Um dos principais rostos do campo do não à UE, Nigel Farage em campanha em Kent. No cartaz à direita lê-se “Queremos o nosso país de volta. Votem para sair” |
DN, 14 de Junho de 2016.
Por Abel Coelho.
Os mais recentes inquéritos de opinião colocam em maioria o campo do não à União Europeia. Bruxelas tenciona ser intransigente nas negociações com Londres em caso de sucesso eurocético
Os alarmes soam cada vez mais alto em Bruxelas. À medida que se aproxima a data do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) e cada vez mais sondagens apontam para a vitória do campo que advoga a saída na votação de quinta-feira 23. A confirmar-se este cenário, no dia seguinte, os presidentes da Comissão, do Conselho e do Parlamentos Europeus, respetivamente Jean-Claude Juncker, Donald Tusk e Martin Schulz irão, reunir-se com Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, país que assegura a presidência rotativa da UE, para discutirem as medidas a tomar.
O mais tardar no domingo, 26 de junho, a Comissão Europeia estará reunida para definir a estratégia a seguir, podendo realizar-se no quadro da cimeira semestral da UE, a 28 e 29 em Bruxelas, uma outra paralela entre o Reino Unido e os restantes 27 Estados membros.
Em seguida, estes decidirão o caminho futuro da UE, tendo uma fonte da Comissão declarado no final de maio à Reuters que o "divórcio" com os britânicos "deve ser rápido". Uma outra fonte acentuou não existir "qualquer interesse em negociar com Londres quaisquer novas condições nos primeiros dois anos". As negociações necessárias restringir-se-ão à liquidação de pagamentos e transferências financeiras entre ambos os lados, aos prazos de saída de agências europeias do Reino Unido e ao esquema de pensões a atribuir aos funcionários britânicos a prestarem serviço nas instituições da UE.
A concretizar-se, a saída do Reino Unido ocorreria em julho de 2018, com as negociações a serem marcadas por uma postura intransigente da UE, referiu uma outra fonte à Reuters. A equipa negocial seria liderada por um alemão ou um francês, indicou a primeira fonte citada em maio pela Reuters.
Noutro plano, Martin Schulz esteve reunido no passado dia 7 com os presidentes das principais famílias políticas representadas no hemiciclo no Parlamento Europeu (PE) - o Partido Popular Europeu, os Socialistas e Democratas e os Liberais e Democratas -, tendo ficado definido que o plenário reunir-se-á entre 24 e 28, dia em que se inicia o Conselho europeu, referiu segunda-feira ao EurActiv um eurodeputado francês, sob anonimato.
Por seu lado, o Banco Central Europeu (BCE) estaria já pronto a intervir nos mercados para travar a queda do valor do euro e da libra, uma movimento que se tem vindo a acentuar nos últimos dias à medida que crescem as hipóteses de uma vitória do brexit, os partidários da saída. Uma queda que continuou a observar-se ontem, com o iene, a moeda japonesa, a registar o valor mais alto dos últimos três anos face ao euro e à libra. Também o franco suíço atingiu o valor mais elevado dos últimos três meses face ao euro, com o dólar a registar igualmente uma apreciação face à divisa europeia.
As bolsas europeias estão a ser influenciadas negativamente tendo registado perdas perdas na ordem dos 400 mil milhões de euros entre sexta-feira e ontem, indicou a Bloomberg.
O modo de atuação do BCE será anunciado na manhã de 24 de junho, quando for claro qual o sentido de voto dos eleitores britânicos. Um alto quadro do BCE declarava ontem à Reuters, sob anonimato, "que será feito todo o necessário para manter a adequada liquidez dos mercados", a confiança dos investidores e evitar a possibilidade de uma recessão das economias da UE e Reino Unido.
Até ao dia do referendo estão previstas uma série de reuniões de dirigentes dos bancos centrais dos países membros da UE para avaliação da situação e para concertarem atuações. Para a eurozona, está marcada uma conferência telefónica dos governadores dos 19 bancos nacionais para 24 de junho.
Vantagem do brexit
Cinco sondagens divulgadas entre segunda-feira e ontem revelam que o campo da permanência na UE (o designado bremain) está a perder terreno entre os eleitores.
Assim, uma sondagem YouGov a 1905 inquiridos dá 46% de intenções de votos para a saída da UE e 39% para a permanência. Excluindo os indecisos, nesta sondagem publicada pelo The Times a vantagem do brexit dilata-se ainda mais: 54% contra 46% do bremain. Uma outra sondagem, esta do TNS e realizada online, consolida a tendência para a saída, com 47% dos inquiridos a pronunciarem-se nesse sentido e 40% a favor da permanência. Anterior sondagem da mesma empresa revelava uma vantagem de apenas dois pontos percentuais para o não à UE.
A terceira e quarta sondagens, uma pelo telefone e a outra online, apresentam o mesmo resultado: 56% para a saída, 47% para a permanência. Realizados pela empresa ICM e publicados no The Guardian, os dois inquéritos consolidam a tendência para o não à UE e, por outro lado, quebram a regra das sondagens por telefone evidenciarem resultados de serem mais favoráveis à permanência.
A quinta sondagem, da ORB e publicada no The Daily Telegraph , coloca a saída à frente da permanência pela margem mínima: 49% para 48%. Uma anterior sondagem ORB, divulgada na última sexta-feira, concedia ao brexit uma vantagem de 10 pontos percentuais: 55% para 45%. No caso da ORB, ambos os inquéritos foram por telefone.
Perante este quadro, enquanto o primeiro-ministro conservador David Cameron se apaga deliberadamente na campanha, ciente de que o eleitorado trabalhista é decisivo para a vitória do sim, os dirigentes deste partido, como o líder Jeremy Corbyn e o antigo primeiro-ministro Gordon Brown, têm multiplicado as intervenções. Ontem, Corbyn esteve na sede da central sindical TUC, afirmando que a permanência vai no sentido da defesa dos direitos dos trabalhadores. Criticado por se ter mostrado até agora algo reticente na campanha, a intervenção de ontem de Corbyn foi considerada como a mais forte até agora realizada na defesa do sim à UE.
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