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29 de abr. de 2019

O Incêndio na Notre Dame e a Destruição da Europa Cristã

Gatestone, 27 de abril de 2019 









  • Apenas uma hora após as chamas começarem a subir na Catedral de Notre Dame, quando não havia a menor possibilidade de explicar as causas do incêndio, as autoridades francesas se apressaram em adiantar que o incêndio ocorreu em consequência de um "acidente" e "incêndio doloso foi descartado." As declarações soaram como todas e quaisquer declarações oficiais feitas pelo governo francês após a ocorrência de ataques na França na última década.
  • O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorre justamente quando ataques contra igrejas na França e na Europa estão se multiplicando. Mais de 800 igrejas foram atacadas na França só no ano de 2018.
  • As igrejas na França estão vazias. O número de padres está diminuindo e os padres que estão na ativa na França estão muito velhos ou vêm da África ou da América Latina. Agora a religião dominante na França é o Islã. Todos os anos igrejas são demolidas para dar lugar a estacionamentos ou shopping centers. Mesquitas estão sendo construídas em todos os lugares e estão lotadas.



O fogo que destruiu grande parte da Catedral de Notre Dame, no coração de Paris, é uma tragédia irreparável. Ainda que a catedral seja reconstruída, ela jamais será a mesma. Vitrais e importantíssimas estruturas arquitetônicas foram seriamente danificadas e a moldura de carvalho totalmente destruída. A flecha da catedral era uma obra de arte sem igual. Ela foi desenhada pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc que restaurou a catedral no século XIX, baseando seu trabalho em registros do século XII.


Além do incêndio, a água imprescindível para extinguir as chamas penetrou no calcário das paredes e da fachada, enfraquecendo-as, fragilizando-as. O telhado já não existe mais: a nave, o transepto e o coro encontram-se a céu aberto, vulneráveis ao mau tempo. Eles sequer têm condições de serem protegidos até que a estrutura seja examinada minuciosamente, tarefa que levará semanas. Três elementos primordiais da estrutura (o pinhão do transepto norte, o pinhão localizado entre as duas torres e a abóbada) também estão à beira do colapso.

A Catedral de Notre Dame tem mais de 800 anos. Ela sobreviveu à turbulência da Idade Média, ao Reino de Terror da Revolução Francesa, a duas Guerras Mundiais e à ocupação nazista de Paris. Não sobreviveu ao que a França está se tornando no século XXI.

Até agora, a causa do incêndio foi atribuída a "um acidente" "um curto-circuito" e mais recentemente "a uma falha no computador."

Se o incêndio realmente fosse um acidente, seria praticamente impossível explicar como ele começou. Benjamin Mouton, ex-arquiteto chefe da Notre Dame, explicou que as normas eram excepcionalmente rígidas e que nenhum cabo nem aparelho elétrico e nenhuma fonte de calor poderia estar no sótão. Ele salientou que havia um sistema de alarme extremamente sofisticado. A empresa que instalou o andaime não utilizou nenhuma soldagem e era especializada neste tipo de trabalho. O incêndio começou mais de uma hora após a saída dos funcionários e nenhum deles se encontrava nas dependências da Catedral. O fogo se espalhou num piscar de olhos, os bombeiros correram imediatamente para o local, chegando lá ficaram estupefatos. Remi Fromont, arquiteto chefe dos monumentos históricos da França ressaltou: "não tinha como o fogo começar a partir de algum item presente no local de onde ele se originou. É preciso uma gigantesca fonte de calor para desencadear um desastre dessa magnitude".

Será realizada uma investigação longa, difícil e complexa.

A possibilidade de que o incêndio tenha ocorrido em consequência de um ato criminoso não pode ser descartada. Apenas uma hora após as chamas começarem a subir na Catedral de Notre Dame, quando não havia a menor possibilidade de explicar as causas do incêndio, as autoridades francesas se apressaram em adiantar que o incêndio ocorreu em consequência de um "acidente" e "incêndio doloso foi descartado." As declarações soaram como todas e quaisquer declarações oficiais feitas pelo governo francês após a ocorrência de ataques na França na última década.

Em novembro de 2015, na noite do massacre na Casa Noturna Bataclan, em Paris, quando os jihadistas assassinaram 90 pessoas, o Ministério do Interior da França sustentou que o governo não sabia de nada, a não ser que tinha havido um tiroteio. A verdade veio à tona somente após o ISIS assumir a responsabilidade pelo massacre.

Em Nice, após o ataque dos caminhões de julho de 2016, o governo francês insistiu por vários dias que o terrorista que atropelou 86 pessoas era um "homem que havia sofrido colapso mental".

Em 2018, o assassino de Sarah Halimi, que recitou versos do Alcorão enquanto torturava a vítima, foi considerado "mentalmente perturbado", foi enviado a uma instituição psiquiátrica logo após a detenção. Provavelmente ele jamais será julgado. Em 8 de abril, Alain Finkielkraut e outros 38 intelectuais publicaram uma matéria realçando ser imperativo que o assassino não se esquive da justiça. A matéria não surtiu efeito.

