7 de abr. de 2016

18.ª Cimeira franco-alemã: Merkel e Hollande juntos por Schengen







Euronews, 07/04/2016








Angela Merkel e François Hollande sublinharam esta quinta-feira, em Metz, França, a necessidade de uma cooperação europeia forte para uma melhor gestão dos problemas que se colocam à União Europeia. A Chanceler alemã e o Presidente francês mostram-nos unidos no esforço de aumentar a proteção das fronteiras externas e retomar em pleno a livre circulação interna do acordo de Schengen.

Pouco mais de duas semanas após os atentados de Bruxelas, a crise de refugiados, o acordo com a Turquia, o combate ao terrorismo e à evasão fiscal dominaram o “menu” do 18.° Conselho de Ministros franco-alemão, ao qual se juntaram ainda, entre outros, o primeiro-ministro francês Manuel Valls e os responsáveis por ambas as pastas das Finanças.

As conversas entre Michel Sapin e Wolfgang Schaüble terão-se focado no recente escândalo espoletado pela investigação jornalística intitulada “Documentos do Panamá”, a qual o ministro alemão, de acordo com François Hollande, considerou “uma boa novidade” por vir contribuir para “um melhor rastreamento de fraude, dos criminosos”. “Se há empresas na Europa envolvidas neste tipo de comportamentos, elas serão processadas” perspetivou Hollande, com Merkel a sublinhar também a luta em curso contra o “branqueamenmto de capitais.

Para o Presidente francês, uma das prioridades entre os “28” é o regresso à implementação do acordo de Schengen, posto em causa por alguns dos países membros que fecharam as respetivas fronteiras para estancar a massiva travessia de migrantes clandestinos e refugiados.




Temos de voltar, o mais rápido possível, a implementar os procedimentos de Schengen, assegurando em simultâneo, com dignidade, o regresso (à origem) dos migrantes que não têm o direito de se instalar na Europa. É este o sentido do que foi alcançado com o acordo envolvendo a Turquia e a Grécia”, sublinhou François Hollande.

A Chanceler alemã, por seu lado, focou-se nas fronteiras externas e lembrou que, tal como a Turquia, também a Líbia deve ser olhada com atenção face à luta que está a ser travada com os “facilitadores”, termo pelo qual são denominados os “piratas” que têm lucrado com as travessias clandestinas do Meditterrâneo por migrantes a caminho da Europa.

Por razões de segurança e de confiança dos cidadãos dos nossos países, temos de mostrar que somos capazes de proteger as nossas fronteiras externas. Se olharmos à situação territorial na Europa, vemos que há uma vizinhança muito diversa; que as fronteiras marítimas são mais difíceis de proteger do que as terrestres; e que precisamos de cooperação com os nossos vizinhos. Isto aplica-se à Turquia e vai também aplicar-se, agora, à Líbia”, alertou Angela Merkel.

Uma das novidades a ser implementada será a criação de um Conselho de Integração franco-alemão destinado a ajudar os refugiados acolhidos no acesso a educação, nomeadamente à aprendizagem do idioma do país de acolhimento, ao mercado de trabalho e a uma vida com dignidade no seio da UE.

O projeto foi debatido entre estudantes alemães e franceses com Merkel e Hollande numa iniciativa intitulada “Café do Mundo”, à margem do Conselho de miniustros franco-alemão.

O novo organismo foi sugerido por um relatório produzido e apresentado esta quinta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, e Annegret Kramp-Karrenbauer, presidente da Associação Alemã de Educação para Adultos e ministra-presidente de Sarre, um dos 16 estados federados da Alemanha.




O polémico referendo na Holanda de quarta-feira, em que ganhou o “não” ao acordo europeu com a Ucrânia, não foi ignorado em Metz. Merkel e Hollande garantem que os países países vão continuar a apoiar a associação política e comercial entre Bruxelas e Kiev iniciada em 2014 apesar de continuar a faltar a aprovação holandesa para a necessária unanimidade entre os “28” que permite a total implementação do acordo.

