Nota do editor
Antes de seguirmos adiante, eu peço a vocês que estiverem lendo essas linhas que ouçam o podcast sobre o assunto, pois boa parte do que vou abordar aqui está contido nele, e através dele vocês conseguirão compreender melhor a situação na Europa. Há também links com artigos a respeito da política francesa neste blog, vocês podem simplesmente seguir a seção de “artigos recomendados” e ir até a parte que toca este artigo. Ou ir na seção “Estudos e Análises”, onde tem um acervo realmente grande de artigos. O podcast fica do lado direito, ou pode ser acessado neste link no soudcloud. Então sem mais delongas.
A vitória de Donald Trump dissipou muitos rumores, inclusive entre os conservadores, de que poderia haver fraude nas eleições ou que eventualmente o candidato republicano fosse perder de forma humilhante para a favorita da grande mídia, Hillary Clinton. Muitos observadores atentos as propostas e ligações de ambos os políticos estavam aflitos. Alguns conservadores assíduos estavam preocupados com o candidato republicano, pela sua preferência em dialogar com o Kremlin e ligações, e com a candidata Clinton, por ter exposto segredos de estado, e ter feito parte das desastrosas políticas externas do ex-presidente Obama, inclusive que facilitaram a vida dos russos.
Enquanto a mídia inteira ignorava os crimes e ligações perigosas de Hillary, os conservadores se forçavam a fazer o mesmo com as ligações intentos e promessas de Trump, num esforço unilateral. Até mesmo aqueles que tinham grandes preocupações e estavam dispostos a bater nessa tecla, no fim das contas, decidiram dar o apoio incondicional a ele, na esperança que os seus aliados no Congresso e na Câmara fizessem o certo, mesmo que ele quisesse fazer errado.
Enquanto a mídia inteira ignorava os crimes e ligações perigosas de Hillary, os conservadores se forçavam a fazer o mesmo com as ligações intentos e promessas de Trump, num esforço unilateral. Até mesmo aqueles que tinham grandes preocupações e estavam dispostos a bater nessa tecla, no fim das contas, decidiram dar o apoio incondicional a ele, na esperança que os seus aliados no Congresso e na Câmara fizessem o certo, mesmo que ele quisesse fazer errado.
Putin espera obter vantagem na administração Trump, embora, neste exato momento, os “especialistas” da mídia dizem que talvez o presidente recém-eleito possa não ser o mar de rosas que o Kremlin espera, por quase sempre voltar atrás com suas falas. A mídia interpreta isso como sendo também aplicável as promessas, portanto, na visão deles os anseios de Moscou podem não ser cumpridos, se o líder seguir a mesma linha de raciocínio que emprega em suas falas. No entanto, isso em si se traduziria em um contrassenso, pois mesmo que ele aja contra o Kremlin, quebrando a promessa de reaproximação, e cooperação, isso não faria diferença, pois a Rússia agiria como tem agido até agora, independentemente de ser os Estados Unidos um país forte militarmente e membro da OTAN. A premissa básica dos defensores da candidatura do republicano era de que Hillary Clinton seria uma causadora, ou seja, ela iria tentar bater de frente com a Rússia e daí o apocalipse se iniciaria, mesmo que aparentemente ficasse evidente de que ela faria uma política morna, ao estilo da de Barack Obama. O que reforçou essa premissa foi a ideia da impotência da América diante da insurgência russa, causada por Barack Obama nestes últimos oito anos.
