DefenseNews, 21 de julho de 2016.
Por Joe Gould.
Washington – o aparente apoio condicional do candidato presidencial republicano Donald Trump aos aliados da OTAN enviou ondas de choque ao redor do globo quinta-feira, provocando a reação de líderes estrangeiros, ao Establishment de segurança nacional dos Estados Unidos e a figuras políticas de ambos os partidos políticos.
Trump, em uma entrevista ao New York Times, sugeriu o repúdio a política fundamental de segurança nacional dos Estados Unidos, quando disse que se a Rússia atacasse os Estados Bálticos ele iria decidir vir ou não em seu auxílio com base em seus “cumprimentos de obrigações conosco”. [$$].
Seja qual for a intenção de Trump, os aliados nervosos sobre o revanchismo do presidente russo Vladimir Putin nos últimos meses sinalizaram que eles estavam ouvindo.
“A OTAN é a base para a nossa segurança”, teria dito o primeiro-ministro checo Bohuslav Sobotka em resposta aos comentários de Trump, em uma entrevista coletiva na Polônia. “Espero também, nos Estados Unidos, seja quem for que ganhe as eleições presidenciais, que continue a ser um parceiro sólido da OTAN.”.
Da Estônia o presidente Toomas Hendrik IIves apareceu para responder aos comentários no Twitter, onde disse: “Nós estamos igualmente empenhados com todos os nossos aliados da OTAN, independentemente de quem eles possam ser. Isso é o que os aliados fazem”.
Enquanto o relacionamento de Trump com o Establishment do Partido Republicano tem sido complicado, os seus comentários representam uma ruptura significativa com um princípio mantido por líderes de ambos os partidos – a permanência no apoio coletivo de defesa nos termos do artigo 5 do tratado fundador da OTAN.
Em poucas horas, Hillary Clinton em campanha criticou Trump, conforme o conselheiro de política Jake Sullivan divulgava um comunicado na quarta-feira, dizendo que Trump era “de temperamento impróprio e fundamentalmente mal preparado” para ser comandante chefe. Ex-presidentes americanos tais como Ronald Reagan e Harry Truman, disse ele: “Estariam envergonhados”.
“Durante décadas, os Estados Unidos têm dado uma garantia firme aos nossos aliados da OTAN: nós viríamos em sua defesa, se fossem atacados, exatamente como fizeram em nossa defesa após o 9/11”, disse Sullivan. “Foi perguntado a Donald Trump se ele iria honrar essa garantia. Ele disse... ‘talvez, talvez não”.
O comandante aposentado da Marinha James Stavridis, cujo último posto foi a quatro anos como comandante supremo na OTAN, supervisionando as operações militares da Aliança em todo o mundo, tuitou quinta-feira dizendo: “Sobre o que Trump disse da OTAN: é profundamente perigoso e vai desanimar os nossos aliados próximos, mas receberá um grande elogio do Kremlin: eu posso ouvir Vladimir Putin rindo daqui”.
Trump on NATO: deeply dangerous will dismay our closest Allies but great cheer in Kremlin: I can hear Vladimir Putin chortling from here.— stavridisj (@stavridisj) 21 de julho de 2016
Há rumores de que Clinton está a considerar o aposentado de quatro estrelas como seu potencial companheiro de chapa este outono.
O companheiro de Trump, o governador Mike Pence – que falou na convenção quarta-feira sobre o compromisso de Trump para com os aliados dos Estados Unidos – ficou na quinta-feira na defensiva, oferecendo garantias de que Trump vai defende-los.
“Estou muito confiante que Donald Trump vai ficar ao lado dos nossos aliados e que vai parar de se desculpar com os nossos inimigos”, disse ele na Fox News no "Fox & Friends” quinta de manhã.
“Eu não vi o contexto exato de suas palavras”, disse Pence. “Eu acho que a posição de Donald Trump, é colocada de forma muito ampla no que diz respeito aos nossos aliados e no que diz respeito às obrigações do Tratado e da OTAN, de que é hora dos aliados começarem a pagar a sua parcela justa”.
Alguns no Partido Republicano ficaram agitados.
O senador Lindsey Graham, um membro do Comitê dos Serviços Armados do Senado que concorreu para nomeação contra Trump, emitiu uma declaração questionando a aptidão de Trump como comandante chefe e pediu a Trump para corrigir suas observações quando se dirigir a Convenção Nacional Republicana nessa quinta-feira à noite.
