9 de abr. de 2017

A ideologia sinistra que orienta a liderança da Coreia do Norte

Norte-coreanos visitam a colina de Mansu na capital de Pyongyang diante das estátuas dos líderes Kim Il-sung e Kim Jong-il no primeiro aniversário da morte de Kim Jong-il em 17 de dezembro de 2012. 


EpochTimes, 07 de abril de 2017. 






Examinando as raízes comunistas do Estado isolado

Diferentemente da União Soviética, que desmoronou e se dividiu em mais de uma dúzia de nações não comunistas, ou da China, cujos líderes mantêm o regime e a ideologia do Partido Comunista mas introduziram mercados capitalistas e permitem a interação com o mundo exterior, a Coreia do Norte permanece como um Estado totalitário isolado, enquanto entra e sai das manchetes de notícias ameaçando usar armas nucleares e mísseis balísticos.


Alguns argumentaram que a Coreia do Norte não é exatamente comunista, pois o país retirou todas as referências ao comunismo e a Karl Marx de sua Constituição na década de 2000, e porque segue um programa de nacionalismo extremo e implícita sucessão dinástica. Em vez do marxismo, a ideologia oficial é a chamada “Juche”, um nome de origem chinesa que é normalmente traduzido como “autossuficiência”, mas que pode ser melhor entendido como uma versão do materialismo dialético que pretende colocar as pessoas, e não as relações produtivas, no centro da evolução histórica.

Mas, em termos de liderança, sociedade e sua economia estritamente controlada, a Coreia do Norte se assemelha e supera os regimes socialistas autoritários e arquetípicos que existiam na Guerra Fria. Além disso, o Estado deve seus fundamentos ideológicos e sua própria existência ao comunismo e aos poderes comunistas.

Na década de 1940, a União Soviética enviou especialistas para ajudar Kim Il-sung a consolidar seu poder e estabelecer um regime comunista. Eles também treinaram e enviaram milhares de agentes para desestabilizar os esforços liderados pelos EUA para estabelecer uma democracia na Coreia do Sul. Para ganhar o poder, Kim Il-sung usou a mesma fórmula empregada por que quase todos os ditadores comunistas quando ele purgou os “contrarrevolucionários” com a Campanha de Orientação Concentrada. Cerca de 800 mil norte-coreanos fugiram para a Coreia do Sul e o regime norte-coreano em seguida rotulou os familiares dos fugitivos como “contrarrevolucionários”.

Em estilo idêntico a Stalin, Kim Il-sung erigiu um culto à personalidade em torno de si mesmo, purgando o Partido dos Trabalhadores da Coreia de todos os dissidentes e banindo os designados inimigos de classe para uma rede de campos de trabalhos forçados, os infames kwanliso.

Acredita-se que o regime de Kim Il-sung tenha assassinado entre 710 mil e 3,5 milhões de pessoas, segundo pesquisadores, enquanto especialistas estimam que cerca de 200 mil norte-coreanos estão atualmente presos no sistema de campos de trabalhos forçados, dos quais cerca de 50 a 70 mil são cristãos. Centenas de milhares de norte-coreanos foram forçados a fugir do país, com a maioria indo para a China.

Kim Il-sung, em particular, atacou os cristãos coreanos. “Nós executamos todos os membros do Partido que seguiam a igreja católica e protestante e enviamos para campos de concentração todos os outros elementos religiosos viciosos”, proclamou ele uma vez em 1962. Suas crenças intrometiam-se no caminho da campanha de propaganda do regime que proclamava Kim como um deus encarnado. Na prática, a ideologia Juche da Coreia do Norte promove formas bizarras de nacionalismo étnico, descrevendo a família Kim como os salvadores da “raça coreana”.

Planos de estilo soviético foram inicialmente implementados, incluindo a apreensão da propriedade privada, bem como a apreensão das indústrias nacionais. Em 1950, Kim estava obcecado com a unificação da Coreia do Norte e do Sul antes de receber ajuda substancial de conselheiros soviéticos, que ajudaram a elaborar planos de invasão e forneceram equipamento militar. Mais tarde, o líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, enviou 300 mil tropas para a Coreia do Norte durante a Guerra da Coreia.

Oficialmente, o país diz que não é comunista, mas se comporta exatamente como se fosse. O país é uma anomalia e poderia ser descrito com mais precisão como uma monarquia de inspiração comunista, como disseram alguns especialistas. O comunista Partido dos Trabalhadores da Coreia é o partido político fundador e governante da Coreia do Norte, e usa um emblema que é uma adaptação da foice e do martelo comunistas, juntamente com um pincel de escrita coreano. Em 2010, o Partido removeu uma sentença referente a seus objetivos de “construir uma sociedade comunista”, e, em 2012, afirmou que a Juche é agora “a única ideologia orientadora do Partido”, pois a Juche pode ser usada para manter a família Kim no poder.

