Diário de Notícias, 26 de abril de 2016.
Por Abel Coelho de Morais.
Presidente dos EUA comprometeu-se com dirigentes de quatro países europeus envolver mais a NATO na questão dos refugiados. E alertou para riscos destrutivos na UE.
Os Estados Unidos vão aumentar de forma significativa os efetivos envolvidos na preparação e assistência às milícias da oposição na Síria, enviando mais 250 elementos das forças especiais para o terreno, ainda que "não para combater", disse ontem o presidente Barack Obama, falando em Hanôver no último dia de uma viagem em que esteve, primeiro, no Reino Unido e, em seguida, na Alemanha.
Atualmente, estão em território sob controlo das milícias da oposição cerca de 50 elementos de unidades de operações especiais a enquadrar e a treinar aquelas forças. A decisão foi tomada após se ter verificado que a opção do enquadramento das milícias pelos militares americanos estava a produzir resultados táticos importantes.
Fontes do Pentágono, ontem citadas pelo The Wall Street Journal, explicavam que na, recente ofensiva e conquista da cidade de Chaddadi ao Estado Islâmico (EI), esta foi conseguida com uma força mista em que 60% dos combatentes era curda e sunitas os restantes 40%, operando em unidades separadas. A operação durou dias, quando a estimativa inicial era de semanas e revelou, segundo as mesmas fontes, a eficácia das forças da oposição, quando devidamente equipadas e apoiadas pela força aérea americana.
Em Hanôver, antes de um encontro conjunto com o seu homólogo francês, François Hollande, e com os dirigentes dos governos alemão, Angela Merkel, britânico, David Cameron, e italiano, Matteo Renzi, Obama insistiu na necessidade de uma Europa unida, alertando para os riscos de uma desagregação. "Se uma Europa de livre comércio, pluralista, liberal, pacífica e unida começar a duvidar de si própria, começar a interrogar-se sobre os progressos alcançados nas últimas décadas, então, não devemos esperar que as mudanças positivas que estão a ocorrer em vários pontos do mundo continuem a suceder".
Obama, que falava perante um grupo de empresários e políticos na feira internacional de Hanôver, sublinhou que, citando o poeta William Butler Yeats, onde "os melhores perdem as suas convicções e os piores estão incendiados de paixão e determinação", então - prosseguiu Obama - é extremamente real o risco de "medos e frustrações serem utilizadas de forma destrutiva".
"Cimeira do G5"
A questão da ameaça terrorista islamita, a necessidade de derrotar o EI na Síria e no Iraque, a instabilidade na Síria e os desafios que se colocam à unidade europeia, em paralelo com as diferentes percepções existentes no Velho Continente sobre a Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento (PTCI) foram os temas constantes do encontro entre Obama, Hollande, Merkel, Cameron e Renzi, designado nos media como "cimeira do G5".
A reunião de Hanôver realizou-se antes da cimeira do G7, que vai realizar-se a 26 e 27 de maio na localidade de Ise-Shima, no Japão, onde os cinco governantes que ontem se encontraram naquela cidade alemã estarão ao lado dos dirigentes da China e do Canadá.
O encontro decorreu no castelo de Herrenhausen sob fortes medidas de segurança, tendo ainda sido abordada a crise dos refugiados e a situação no Leste da Ucrânia. Sobre o primeiro ponto, o presidente americano comprometeu-se a trabalhar para um maior envolvimento dos meios da NATO para bloquear os movimentos dos traficantes entre o Norte de África ou a Turquia e os países da União Europeia (UE). Atualmente, existe uma missão da NATO a atuar numa área do Mar Egeu.
A cimeira sucedeu no mesmo dia em que o governo da Áustria anunciou o reforço dos controlos fronteiriços com a Hungria, um movimento verificado pouco menos de passadas 24 horas sobre a vitória do candidato do Partido da Liberdade (FPO) na primeira volta das presidenciais austríacas.
Críticas de Boris Johnson
Um dia depois de Obama ter proferido fortes declarações sobre a importância e a necessidade do Reino Unido permanecer na UE, tema a que voltou nas intervenções na Alemanha, um dos rostos mais relevantes do "sim" à saída, o mayor de Londres, Boris Johnson criticou o presidente americano.
Num longo texto publicado na sua página do Facebook, Johnson escreve que não serão as palavras de "espertalhões, ambiciosos e oportunistas" como "presidentes americanos e líderes empresariais" que "intimidarão" os britânicos a, "daqui a dois meses", votarem pela permanência na UE.
Para Johnson, "só as elites querem ficar", mas "estão a subestimar, de forma fatal, a sociedade britânica".
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