Euronews, 23 de novembro de 2016.
O presidente turco desvalorizou as ameaças do parlamento europeu de “congelar” o processo de adesão de Ancara à União Europeia.
Os eurodeputados vão votar amanhã a possível suspensão das discussões, defendida ontem pelos principais partidos do hemiciclo.
Acusado de não respeitar os valores europeus, na sequência de uma violenta purga da oposição, Recep Tayyip Erdogan afirmou que a decisão dos deputados europeus, “não tem qualquer valor”, voltando a acusar o Ocidente de acolher os separatistas curdos.
“Se ficarmos calados e não dissermos nada, o Ocidente vai continuar a dar as boas vindas a tiranos que têm sangue nas mãos, com passadeiras vermelhas, e vai continuar a etiquetam todas as vozes críticas como ditadores”.
Erdogan sublinhou ainda, “quando o Ocidente trata alguém de ditador, deve-se pensar o contrário, que se trata de uma boa pessoa pois vai contra os interesses do Ocidente”, defendendo o presidente-eleito Donald Trump da revolta nos EUA contra a eleição do novo presidente.
Em Berlim, a Chanceler alemã evocou igualmente a questão turca, e a repressão da oposição após o golpe de estado falhado de julho.
Para Angela Merkel, a tentativa de golpe militar, “não justifica as ações contra a liberdade de imprensa, a detenção de milhares e milhares de cidadãos, é isso que temos de criticar de forma clara, mas ao mesmo tempo não devemos cortar o diálogo”, “nós queremos cooperar com a Turquia mas da melhor forma, o que não impede que nos pronunciemos sobre as coisas que se passam no país”.
Desde julho que mais de 125 mil pessoas foram detidas na Turquia, entre soldados, académicos, juízes e jornalistas.
A tensão ocorre num momento em que a Turquia é um dos pilares do plano migratório da UE, ao albergar milhares de refugiados impedidos de entrar no espaço europeu.
Os dois maiores grupos do Parlamento Europeu, pediram, esta terça-feira, o congelamento das negociações com a Turquia para a adesão à União Europeia.
No debate no plenário de Estrasburgo, centro-direita e socialistas contaram, ainda, com o apoio dos liberais.
“Penso que há uma ampla maioria que defende o congelamento das negociações para a adesão neste momento, e que seja definida uma série de requisitos para que as negociações possam ser retomadas, logo que a Turquia cumpra esses requisitos”, disse o líder da Aliança dos Liberais, Guy Verhofstad.
Este tipo de iniciativa do Parlamento Europeu não é vinculativo, mas a aprovação da resolução enviaria um importante sinal político.
Opinião contrária tem chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, dizendo que “se as negociações para a adesão fossem suspensas, ambas as partes sairiam a perder”.
Em causa está a onda de repressão levada a cabo pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, desde a tentativa de golpe, em julho passado, que já visou cerca de 150 mil pessoas: 36 mil foram detidas e 110 mil foram demitidas ou suspensas de funções.
Os principais visados são soldados, polícias, académicos, juízes, jornalistas e líderes curdos. A grande maioria da imprensa independente foi encerrada.
Kiti Piri, relatora do Parlamento Europeu sobre as negociações com a Turquia, referiu que “é dever dos membros deste Parlamento de se insurgirem pelo facto de muitos dos nossos homólogos terem sido presos, de 145 jornalistas terem sido presos e de dezenas de milhares de cidadãos afetados não terem apoio legal”.
O congelamento das negociações, iniciadas formalmente há 11 anos, poderia colocar em causa o acordo sobre o fluxo de migrantes e refugiados, assinado em março passado.
Em troca de compensações financeiras, o governo turco tem restringido a passagem em direção aos países da União Europeia.
Nos últimos dias, o Presidente Recep Tayyip Erdogan mostrou-se exasperado pelas críticas de violação das leis democráticas e dos direitos humanos, tendo avisado que a União Europeia teria de “viver com as consequências” do congelamento das negociações.
O líder turco defendeu, mesmo, uma nova aliança entre a Turquia, a Rússia e a China.
By Isabel Marques da Silva.
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