Euronews, 13 de março de 2017.
Um ano depois do acordo sobre os migrantes, o que se está a passar entre a União Europeia e a Turquia?
Vamos recuar no tempo, para tentar explicar este aumento da tensão entre Ancara e vários países da União Europeia: Depois do golpe de Estado falhado em julho do ano passado e da repressão que se seguiu, o presidente Recep Tayyip Erdoğan propôs uma revisão constitucional para reforçar os poderes.
Adotada pelo parlamento a 21 de janeiro, a reforma vai ser sujeita a referendo no dia 16 de abril.
O voto da diáspora vai ter uma importância fulcral e a comunidade turca no estrangeiro tornou-se um alvo primordial da campanha. Só na Alemanha há três milhões de turcos, dos quais metade tem direito de voto. É a comunidade turca mais importante fora da Turquia. Em França há 650 000, dos quais 320.000 inscritos nos cadernos eleitorais. Na Holanda são cerca de 400.000.
Estas manifestações pró-Erdoğan na Europa e a presença de políticos turcos deu lugar, nas últimas semanas, a um braço de ferro entre Ancara e vários governos europeus. Com o pretexto da segurança pública, foram anulados vários comícios.
O clima de tensão subiu depois do incidente na Holanda. O presidente turco chegou a acusar os governos da Alemanha e da Holanda de práticas nazis: “Quando falamos de nazismo e de fascismo, a perspetiva deles (Holanda e Alemanha) é que o que dizem é verdade, o que fazem é correto e têm a autoridade para dar ou negar permissão relativamente a tudo aquilo que quiserem. Permitem-se até fechar a porta do nosso consulado”, disse Erdoğan.
As relações com a Turquia dividem os próprios europeus. Ancara continua a ser um parceiro incontornável, aos olhos da União Europeia e da Alemanha, sobretudo para diminuir o fluxo migratório para a Europa.
Vários dirigentes europeus temem também que cortar as pontes com a Turquia possa resultar na implantação de uma ditadura no país.
A NATO tenta acalmar a tensão diplomática entre os aliados turcos e holandeses, por entre as condenações internacionais à retórica de Ancara.
O secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, apelou aos dois países para que mantenham o respeito mútuo, por entre ameaças de sanções económicas vindas de Ancara.
“Apelo a todos os aliados para que demonstrem um respeito mútuo, para que ajam com calma e de forma comedida para contribuir para o fim das tensões. Penso que é importante que nos concentremos agora em tudo aquilo que nos une”.
De visita a Munique, a Chanceler alemã mostrou-se solidária com as autoridades holandesas que, à semelhança das alemãs, tinham rejeitado a deslocação de ministros turcos a comícios de campanha no território nacional.
Merkel condenou igualmente as acusações de “nazismo” vindas do presidente turco Tayyip Erdogan.
“Estas comparações são totalmente erradas, esquecem o sofrimento, em especial no caso da Holanda, que sofreu bastante sob o regime nazi. Estas acusações são inaceitáveis e é por isso que a Holanda tem todo o meu apoio e solidariedade, em especial o meu colega Mark Rutte”.
A União Europeia apelou, por seu lado, a Turquia a “evitar todas as declarações excessivas”.
Ancara permanece um candidato à adesão aos 28 e um parceiro essencial do acordo migratório assinado com a UE – com a mediação alemã e holandesa – durante a crise dos refugiados do ano passado.
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