Jatos militares russos são vistos na base aérea de Hmeymim na Síria, 18 de junho de 2016. |
Reuters, 22 de novembro de 2016.
Por Guy Faulconbridge e Jonathan Saul.
Os petroleiros russos contrabandearam combustível para os jatos na Síria através das águas da União Europeia, reforçando suprimentos militares para um país devastado pela guerra, onde Moscou está realizando ataques aéreos em apoio ao governo, segundo fontes com conhecimento no assunto.
Pelo menos dois navios de bandeira russa fizeram entregas – que violam as sanções da União Europeia – via Chipre, disse à Reuters uma fonte de inteligência com governo da União Europeia. Houve um aumento acentuado nos embarques em outubro, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.
Uma fonte de transporte em separado familiarizado com os movimentos dos navios russos embandeirados disse que os navios visitaram portos cipriotas e gregos antes de entregarem o combustível para a Síria.
O Ministério da Defesa e dos transportes russos não responderam aos pedidos de comentário.
Um porta-voz para a política-externa e segurança da União Europeia disse que as implementações das restrições da União Europeia foram estabelecidas pelos Estados-Membros. “Acreditamos que as autoridades competentes estão cumprindo sua obrigação de assegurar o respeito das medidas restritivas existentes e de perseguir qualquer tentativa de evasão”, acrescentou.
O Ministério das Relações Exteriores da Grécia se recusaram a comentar. O governo cipriota disse que as suas autoridades não haviam aprovado a ancoragem de quaisquer navios russos que transportam combustível de jato com destino à Síria. “Gostaríamos de receber qualquer informação que possa ser fornecida a nós sobre qualquer atividade que viola as medidas restritivas da ONU ou da União Europeia”, o Ministério do Exterior cipriota acrescentou.
A guerra civil da Síria, que começou em 2011, e tornou-se palco de competições entre potências globais, como a Rússia e o Irã dando apoio ao presidente Bashar Al-Assad, os Estados Unidos, e o Golfo Árabe e as potências europeias apoiando os rebeldes que querem depô-lo.
A Rússia mudou o curso de conflito em favor do governo de Assad no ano passado quando interveio com ataques aéreos. Moscou diz que tem como alvo apenas os militantes do Estado Islâmico e outros combatentes jihadistas.
O regulamento da União Europeia 1323/2014, introduziu há dois anos, a proibição de qualquer oferta de combustível de aviação para a Síria a partir dos territórios da União Europeia, independentemente do combustível ser originário da União Europeia.
Durante um período de duas semanas, em outubro, os petroleiros russos entregaram 20 mil toneladas métricas de combustível para a Síria – um valor de cerca de US $ 9 milhões nos preços mundiais atualmente – através da União Europeia, de acordo com a fonte de inteligência do governo da União Europeia.
“Os embarques do combustível de aviação a partir desses navios têm desempenhado um papel vital na manutenção de ataques aéreos russos na região”, disse a fonte. “Isso aponta para uma sustentada acumulação russa de recursos necessários para apoiar sua operação militar e ambições na Síria”.
Parte do combustível transportado também foi para os militares sírios, ajudando a “manter os meios aéreos de Assad operacionais”, acrescentou a fonte.
A fonte de informação vem duma terceira pessoa, um consultor de inteligência especializada na área do Mediterrâneo, também disse que o combustível era provavelmente destinado ao uso militar russo e sírio.
Transponders desligados.
Os dados de rastreamento de navios publicamente disponíveis confirmam que pelo menos dois petroleiros russos, Yaz e Mukhalatka, fizeram uma viagem entre setembro e outubro, parando na Grécia e Limassol, no Chipre. Na Grécia, o Yaz parou no porto Agioi Theodori, mas não está claro onde o Mukhalatka parou.
Do Chipre, eles partiram em direção a Síria e ao Líbano. Seus transponders de rastreamento foram desligados perto das costas desses países, de acordo com os dados.
A fonte de inteligência da União Europeia disse que o Mukhalatka passou a entregar combustível de jato para a Síria, enquanto as outras duas fontes disseram que o Yaz quase que certamente levou o combustível para o país. Todas as pessoas não quiseram ser identificadas devido à sensibilidade do assunto.
Não ficou claro de onde o combustível pode ter se originado.
Alexander Yaroshenko, diretor-geral da Transpetrochart e dono dos navios Yaz e Mukhalatka, com sede em São Petersburgo, se recusou a comentar quando perguntado pela Reuters sobre os embarques. A Transpetrochart pediu perguntas escritas, que foram fornecidas, mas não respondidas de imediato.
A Transpetrochart diz em seu site que foi fundada em 2002 e é especializada no transporte de petróleo bruto, óleo combustível, óleo diesel, gasolina e outros produtos petrolíferos. Ela opera sete petroleiros.
O consultor de inteligência disse que o Yaz foi investigado pelas autoridades gregas por possíveis violações das sanções da União Europeia e sua estadia no porto de Agioi Theodori em setembro, mas que ele foi autorizado a sair com destino à Turquia.
O serviço da guarda costeira grega disse em setembro que tinha investigado o Yaz por possíveis violações dos regulamentos da União Europeia em relação à Síria e tinha pressionado acusações contra o capitão do navio. Um porta-voz não deu mais detalhes sobre a investigação, quando contactado pela Reuters.
Um oficial da guarda costeira disse separadamente que o capitão foi acusado e liberado durante o processo.
A fonte de inteligência do governo da União Europeia disse que a Rússia também estava usando navios que arvoram pavilhões de outros países para transportar combustível de aviação para a Síria. A Reuters não conseguiu confirmar essa alegação com outras fontes, ou com dados de rastreamentos de navios.
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