DN, 23/03/2016.
Atentado reivindicado pelo Estado Islâmico fez pelo menos 30 mortos em Bruxelas. Suspeito dos ataques de Paris já tinha alertado para este cenário
Alguém reconhece o homem de branco e chapéu da fotografia acima? Esta é a pergunta do momento. A imagem foi captada ontem de manhã pelas câmaras de videovigilância do aeroporto de Bruxelas e mostra três suspeitos do ataque naquele local. Segundo o Ministério Público belga as duas explosões foram "provavelmente" feitas por suicidas, os homens de camisolas pretas, estando a polícia a procurar "ativamente" o terceiro protagonista da foto. Os atentados de ontem, reivindicados pelo Estado Islâmico e que fizeram pelo menos 31 mortos e à volta de 200 feridos, ocorreram quatro dias após a detenção de Salah Abdeslam, um dos principais suspeitos dos ataques de novembro em Paris e até então o homem mais procurado da Europa.
"É muito cedo para estabelecer uma ligação com os ataques de Paris", dizia ontem ao final da tarde o procurador federal da Bélgica, Frédéric Van Leeuw. Esta é a posição oficial. Mas de forma não oficial vários responsáveis belgas admitem que era suposto o francês - que se encontra detido em Bruges, a única prisão do país com um nível de segurança que permite uma ala para terroristas - ter participado nos atentados de ontem em Bruxelas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros belga já havia dito que Salah planeava fazer "qualquer coisa" em Bruxelas depois dos atentados de Paris, uma revelação feita pelo terrorista às autoridades após a sua detenção. "Os primeiros comentários de Salah Abdeslam ontem [sábado] foram que queria ir ao Stade de France e que ia fazer-se explodir, mas não o fez. E a outra informação foi que estava disposto a recomeçar qualquer coisa em Bruxelas", disse o ministro. "E provavelmente é verdade porque encontrámos muitas armas, armas pesadas, nas primeiras investigações e encontrámos uma rede nova em volta dele em Bruxelas", acrescentou.
Uma fonte do governo adiantou que o suspeito agora procurado foi visto a fugir do aeroporto, enquanto os media locais referiam que tinha sido encontrado um cinto de explosivos no local.
Engenho explosivo e químicos
Outra questão ainda por responder, por causa da má qualidade da imagem retirada da videovigilância do aeroporto de Zaventem, é se o agora homem mais procurado da Europa será Najim Laacharaoui, de 25 anos, identificado na sequência dos interrogatórios a Abdeslam como mais um presumível cúmplice da investigação sobre os atentados de Paris e cuja foto foi divulgada na segunda-feira.
O ADN deste suspeito foi encontrado no "material explosivo utilizado nos ataques" de 13 de novembro. Laacharaoui, que partiu para a Síria em fevereiro de 2013, é procurado desde 4 de dezembro. Tinha sido controlado no início de setembro sob a falsa identidade de Soufiane Kayal na fronteira austro-húngara na companhia de Salah Abdeslam e de Mohamed Belkaid, um argelino de 35 anos abatido pela polícia belga na terça-feira da semana passada em Forest, um bairro da zona sudoeste de Bruxelas.
Sob o nome de Kayal tinha alugado uma casa na cidade belga de Auvelais, usada para preparar os atentados de Paris. Os investigadores também suspeitam que, tal como Belkaid, tenha estado em contacto com os bombistas suicidas da capital francesa na noite dos ataques.
Na operação da semana passada em Forest a polícia belga encontrou detonadores, onde também estavam armas de guerra e carregadores. Estes detonadores deveriam ser utilizados no fabrico de engenhos explosivos estavam escondidos na casa onde se refugiu Abdeslam.
"Várias investigações estão em curso em vários locais do país, várias testemunhas estão a ser igualmente ouvidas", precisou o procurador federal belga, Frédéric Van Leeuw. Nas buscas realizadas no bairro de Schaerbeek, em Bruxelas, depois dos atentados da manhã foram encontrados um engenho explosivo com pregos, bem como produtos químicos e uma bandeira do Estado Islâmico, que reivindicou as ações terroristas de ontem.
"Prometemos à aliança de cruzados contra o Estado Islâmico que terão dias sombrios em troca da sua agressão contra o Estado Islâmico", referiu o grupo terrorista em comunicado, precisando que os autores dos atentados de ontem usaram "cintos explosivos, bombas e espingardas metralhadoras" no "aeroporto de Zaventem e numa estação de metro", que foram "cuidadosamente escolhidos" para "matar o maior número de cruzados".
Antes deste comunicado, a televisão pública VRT já havia noticiado que a polícia tinha encontrado uma kalashnikov junto ao corpo de um dos terroristas do aeroporto. Estas armas tornaram-se uma imagem de marca dos atentados do Estado Islâmico na Europa, como se verificou em Paris em novembro.
Alphonse Youla, de 40 anos, que trabalha no aeroporto, disse à Reuters ter ouvido um homem a gritar em árabe antes da primeira explosão. "E então o tecto de vidro do aeroporto colapsou", contou.
Nota do editorComeça uma nova caçada, por homens que são aderentes duma ideologia (não religião) que reproduz mais e mais adeptos, num ciclo infindável, assim, fazendo com que o ciclo de caça nunca termine. Assim como lutar contra a corrupção não acaba com a corrupção, lutar contra extremistas islâmicos, não põe fim ao extremismo. Não são apenas os agentes das ações que devem ser combatidos, mas os princípios norteadores que movem essas pessoas para colocarem em prática as suas ações, ou seja, o próprio Islã, e não os extremistas islâmicos, que sim, devem ser combatidos, mas devem ter em mente que sua ideologia se tornou na Terra anátema. Então assim, os agentes das ações influenciadas por essa ideologia passam a temer.A lógica que os países europeus usam para lutar contra o extremismo, e não com o Islã, é a mesma lógica empregada pelos nossos militares, que preferiram lutar contra o extremismo da esquerda armada, do que lutar contra a própria ideologia em si. E hoje nós colhemos os frutos amargos, infelizmente.
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