No que toca à Europa, a associação vai ser implementado tanto quanto possível. No que toca a França e Alemanha, vamos continuar a apoiar a Ucrânia e a aplicar o acordo de associação nos nossos países”, garantiu o Presidente gaulês. A Chanceler alemão acrescentou: “Conseguimos resolver outros dossiês difíceis. Julgo que também seremos capazes de resolver esta dificuldade. Remetemos essa questão para as autoridades holandeses e para as instituições europeias.”


Nota do editor

O resumo do artigo é o mesmo de sempre: Merkel e os seus homólogos vão continuar com suas políticas, e mantendo de pé o acordo feito com a Turquia para trazer menos refugiados para Europa. No tocante a Ucrânia, eles pretendem continuar mantendo laços para quiçá no futuro, possam firmar duma vez uma cooperação mais ampla, para que o país esteja plenamente integrado. A questão da Ucrânia é muito sensível, visto que os europeus hoje estão cansados das políticas de portas abertas de imigração, e também não veem com bons olhos países que acalentam a União Europeia. O sentimento “anti-Europa” como chamam foi muito bem explorado por diversos grupos de interesses, e, muitos deles, ligados ao Kremlin.

Para os europeus a chegada de mais um para a “família” europeia é um transtorno, e não alivio. Uma coisa que os meus colegas de rede não perceberam, e que ficou evidente pelo referendo na Holanda e também pela repercussão na mídia “conservadora”, e anti-islâmica, é que muitos desses holandeses, assim como os europeus de modo geral não veem a Ucrânia com bons olhos, desde antes deste referendo. Parece algo inacreditável, mas é a mais pura verdade. Os europeus – principalmente da Europa Ocidental – não sentem qualquer apreço pela Ucrânia; e no dia daquele evento em Maidan, durante e após o evento, os europeus não emitiram nenhum sentimento para com eles.

O sentimento anti-Europa torna a Ucrânia para eles um anátema, pois eles veem no país uma espécie de pedinte clamando por mais burocracia, e também servindo de molde para atrair países que eles consideram fracos e com legislações corruptas, cuja única finalidade é se beneficiar do sistema de bem-estar social dos países ricos. Para os europeus ocidentais, a Ucrânia é como um país de terceiro mundo, que está rodeando os mais afortunados; e se somarmos isso mais a propaganda russa feita após a anexação da Criméia, torna a coisa ainda pior.

Quando a Rússia anexou a Criméia, o país já tinha fama de ser o antagonista da União Europeia, e alguns europeus enxergavam em Putin um papel de liderança. Após anexação, essa propaganda se tornou ainda mais forte, pois Putin tentou passar a imagem de que ele era um democrata, e que a invasão da Criméia era justificável: ele propôs um referendo, e após o referendo ter sido favorável ao Kremlin, os europeus passaram a ver a Ucrânia como um país marginal que só causa problemas; e sua reivindicação por uma cidadania europeia tornou o país ainda mais anátema para eles.

É por isso que os holandeses disseram “Não” para a renovação dos acordos entre a União Europeia e a Ucrânia, porque para eles a adesão da Ucrânia seria o mesmo que dar mais poder para a organização, que eles agora consideram antidemocrática, porque está impondo sobre eles a imigração em massa. O referendo do Reino Unido será a pá de terra que falta no caixão da União Europeia, e se ele consolidar o “Sim” para a saída, então isso significa que nesse embalo irão: França, Holanda, Hungria e os demais que se sentirem compelidos para tal. Parte do que ocorreu nesse referendo pode acabar por influenciar os demais, mas somente em julho é que saberemos qual o sentimento geral dos europeus, quando a Grã-Bretanha abandonar finalmente a União Europeia. Para os ucranianos, ficar longe da Rússia é ainda melhor do que fazer parte duma “grande família” europeia, onde as oportunidades são imensas. A propaganda do ideário europeu fez deles presas, mas não mais encanta os europeus ocidentais.

No imaginário popular dos europeus ocidentais, quanto mais União Europeia, mais Islã, mais abuso, e menos liberdade. Sair da União Europeia não significa que o problema com o Islã estará terminado, mas que os países em suas respectivas legislações encontraram empecilhos para cooperar em questões de segurança: pois nenhum país quererá se envolver com outro, se os seus cidadãos impedirem por meio de aclamação popular. E é isso o que é realmente perigoso.

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