um emprego renomado. Sua resposta ganhou mais de 27 mil “curtidas” entre mais de 4.500 respostas e foi amplamente difundida e apoiada na internet chinesa. Ela ressoou com tantos chineses porque retrata a situação de um indivíduo que, em teoria, fez tudo certo e deveria, portanto, ser um beneficiário do sistema da China. Oferecemos a tradução como uma janela sincera para a sociedade chinesa contemporânea. – Equipe de tradução do Epoch Times.


Graduei-me na Universidade de Pequim [com ampla reputação como uma das melhores da China] com mestrado e doutorado, e tenho trabalhado na Academia Chinesa de Ciências em Pequim por três anos. No início deste ano eu renunciei ao meu emprego e me mudei para Nanjing para trabalhar numa universidade lá.

Por que eu deixei Pequim? Havia muitas razões, mas todas convergem na questão da habitação.

Muitos internautas dizem que se sentem desesperados porque os aumentos de salário não podem acompanhar o aumento dos preços da habitação em Pequim. Mas para mim, este não foi o fator mais importante. Afinal, eu tinha escolhido uma posição de pesquisa na Academia de Ciências que pagava menos de 10 mil yuanes (1.450 dólares) por mês numa indústria de altos salários; eu estava psicologicamente preparado para me contentar com uma baixa renda. Eu finalmente decidi sair quando meu filho estava prestes a alcançar a idade escolar.

A inscrição numa escola primária de Pequim é tratada por vizinhança de acordo com o grau de prioridade do registro residencial [conhecido como “hukou” em chinês] dos pais e seu status de segurança social.

Por exemplo, minha esposa e eu erámos classificados como No. 6, pois eu alugava uma residência e trabalhava no bairro. Nosso status era somente um nível mais elevado do que algumas populações móveis que não possuem propriedade local, como barbeiros de rua e vendedores ambulantes de vegetais.

Em anos anteriores, durante a era da economia planificada, os funcionários da Academia de Ciências desfrutavam de benefícios para a educação de seus filhos. Naquela época, as escolas primárias de renome nacional em Zhongguancun [um centro de tecnologia famoso em Pequim] costumavam ser afiliadas à Academia, e filhos de funcionários da Academia frequentavam essas escolas.

No entanto, com o aumento dos preços da habitação em bons distritos escolares, essas escolas afiliadas foram atribuídas à Junta Distrital de Educação. Já não havia qualquer relação com a Academia de Ciências, e o governo em vez disso atribuiu algumas escolas fracas em outras áreas para serem afiliadas à Academia.

De alguma forma, eu ainda podia suportar essa mudança. Afinal, a escola local e a Academia prometeram que os filhos de funcionários da Academia poderiam frequentar essas escolas. Mas a realidade era diferente: nem todas as crianças de funcionários da Academia tinham comparecimento garantido nessas escolas, porque a prioridade era para as crianças que viviam naquele bairro. Ninguém foi capaz de me dizer o que aconteceria com as crianças abandonadas. Eu não quis esperar a resposta final, e decidi ir embora.

Eu também me perguntei se era certo abandonar um emprego na academia de pesquisa superior do país e deixar Pequim por um suposto “bom distrito escolar”. Nas palavras de meu pai, eu destruí meu próprio futuro.

Na verdade, mesmo que meu filho frequentasse uma das boas escolas designadas, não há garantias de que ele se daria bem na vida. O que me decepcionou completamente são os seguintes fatos. Revendo minha vida, eu tomei o caminho de frequentar boas escolas até chegar à Academia Chinesa de Ciências. Eu tinha um registro hukou em Pequim. Mas nem sequer sou capaz de prover meu filho com os recursos fornecidos por meu pai que viveu numa pequena cidade toda a sua vida.

Eu tenho um doutorado e uma educação no exterior. Eu estive no topo do campo da ciência, num nível de pesquisa científica de ponta. Eu pensei que eu era uma pessoa importante porque eu tinha apresentado trabalho de pesquisa em inglês em conferências acadêmicas internacionais que atraiu o interesse de meus pares internacionais. No entanto, quando eu desci do pódio, eu ainda tinha de enfrentar o proprietário do imóvel que eu alugava e que consumia dois terços do meu salário mensal e com uma inflação que o meu salário não poderia acompanhar. Meus patrões agora me sugeriram participar do sorteio para a educação do meu filho, e que os filhos de empregados que não possuíam habitação própria seriam os últimos na lista de espera de admissão escolar.

Na escola, eu fui instruído a não adorar o dinheiro e que o conhecimento é riqueza. Quando eu fazia pesquisa, disseram-me para não ser impetuoso, mas aprender a sentar-me no frio banco de reservas. Quando comecei a trabalhar, disseram-me para manter a calma e concentrar-se na pesquisa, em vez de se preocupar com dinheiro. Eu segui todos os conselhos. Mas a realidade me ensinou a lição de que o conhecimento não é igual à riqueza, e não pode sequer ser usado para pagar uma hipoteca. Sentar-se no frio banco de reservas enquanto publicando papéis influentes não é suficiente para conseguir uma promoção, que é o pré-requisito para a inscrição escolar do meu filho. As escolas particulares da Academia de Ciências custam 60 mil yuanes (8.709 dólares) por ano. Aqueles com conexões no regime ou acesso à grande riqueza serão capazes de cuidar de si mesmos.

A lição aqui é que minha história – a de trabalhar em silêncio, ser paciente e confiar que as coisas funcionam – tem sido um completo fracasso. Eu sou um testemunho objetivo do que não fazer.

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