Se esta premissa estiver certa, Trump ao agir ao revés de cooperar, e armar, por exemplo, os ucranianos, letões, lituanos – que são aliados, por sinal – então ele provavelmente estará fazendo exatamente aquilo que foi o temor dos conservadores, e o que precipitou sua eleição, ou seja, elegê-lo como uma forma de evitar o “fim do mundo.” Claro, essa premissa toda, citada anteriormente é um erro grosseiro. A Rússia atualmente está no Oriente Médio, e pretende empreender lá como nunca antes. O único país que poderia os afugentar eram os Estados Unidos. Mas a indisposição da América pode manter o status quo na região, e piorar ainda mais. Há pressão dos aliados para que não haja cooperação com a Rússia, e principalmente, silêncio sobre suas atividades em outras regiões, inclusive próximas dos aliados da América. Embora as ações contra os aliados seja algo improvável, mesmo próximas ao seu território, a Rússia ainda tenta estender sua influência sobre países não-alinhados, como a Bulgária, a Sérvia, Moldávia, Geórgia entre outros.
O que faz com que a OTAN soe o alarme e fique desperta para o que pode acontecer. Embora isso não se traduza como uma ação direta da aliança em favor daqueles não-alinhados. A OTAN não fez absolutamente nada na Geórgia, assim como não fez na Criméia, quase como se incorporasse a política de contenção imbecil da administração americana. O que põe em cheque a nova administração no quesito de que se cooperar pode acabar tendo que fazer isso com uma política atípica daquela proposta na corrida eleitoral. No entanto, uma crise se desenha a partir disso, pois negociar com o Kremlin é postergar uma agressão sua, mas não impedi-lo de agir livremente galgando a região para si.
Significa que Trump ou pode vetar propostas do Congresso que visam o compromisso do país com alguma região na qual o Kremlin está pondo esforço, ou pode descumprir suas promessas e seguir em frente, mas fazendo exatamente aquilo cuja sua eleição diziam que era para evitar: uma guerra. A Rússia empreende na região por meio do expansionismo, tanto de si mesmo quanto do Irã. O Irã por sua vez faz o seu papel de auxiliar muito bem, trazendo consigo além de armas, soldados experientes no campo de batalha, e também no terrorismo.
A Rússia não pretende, obviamente, parar na Síria, ela pretende “libertar” o Iraque e o Afeganistão também. O Iraque, que é de interesse do Irã já vem recebendo auxilio e gostando disso faz algum tempo. O Irã ainda detém uma grande influência entre os xiitas e clérigos corruptos no país. O expansionismo do Irã significa um “sob nova direção” para o terrorismo internacional. Na altura em que a inteligência israelense declara sucintamente que o Irã e o Hezbollah estão aproveitando-se da Síria para posicionar terroristas em sua fronteira siro-israelense. Essa é uma outra questão para o republicano: como apoiar o Estado de Israel, cooperando com a Rússia, que auxilia o Irã em conquistar a região e posicionar terroristas nas fronteiras israelenses para extermina-lo?
Marine Le Pen segue uma linha de raciocínio tortuosa que é questionável se ela realmente começou sua carreira no parlamento francês, ou na Duma russa. A “conservadora” acredita fielmente na autodeterminação dos povos, e no Estado-Nação, mas reitera o seu apoio a anexação da Crimeia, que é uma região soberana da Ucrânia, cujos tratados foram desrespeitados pela invasão russa. Se Trump encontra-se numa encruzilhada por ter de apoiar a Rússia para supostamente evitar uma guerra, mesmo tendo em mente de que eles usaram isso para abocanhar regiões e controla-las, Le Pen, por outro lado, não tem medo de expor seu favorecimento as políticas expansionistas e flagrantes crimes do Kremlin.
Marine Le Pen traduz o seu conservadorismo e nacionalismo no estilo russo, no qual a Rússia é uma espécie de guia. Assim como Nigel Farage do UKIP (Partido para a Independência do Reino Unido) e Matteo Salvini, da Lega Nord Padania. Eles pregam fielmente que os estados soberanos devem ter o direito de gerir seus recursos e fronteiras, mas silenciam ou aprovam a infração contra a soberania de outro país, no caso a Ucrânia. Le Pen acredita que possa haver uma melhora em prol da paz mundial, mas acredita fielmente que o melhor para isso é cooperar com quem pretende tira-la dos vizinhos, por meio de invasões ou compra de políticos, como no caso do seu próprio país – como no seu caso, por que não? – que isso seria uma vitória da humanidade.