“Declarações como estas tornam o mundo mais perigoso e os Estados Unidos menos seguro”, disse Graham. “Eu só posso imaginar como os nossos aliados na OTAN, em particular os Estados Bálticos devem ter se sentido depois de ler esses comentários do senhor Trump. Estou 100% certo que o presidente russo, Putin deve ter se sentido muito feliz.".
"O candidato republicano está, essencialmente dizendo para os russos e outras figuras más que os Estados Unidos não estão mais apoiando a aliança com a OTAN”, disse Graham. “A OTAN tem sido a organização mais bem sucedida na história moderna para fornecer defesa coletiva para as democracias. Se o senhor Trump está falando sério sobre querer ser o comandante chefe do país ele precisa entender melhor o seu trabalho que é assegurar a liderança dos Estados Unidos no mundo livre”.
Outros conservadores foram rápidos em julgar os comentários de Trump durante sua campanha bombástica. James Jay Carfano da Heritage Foundation especialista em segurança nacional disse que não importa o que Trump diz, presidentes de ambas as partes têm ficado a favor do artigo 5 por anos e continuarão a fazê-lo.
“As pessoas podem debater para sempre o que os candidatos dizem durante a campanha, mas a realidade é que a política da OTAN vai ter a mesma aparência”, disse Carafano. “As pessoas não são idiotas o suficiente para adivinhar a política externa de alguém com base no que eles dizem em público”.
Nos bastidores da convenção do GOP em Cleveland, Carafano disse que ele e figuras republicanas chave realizaram “discussões substanciais e sérias” com diplomatas estrangeiros interessados.
“Uma das coisas sobre a qual nós falamos muito foi sobre se: tudo está tudo OK para fazermos uso do que está sendo dito em campanha ou se devem colocar isso de lado para tentar entender o contexto atual”, disse Carfano.
Os comentários de Trump para o New York Times coroam uma série de declarações que questionam a relevância da aliança e apelam para que os aliados dos Estados Unidos façam grandes compromissos financeiros para a defesa da Europa.
Essas declarações, e outras que Trump fez, estão fazendo com que os funcionários estrangeiros fiquem cada vez mais nervosos, disse Julianne Smith, assessora de campanha de Clinton e ex-assessora de segurança nacional do vice-presidente Biden.
“Foi devastador, eu tenho que dizer para todos aqueles de nós nesta comunidade”, disse Smith. “Eu viajo provavelmente duas a três vezes por mês ao exterior e cada compromisso que tenho – seja no Oriente Médio, Europa ou em outro lugar – começam a falar sobre as controversas de Donald Trump. Se estou na Europa a primeira coisa que me falam é se os Estados Unidos querem assegurar os compromissos do tratado que tem feito”.
"Muitos países europeus finalmente sentem que estão recebendo os Estados Unidos de volta ao continente, e eles então se sentem motivados a gastar mais com defesa quando os Estados Unidos fazem isso. Quando os Estados Unidos estão menos inclinados, então eles seguem o exemplo,” disse Smith.
“Quando Obama foi para a Europa e disse: ‘Eu vou colcoar um bilhão de dólares para a segurança europeia, mas é melhor que tenhamos ajuda do lado de lá’, os europeus fizeram isso”, disse Smith. “Quando dizemos: ‘Nós estamos saindo da OTAN, nós não nos importamos, não vamos manter os nossos compromissos’, todos eles vão exatamente na direção oposta.”.
O consultor político republicano Mike Murphy previu que durante a campanha Trump fará um discurso na convenção está noite para suavizar seus os comentários anteriores dos quais os democratas continuam usando para ataca-lo.
Sen. Debbie Stabenow, D-Mich, o vice-presidente de Política e Comunicações do Centro Democrático e membro do Comitê dos Serviços Armados do Senado, Jack Reed, agendaram uma coletiva de imprensa para quinta-feira à tarde para destacar como Trump é “incondicionalmente impróprio para ser o próximo presidente”.
O general da reserva do exército Wesley Clark, ex-comandante supremo da OTAN e candidato único para a nomeação presidencial democrata em 2003, enviou um comunicado dizendo que Trump não entende nada da OTAN e o dissuadiu a rever as suas observações sobre a OTAN e a Europa.
“Então, quando o senhor Trump diz que vai considerar tomar alguma ação, ele está se juntando a uma longa lista de estadistas classificados há décadas atrás, cuja hesitação, oscilante e falta de determinação – por quaisquer razões – em face da adversidade pavimentaram o caminho para uma guerra desastrosa”, disse Clark.
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