DN, 05 de dezembro de 2016.
Por Abel Coelho de Morais.
"Sim, serei candidato", disse Manuel Valls. "Quero dar tudo pela França", declarou o primeiro-ministro, recordando logo a seguir a decisão de "homem de Estado" que foi a renúncia de François Hollande a apresentar-se a segundo mandato no Eliseu.
Valls falava na Câmara de Evry, subúrbio a sul de Paris, o seu bastião eleitoral, e a formalização da candidatura sucede após o presidente François Hollande ter anunciado que não tentaria o segundo mandato, tornando-se o primeiro Chefe de Estado francês a fazê-lo desde a eleição deste cargo por voto direto, em 1965, no quadro da 5.ª República.
Quanto à questão do legado da presidência de Hollande, Valls tornou claro que o faria de "forma indefetível".
O seu primeiro cargo de relevo foi o de diretor de Comunicação do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, entre 1997 e 2001, quando desempenhou funções durante a presidência de Jacques Chirac.
O primeiro desafio de Valls será o de vencer as primárias da esquerda, marcadas para 22 e 29 janeiro, para em seguida travar uma dura batalha contra o candidato da direita, François Fillon, e a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, qualquer um deles em clara vantagem sobre qualquer nome na primeira volta das presidenciais. As sondagens indicam que serão Fillon e a atual dirigente da Frente Nacional a passarem à segunda volta.
Mas no interior do próprio Partido Socialista o nome de Valls não é consensual. Ele e Emmanuel Macron, que já anunciou uma candidatura autónoma ao Eliseu, são vistos como demasiados liberais nas matérias económicas, com Valls ainda caracterizado como defensor de posições consideradas intransigentes em matéria de segurança e ordem públicas.
Esta diferença de perspectivas pode levar a que no espaço da esquerda socialista apareça ainda uma candidatura alternativa, o que fragmentaria ainda mais um eleitorado que, neste momento, se apresenta bastante fragmentado. Estão já no terreno um candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, que rompeu com os socialistas em 2008, e outros de pequenos partidos de extrema-esquerda.
Contudo, numa sondagem Ifop-Fiducial de final de novembro, Valls era o político das esquerdas mais popular, o único com mais de 50% de apreciações positivas, à frente do ex-ministro da Economia Emmanuel Macron (49%, mais liberal e centro-esquerda), de Martine Aubry (49%, ex-secretária-geral do Partido Socialista), de Jean-Luc Mélenchon (47%, esquerda radical e apoiado pelos comunistas) ou Arnaud Montebourg (46%, ministro da Economia no primeiro governo de Valls).
Uma outra sondagem, realizada após o anúncio da renúncia de Hollande, confirmava a percepção resultante do trabalho da Ifop-Fiducial, com o eleitorado socialista e os franceses em geral a desejarem, de forma maioritária, que Valls seja o candidato desta área política.
Em sentido contrário, a Reuters cita uma sondagem da Harris Interactive em que 69% dos inquiridos afirma não ter qualquer confiança em Valls. Pior, só Hollande com 78% a declarar a sua desconfiança face ao atual presidente.
Valls nasceu em Barcelona de um pai espanhol e de mãe hispano-suíça. Naturalizou-se francês aos 20 anos, tendo aderido ao Partido socialista Francês três anos antes. É casado, em segundas núpcias, com uma violinista. Tem quatro filhos.
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