O presidente Recep Tayyip Erdogan |
DN, 27 de julho de 2016.
Por Abel Coelho de Morais.
Governante afirma que verbas prometidas por entidades europeias não estão a ser entregues. Bruxelas desmente essas afirmações.
O presidente Recep Tayyip Erdogan acusou, em entrevista à cadeia de televisão alemã ARD, a União Europeia [(UE) de "não ter cumprido as promessas feitas" no quadro do acordo assinado em março, estabelecendo que o governo de Ancara aceitaria em solo turco refugiados sírios em troca de ajuda financeira.
Para o dirigente turco, os Estados europeus "não têm sido honestos". Segundo Erdogan, "três milhões de sírios ou de pessoas vindas do Iraque vivem neste momento na Turquia. E a UE não cumpriu quase nada em matéria financeira, só tendo entregado "um a dois milhões de euros", disse o presidente, quando estavam acordados "três mil milhões de euros". Por outro lado, acentuou Erdogan, o seu país já gastou mais de 11 mil milhões de euros.
Apesar de tudo isto, "vamos cumprir a nossa parte do acordo", assegurou o presidente que, na mesma entrevista, recordou que o seu país "está há 53 anos" à porta da UE e que não hesitou em abolir a pena de morte para que as negociações de adesão pudessem iniciar-se. Para em seguida acrescentar que a Turquia "é um Estado democrático de Direito, afirmando que nos "países democráticos a palavra pertence ao povo" e que "deseja hoje o povo?" - interrogou-se Erdogan, para responder em seguida: "a pena de morte", a ser aplicada aos considerados responsáveis pelo golpe falhado de 15 de julho. Erdogan notou que a decisão não será sua, será do Parlamento. "Não sou eu que vou decidir". A Turquia "não é uma monarquia", disse.
Ainda em relação com o golpe, as autoridades de Ancara anunciaram ontem a detenção de dois generais que prestavam serviço no Afeganistão, suspeitos de ligações aos organizadores do 15 de julho.
A Comissão Europeia já respondeu às declarações do dirigente turco, classificando-as como incorretas.
"A UE está a respeitar os seus compromissos e o que for dito em contrário não é verdade", afirmou Margaritis Schinas, porta-voz do executivo comunitário, citada pela Lusa. A porta-voz indicou terem sido destinados 740 milhões de euros no quadro do acordo com a Turquia e de, até final do mês, serem disponibilizados mais 1,4 mil milhões de euros. No entanto, segundo fonte comunitária referida pela Lusa, que cita a AFP, só foram entregues até agora 105 milhões de euros.
A porta-voz da Comissão colocou especial ênfase na ideia de que estas verbas destinam-se a apoiar os refugiados na Turquia, em áreas como a saúde e a educação, e não são fundos para "o país e para o governo" de Ancara.
Três mil mortos em 2016
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) divulgou ontem novo balanço sobre o número de refugiados e migrantes que chegaram a território da UE este ano, até ao início da semana.
Segundo a OIM, 249 854 pessoas chegaram a países europeus, principalmente Itália e Grécia, mas também Espanha, até ao passado domingo. Outras 3034 pessoas já perderam a vida desde o início do ano nas tentativas de travessia.
O maior número de vítimas verificou-se ao largo do Mediterrâneo central e oriental, onde perderam a vida 2606 pessoas, seguindo-se o Mar Egeu com 383 mortos. No Mediterrâneo ocidental morreram 45 pessoas, de acordo com os números da OIM.
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