Euronews, 19/04/2016.
Numa altura em que a oposição síria pede a suspensão das negociações sobre o processo de paz até que as armas se calem, a reação do regime de Damasco não se faz esperar.
A jornalista Faiza Garah, falou com o responsável da delegação do governo sírio em Genebra, Bachar Jaffari.
Faiza Garah, euronews:
Os senhores organizaram recentemente eleições legislativas que a oposição considera ilegais…
Bachar Jaffari: “A oposição é que não é legal. Todos os que dizem que estas eleições não são legais é porque eles próprios não são legais. Isto é apenas a opinião de uma parte da oposição e não de todas as oposições. Você sabe, quando tratamos, por exemplo com a Arábia Saudita, o que é que eles querem? Querem destruir o Estado sírio. Não procuram uma solução para a crise síria. Como viu hoje eles estão a especular, há apenas alguns minutos anunciaram que vão congelar as negociações. São como as crianças, é preciso dar-lhes bombons, para que possam trabalhar e seguir o processo político”.
E: "Há muitos que dizem que a Síria não é senhora das suas decisões, porque há a intervenção da Rússia, do hezbollah e dos iranianos…
B.J: “Qualquer que seja a força, o estado, a autoridade, que nos ajude a combater o terrorisme de forma clara e coordenada com o exército sírio e com o governo sírio, é bem vinda. Quer sejam os aliados russos, os hezbollah, os iranianos. Estão todos a tentar combater o terrorismo em solo sírio com o acordo do governo sírio e a pedido do governo sírio”.
E: Qual é o papel da Europa na resolução da crise síria?
B.J: “Hoje temos um novo fenómeno que é o terrorismo europeu. Antes eles pensavam que havia um terrorismo árabe e islâmico. Hoje somos vítimas do terrorismo europeu, que provém de Bruxelas, de Paris, de Londres, de Espanha, da Alemanha, da Itália”.
E: Portanto, o senhor considera que a Europa apoia o terrorismo?
B.J: “Claro, esses governos facilitaram a passagem destes terroristas para a Síria e para o Iraque. Não me quer fazer crer que um terrorista que deixa Paris, Londres, Bruxelas, Boston ou a Austrália e que chega à Síria sem visto, sem passaporte, pode atravessar dezenas de estados e a fronteira turco-síria ou jordano-síria sem que os serviços de informação vigiem as respetivas operações”.
E:“Então, quais são os estados que acusa de terrorismo?
B.J: “Por cada terrorista que vem da Europa, o governo é responsável, quer seja francês, britânico, belga, espanhol ou italiano. São os governos os responsáveis por cada terrorista que tem vindo para o nosso país. Quando os primeiros-ministros britânico, francês ou australiano ameaçam que vão retirar a nacionalidade dos terroristas que regressem à Europa, querem dizer o quê? Querem dizer que encorajam os terroristas a ficarem na Síria e a não regressarem à Europa? Se estes estados quisessem verdadeiramente acabar com os terroristas que atuam na Síria e no Iraque, tê-los-iam impedido de sair dos respetivos países”.
E: Israel realizou uma reunião inédita em território dos Golãs. Em sua opinião porque é que a fizeram agora?
B.J: “Nós temos o apoio da resolução 497 das Nações Unidas, que data de 1981. É uma resolução que foi votada por unanimidade, o que quer dizer que os Estados Unidos, a França e a Grã-Bretanha estavam de acordo. Esta resolução é bastante importante, uma vez que recusa categoricamente a anexação dos Golãs, a sua ocupação e a imposição de legislar sobre o território ocupado nos Golãs. A resolução considera que a anexação é caduca, nula e sem fundamento legal”.
Nota do editor do blog: é verdade que muitos dos combatentes do Estado Islâmico vêm da Europa, e que eles auxiliam e muito as forças do grupo terrorista. Mas não é verdade que isso é inteiramente culpa da Europa, pois os membros do Estado Islâmico, em sua maioria, se originaram na Síria, e não na Europa, pois eles eram rebeldes dos tempos da Primavera Árabe. Portanto, isso torna as palavras do tal porta-voz do governo uma meia verdade. Outro ponto é que o regime é legítimo: certa feita, uma pessoa disse que o regime protegia minorias cristãs; protegia entre aspas - ele permitia que eles pudessem conviver com os demais, isso não significa que a liberdade era plena, como participar da política, e poder governar suas próprias vidas. Assad e seu pai só são chamados de ditadores, por causa disso. Do que adianta os cristãos poderem viver sua fé num regime dum grupo muçulmano “moderado”, se eles não podem ter vida pública, participar ativamente das decisões legislativas? Individualmente falando?Viver sob um regime, significa que eles terão que conviver com os seus desmandes. Senão fosse pelo regime Socialista-Islamita de Assad, os cristãos não constituiriam uma maioria, e poderiam governar suas vidas. Os opositores do regime, também muçulmanos, são os mesmos que deram suporte ao regime no passado, ou seja, Assad está colhendo o que plantou. E os cristãos, que são a minoria da minoria, agora vivem sob o cerco, dum regime que não os protege de fato, pois nunca lhes deu visibilidade na vida pública, mas os tratam como bichinhos de estimação, minorias que ele alega proteger, mas que não têm poder de decidir qual o melhor rumo para suas vidas, e muito menos poder armado. Ele não é diferente dos Otomanos, que escravizavam os cristãos, e permitiam que vivessem suas vidas sob o regime.Vive a mercê dum regime despótico que enfrenta opositores que seguem a mesma ideologia que ele, não é de fato liberdade, é sim viver sob o constante medo dum iminente fim. O modelo de Assad é o mesmo usado por Putin: os cristãos podem viver sua religião, pregar sua fé, evangelizar; contanto que não contrarie o regime, e que endosse tudo o que ele fizer, mesmo que signifique se perpetua no poder. Isso não é ser livre mesmo! Viver sob um regime, significa que devem concordar com ele, para que tenham algum tempo de vida. No caso do Assad, ele não se importa se a ajuda for o Hezbollha – que mata mulheres e crianças judias – ou o Irã – que mata cristão a granel e opositores de todas as espécies. Fora os atentados.
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