Pablo Iglesias e o filhote de chocadeira Errejón. |
DN, 18 de abril de 2016.
Por Bélen Rodigo.
Com o país suspenso desde as eleições de 20 de dezembro, o líder do Podemos atravessa um dos piores momentos desde que fundou o partido em 2014. Próximos dizem estar arrasado.
A situação política que vive a Espanha, há mais de três meses sem governo, está a criar grandes problemas na maioria dos partidos. Não só porque não conseguem acordos para apresentar um governo credível como também porque estão a aumentar as divisões e tensões dentro das várias forças políticas. O partido mais novo, o Podemos, é um bom exemplo desta situação. O seu secretário-geral, Pablo Iglesias, está a viver um dos momentos mais complicados desde que foi eleito líder do jovem partido nascido em 2014 do movimento dos indignados. Quem o conhece bem garante que está arrasado e ultrapassado pelas circunstâncias.
Afinal, Iglesias tem várias frentes em aberto para resolver. Uma delas é a perda de controlo sobre a formação, materializado no confronto com o número dois, Íñigo Errejón. Outra é que as extraordinárias expectativas eleitorais que tinham há uns meses se reduziram bastante. Sem esquecer que o seu ansiado plano de formar governo com os socialistas e ser o vice-presidente se desvanece.
Há já alguns meses que se começou a perceber as diferenças de critérios entre Pablo Iglesias e Íñigo Errejón. Mestre e discípulo criaram juntos o Podemos. Amigos mas sempre com discrepâncias políticas de formato e de forma. A crise no Podemos explodiu há um mês no Conselho Cidadão de Madrid que resultou na saída de vários dirigentes fiéis a Errejón. Iglesias tomou várias decisões fundamentais no partido sem ter em conta a opinião do seu sócio e amigo. Eliminou o número três do partido, Sergio Pascual, braço direito de Errejón, que afastou das negociações com o PSOE.
Iglesias e Errejón diferem ainda nas referências ideológicas, no modelo que querem de partido, nos apoios internos e na relação com o PSOE. Por um lado, Iglesias, seguidor do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci, está a radicalizar o discurso à esquerda.
Quer um modelo menos vertical no Podemos, é agressivo com os adversários políticos, conta cada vez mais com o apoio dos anticapitalistas do partido e mantém uma relação tensa com os socialistas. Por outro, Errejón, inspirado no teórico pós--marxista argentino Ernesto Laclau, quer uma organização vertical no partido, é calmo e moderado, está cada vez mais afastado da corrente anticapitalista que lidera o eurodeputado Miguel Urbán e a secretária-geral na Andaluzia, Teresa Rodríguez, e é mais bem visto pelo PSOE quando se fala de formar governo. A estas contradições na cúpula fundadora do Podemos juntam-se a perda de controlo dos agrupamentos autonómicos e locais. A Andaluzia é um bom exemplo, mas não o único. Os líderes do partido em Navarra não descartam um acordo com Bildu, o que põe em causa a estratégia nacional do Podemos, e decidiram juntar ao seu programa eleitoral a celebração de um referendo para incluir a união de Navarra ao País Basco.
Queda nas sondagens
Nas sondagens publicadas em vários meios de comunicação com a intenção de voto dos espanhóis em caso de repetição das eleições, o Podemos perde força. Por exemplo, a realizada pelo Sigma-Dos para El Mundo mostra uma perda de 20 deputados (de 69 para 49) enquanto PP e Ciudadanos crescem e PSOE se mantém. Pablo Iglesias é o líder mais mal avaliado pelos eleitores. Este cenário, que se junta à tensão entre Iglesias e Errejón, faz pensar num possível acordo do Podemos com a Esquerda Unida (IU) nas possíveis eleições de 26 de junho. Errejón foi quem mais criticou esta aliança com o partido liderado por Alberto Garzón, a que as sondagens dão agora um melhor resultado do que a 20 de dezembro (passaria de 2 a 6 deputados).
Venezuela
Sempre houve dúvidas sobre o financiamento do Podemos e a possível entrada de capital na formação procedente do estrangeiro. Segundo consta num documento oficial da Venezuela de 2008, assinado pelo ministro das Finanças Rafael Isea, o executivo de Hugo Chávez pagou pelo menos sete milhões de dólares aos atuais dirigentes do Podemos para expandir o "movimento bolivariano" em Espanha. A ajuda foi canalizada através do Centro de Estudos Políticos e Sociais, o germe do partido, que recebeu diretamente o dinheiro.
O documento foi revelado no início deste mês pelos jornais ABC e El Confidencial e confirma as suspeitas já há muito publicadas da relação entre o Podemos e o governo da Venezuela, mas sempre negadas pelos líderes. A polícia espanhola está a investigar este documento dentro do processo aberto por um suposto financiamento ilegal do partido de Iglesias.
Esta nova vaga de problemas soma-se aos já vividos por Iglesias no ano passado. Outro dos seus homens de confiança e fundador do Podemos, Juan Carlos Monedero, deixava todos os cargos em abril de 2015, depois de criticar algumas das estratégias políticas do partido. Antes, o partido teve de fazer frente à polémica pelo caso das irregularidades nas Finanças de Monedero. Quase ao mesmo tempo era conhecida a notícia da rutura sentimental de Iglesias com Tânia Sánchez, ex-deputada da IU. Não foi só uma fratura sentimental mas também política.
Fonte:http://www.dn.pt/mundo/interior/inigo-sondagens-e-ligacao-a-venezuela-dores-de-cabeca-de-iglesias-5130659.html?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
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