Andrei Lankov, da NK News, diz que o Partido dos Trabalhadores da Coreia funciona efetivamente segundo um modelo marxista-leninista:

“A Coreia do Norte pode ser o único lugar na face da Terra onde esses princípios básicos, desenvolvidos por Joseph Stalin por volta de 1930, ainda são implementados consistentemente. É certo que a ‘verdade universal do marxismo-leninismo’ foi substituída pela mesma verdade da Juche, e muitos elementos do sistema foram reconfigurados. No entanto, esta é ainda a melhor aproximação de um modelo outrora comum, um fóssil vivo do tipo.”

A promoção do comunismo e do marxismo-leninismo aparentemente começou a desaparecer após a morte de Kim Il-sung em 1994. Em 2009, as referências à palavra “comunismo” tinham sido retiradas da Constituição da Coreia do Norte, enquanto as imagens de Marx e Lenin foram removidas das áreas públicas. No entanto, Kim Il-sung e seu filho Kim Jong-il foram frequentemente exibidos ao lado dessas imagens, enquanto os Kims são creditados com a escrita de vários livros sobre a teoria marxista.

Quando a União Soviética entrou em colapso, a ideologia Juche tornou-se a doutrina principal, pois “a dinastia Kim é muito mais do que apenas um regime político autoritário. Ela se mantém como a fonte suprema de poder, virtude, sabedoria espiritual e verdade para seus cidadãos”, escreveu o DailyNK.

Outro desvio dos Estados tipicamente marxistas é o “sistema de castas” coreano, ou Songbun, que foi adotado pelo Partido dos Trabalhadores da Coreia no final da década de 1950. Isso equivaleu a um expurgo em grande escala que resultou na criação de cinco classes sociais na Coreia do Norte. “Este sistema foi estabelecido no final da década de 1950 e entrou em pleno efeito por volta de 1967. Ele divide a população em grupos, de acordo com as ações e status de seu antepassado paterno (e eles próprios, dependendo da sua idade) durante o período colonial japonês e a Guerra da Coreia”, de acordo com a NK News. Em teoria, não há classes nas sociedades comunistas, mas hierarquias de classes graduais se desenvolveram tanto na União Soviética como na China. O Partido Comunista Chinês, por exemplo, tem uma hierarquia fantasticamente complexa, onde os comunistas do mais alto escalão desfrutam dos maiores privilégios.

O Departamento de Orientação da Organização do Partido Comunista controlava o sistema Songbun, com muitos especialistas acreditando que esse era o verdadeiro centro do poder na década de 1960, quando as autoridades norte-coreanas começaram a classificar cada cidadão como um inimigo ou apoiador do regime.

Mas a Coreia do Norte ainda mantém características típicas dos Estados comunistas, incluindo a imagética e a obsessão com a ideologia. Peças de propaganda da família Kim são pintadas em estilo “socialista realista”. Bandeiras e design de interior em vermelho vivo são comuns. Kim Jong-un frequentemente usa ternos no estilo Mao Tsé-tung, e o Partido recentemente lhe concedeu um título honorífico semelhante a Mao. Ele também é o presidente do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia e do Comitê Militar Central, que são instituições de origem comunista.

O aparato de repressão da Coreia do Norte é decididamente estalinista.

Todos os jornais, livros e revistas são incentivados pelo regime a promover Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-um; e os norte-coreanos estão proibidos de ouvir as emissoras estrangeiras ou de ler publicações estrangeiras.

A Coreia do Norte também tem seu próprio sistema de campos de trabalhos forçados, com uma estimativa de 150 a 200 mil pessoas presas atualmente. O trabalho forçado, a fome, os abortos forçados, as execuções, a tortura, os espancamentos e mais são comuns. Crianças nascidas de pais confinados nos campos permanecem lá pelo resto de suas vidas, como parte do sistema de castas Songbun. Toda a informação acessível aos cidadãos é controlada e eles não podem voluntariamente sair do país, como na União Soviética antes de sua queda. De 1948 a 1987, o regime de Kim Il-sung teria assassinado entre 710 mil e 3,5 milhões de pessoas, segundo R.J. Rummel, um professor de ciência política da Universidade do Havaí.

Em 2014, as Nações Unidas investigaram o regime de Kim Jong-un por cometer crimes contra a humanidade e, possivelmente, genocídio, também marcas registradas de regimes comunistas. Tortura, fome e assassinatos em massa são comuns nos campos norte-coreanos.

“Ainda hoje, enquanto falo aqui agora, há bebês nascidos nos campos, execuções públicas, como a de minha mãe e de meu irmão, ocorrendo nos campos [de trabalhos forçados] e mortes por espancamento e fome”, disse Shin Dong-Hyuk, um sobrevivente do sistema kwanliso, referindo-se em 2014 a outro relatório sobre o alegado genocídio.

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