22 de mai. de 2016

Áustria espera veredicto do voto postal para conhecer presidente





DN, 22 de maio de 2016.




Por Abel Coelho de Morais. 



Contagem de votos pelo correio é decisiva: 900 mil eleitores vão determinar o nome do futuro chefe de Estado. Candidato de extrema-direita teve 1 937 863 votos. Ecologista alcançou 1 793 857.

Norbert Hofer, candidato do Partido da Liberdade (FPÖ, extrema-direita), surgia ontem à frente na segunda volta das presidenciais austríacas com 51,9% dos votos, enquanto Alexander Van der Bellen, do partido Os Verdes, recolhia 48,1%, números que não permitam declarar a vitória do primeiro, devido à existência de um universo de 900 mil eleitores que fizeram a sua opção através do voto postal. Os resultados da contagem deste só hoje serão divulgados.

Assim, a Áustria adormeceu à sombra de uma possível vitória do candidato da extrema-direita, mas a dimensão do universo do voto por correio e a tendência tradicionalmente de esquerda que neste se manifesta, deixaram muitos a antecipar ainda a possibilidade de uma vitória de Van der Bellen. Este teve 1 793 857 votos, mais 880 639 do que na primeira volta, a 24 de abril, quando alcançou 913 218.

Em contrapartida, Hofer registou ontem 1 937 863 votos, mais 437 892 do que na primeira volta, quando recolheu 1 499 971. A taxa de participação chegou ontem aos 72%; na primeira volta, a 24 de abril, foram votar 68,5% dos eleitores. Na altura, em termos percentuais, Hofer, teve 35,1% e Van der Bellen 21,3%.

Perante estes valores, o sentido do voto postal e a dimensão deste universo (14% do eleitorado) poderá fazer toda a diferença. Mas os partidários e dirigentes do FPÖ mostravam-se convencidos da certeza da vitória, com alguns a anteciparem já o sucesso nas legislativas. O voto em Hofer significa, como dizia ontem um dos seus dirigentes, Andreas Molzer, que da "próxima vez será mais fácil para os eleitores votarem em Heinz-Christian Strache", o líder do partido, para o cargo de chanceler. Com Hofer como presidente da Áustria, o FPÖ tornar-se-ia, finalmente, aceitável para o eleitorado, dizia um militante ouvido pelo Die Presse online.

A realidade sugerida pelo militante do FPÖ existe já, em larga medida, no plano dos factos. Hofer foi maioritário em todos os länder do país, com exceção de um só, Vorarlberg, no oeste, onde o ecologista foi o mais votado em todas as circunscrições eleitorais, e na região de Viena, onde foi maioritário em duas das 23 circunscrições.

Os resultados da votação de ontem vêm confirmar a sensação de crise dos partidos tradicionais na Áustria, os conservadores do ÖVP e os sociais-democratas do SPÖ. Para um dos principais dirigentes do ÖVP, o governador da região da Alta Áustria, Josef Puhringer, esta eleição "foi dolorosa", sem representantes do "centro político, só a esquerda e a direita". Para Puhringer é claro que o "ÖVP não se pode permitir não ter um candidato" na segunda volta das presidenciais e o partido tem de saber "reconstruir os seus laços com a sociedade".

Recorde-se que os candidatos dos dois partidos que governam a Áustria em coligação foram afastados na primeira volta. Rudolf Hundstorfer, do SPÖ, ficou em quarto com 11,3%; Andreas Kholl, do ÖVP, teve apenas 11,1%.

"Sou de centro direita"

Perante este quadro, os dois candidatos que foram entrevistados em simultâneo numa estação televisiva após a divulgação dos resultados, mostraram-se prudentes, com Hofer a recusar o rótulo de extremista. "Quem quer que seja eleito, deverá assumir responsabilidades perante todo o país", disse o candidato do FPÖ, para martelar em seguida a ideia de que é "do centro direita" e "pró-europeu", ao contrário do seu adversário. Por seu turno, Van der Bellen responsabilizou as orientações políticas dos partidos no governo pela dimensão do voto no candidato da extrema-direita.

No entanto, o resultado conseguido por Hofer, de 45 anos, é muito resultado da sua personalidade e do estilo que cultiva. Na política ativa desde 1994 como militante do FPÖ, tornou-se um dos principais conselheiros do líder do partido, Heinz-Christian Strache, quando este assumiu a direção em 2005. Desde logo, defendeu uma estratégia política de maior moderação e centrada nas questões sociais e focando-se na perda do poder de compra dos austríacos, por causa da crise económica.

Tema que cultivou ao longo da campanha. "Os centros de emprego austríacos devem atender primeiro os austríacos", indicou no comício final, antes da primeira volta. "A Áustria não é a segurança social de meio planeta", acrescentou, defendendo ser necessário "proteger as fronteiras" dos refugiados. De forma habilidosa fez coincidir a política face aos migrantes e refugiados do governo de Viena com a conjuntura económica menos positiva, o que lhe terá valido o votos de muitos elementos dos grupos socioeconómicos mais desfavorecidos. Um estudo citado ontem pelo Die Presse indicava que, tendencialmente, eram as pessoas com menor formação académica que mais se identificavam com Hofer, sucedendo o oposto com Van der Bellen, cuja apela àqueles com maiores habilitações literárias.

Filho de um antigo quadro do FPÖ, Hofer começou por ser conselheiro de campanha do partido no estado federado de Burgenland. É deputado desde 2005 e, atualmente, o terceiro presidente do Parlamento austríaco. No currículo tem ainda formação em comunicação e uma passagem pelo gabinete de imprensa do FPÖ.


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