Trump ainda tem muito que responder, tanto para os aliados do país, quanto aos seus eleitores. Aliás, os seus eleitores precisam responder essa pergunta por si mesmos, quando essa pressão sob o seu candidato eleito estiver bem desenvolvida: Estamos mesmo evitando um conflito? No fim, as palavras de Le Pen soam como hipocrisia: uma pessoa que busca a paz apoiando os senhores da guerra. Essa é uma questão complicada para a Europa, na qual a esquerda europeia os leva para caminhos destrutivos, e a direita europeia para o colo do destruidor. Se a paz for como a direita europeia quer, significa que ela será regida por uma Rússia e um Irã, mas se for como a esquerda quer, será regida pelas Farc na Colômbia, e pelo Novo Exército do Povo nas Filipinas. Contudo, a definição de paz de Le Pen é um insulto as nossas inteligências. Agora cabe aos cidadãos decidir se vão aceitar essa definição ou não.
Reuters, 16-17 de novembro de 2016.
A líder do partido de “extrema-direita” francesa Marine Le Pen disse nessa quarta-feira que sua eleição como presidente no próximo ano formaria um trio de líderes mundiais com o presidente eleito Trump e o da Rússia, Vladimir Putin, o que “seria bom para a paz mundial”.
Inaugurando sua sede de campanha para a eleição de 2017 na França, a menos de dois km (uma milha) de distância do palácio presidencial Eliseu, Le Pen disse que as instalações eram “uma parada no caminho para o (seu) destino final no caminho.”.
Anti-europa e anti-imigração de 48 anos, Le Pen foi a única líder política francesa que apoiou Trump na eleição dos Estados Unidos.
Seu partido Frente Nacional foi estimulado por sua vitória [do Trump] e pelo voto da Grã-Bretanha para deixar a União Europeia, na esperança de montar uma onda anti-establishment semelhante na França para a sua vitória na eleição do ano que vem.
“Há um movimento mundial. Um movimento mundial que rejeita globalizações sem controle, ultra-liberalismo destrutivo... A eliminação de Estados-Nação, e o desaparecimento das fronteiras”, disse Le Pen aos repórteres.
"As forças em ação nessas várias eleições são ideias, forças que poderiam levar a minha eleição como presidente da França em maio próximo".
As pesquisas de opinião veem Le Pen indo para o segundo turno das eleições presidenciais de abril e maio, mas perde o segundo turno para um candidato do mainstream de centro-direita.
Mas a falha dos pesquisadores em prever a vitória de Trump ou a votação da Grã-Bretanha em junho, para sair da União Europeia tem gerado dúvidas sobre as previsões eleitorais fiáveis.
Perguntada se o próximo ano seria a prova de que os pesquisadores estão errados com um trio de líderes como o da Rússia, Putin, que recebeu críticas de líderes europeus por apoiar o governo sírio contra os rebeldes apoiados pelo Ocidente em Aleppo, e Trump, que aproveitou o sentimento anti-imigrante para ganhar popularidade, Le Pen disse aos repórteres: “Isso seria bom para a paz mundial”.
“Se eu for presidente, a França terá boas relações com a Rússia”, disse ela.
Le Pen diz que iria restabelecer o controle de fronteiras com os vizinhos da França e realizar um referendo para tirar o país da União Europeia.
Seu pôster de campanha, revelou na quarta-feira, um símbolo azul com as palavras “Marine Presidente”. O slogan da campanha é: “Em nome do povo”.
Em um movimento para suavizar a imagem do partido, uma vez governado por seu pai Maverick Jean-Marie Le Pen, e tentar ampliar o seu apelo para além dos apoios das bases, o nome do partido não figura no cartaz nem o logotipo da chama ou a marca do seu nome de família.
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