O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorreu menos de três anos depois que um "comando" de mulheres jihadistas, posteriormente presas, procurou destruir a Catedral detonando cilindros de gás natural. Três dias antes do incêndio da semana passada, em 12 de abril, Ines Madani, líder dos jihadistas, um jovem francês convertido ao Islã, foi condenado a oito anos de prisão por criar um grupo terrorista filiado ao Estado Islâmico.

O incêndio na Catedral de Notre Dame ocorre justamente quando ataques contra igrejas na França e na Europa estão se multiplicando. Mais de 800 igrejas foram atacadas na França só no ano de 2018. Muitas sofreram sérios danos: estátuas quebradas e decapitadas, tabernáculos destruídos, fezes atiradas contra as paredes. Atearam fogo em inúmeras igrejas. Em 5 de março, a Basílica de St. Denis, onde estão enterrados todos os reis da França, menos três, foi profanada por um refugiado paquistanês. Vários vitrais foram quebrados e o órgão da basílica, um tesouro nacional construído entre 1834 e 1841, por pouco não foi totalmente destruído. Doze dias depois, em 17 de março, atearam fogo em Saint Sulpice, a maior igreja de Paris, causando sérios danos. Após dias de silêncio, a polícia finalmente admitiu que foi criminosa a causa do incêndio.

Por meses a fio, organizações jihadistas vêm emitindo comunicados incentivando a destruição de igrejas e monumentos cristãos na Europa. A Catedral de Notre Dame foi reiteradamente apontada como alvo prioritário. Mesmo assim, a Catedral não estava adequadamente protegida. Em novembro passado, dois jovens entraram na Catedral à noite, subiram no telhado gravaram um vídeo e na sequência postaram-no no YouTube.

Um sem-número de mensagens foram postadas por pessoas com nomes muçulmanos nas redes sociais, Twitter, Facebook e no site da Al Jazeera, manifestando júbilo ao ver um importante símbolo cristão destruído. Hafsa Askar, uma imigrante do Marrocos e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes da França (UNEF), a principal organização estudantil da França, postou um tuíte com os seguintes dizeres: "as pessoas estão chorando por causa de pequenos pedaços de madeira... é uma ilusão de lixo branco".

O presidente francês Emmanuel Macron, que nunca se referiu aos ataques a Saint Denis ou Saint Sulpice, foi correndo até a Catedral de Notre Dame e declarou: "Notre Dame é nossa história, nossa literatura, nossa imaginação". Ele deixou totalmente de fora a dimensão religiosa da catedral.

Na noite seguinte, ele disse que a Notre Dame seria reconstruída em cinco anos: sem dúvida uma declaração ousada. Muitos analistas interpretaram as palavras de Macron como sendo ditadas pelo desespero em recuperar a confiança do povo francês após cinco meses de manifestações, distúrbios e destruição decorrentes de sua ineficiente gestão no tocante ao levante dos "Coletes Amarelos". (Em 16 de março, grande parte do Champs-Élysées foi danificada por vândalos; os reparos mal começaram.) Os especialistas são unânimes em dizer que é praticamente certo que levará muito mais do que cinco anos para reconstruir a Catedral de Notre Dame.

Causa espécie que Macron tenha salientado que a catedral ficará ainda "mais bonita" do que antes, como se um monumento seriamente danificado poderia ficar mais bonito após a restauração. Macron então realçou que a reconstrução seria um "gesto arquitetônico contemporâneo". A observação suscitou apreensão, para não dizer pânico, entre os defensores de monumentos históricos, que agora temem que ele estaria disposto a incluir elementos arquitetônicos modernos a uma joia da arquitetura gótica. Mais uma vez, ele deixou totalmente de fora a dimensão religiosa da catedral.

A atitude de Macron não toma ninguém de surpresa. A partir do momento em que se tornou presidente, ele se manteve longe de qualquer cerimônia cristã. A maioria dos presidentes que o precederam fizeram o mesmo. A França é um país onde o secularismo dogmático reina supremo. Um líder político que se atreva a dizer que é cristão é imediatamente criticado na mídia e só tende a prejudicar uma carreira política em ascensão. Nathalie Loiseau, ex-diretora da Escola Nacional de Administração da França e candidata que estava no topo da lista dos candidatos do partido de Macron, "Em Marcha", para as eleições do Parlamento Europeu de maio de 2019, foi recentemente fotografada saindo de uma igreja após a missa, o que levou a um debate na mídia sobre a sua ida à igreja, se isso pode ser considerado um "problema".

As consequências do secularismo francês saltam aos olhos. O cristianismo foi praticamente eliminado da vida pública As igrejas estão vazias. O número de padres está diminuindo e os padres que estão na ativa na França estão muito velhos ou vêm da África ou da América Latina. Agora a religião dominante na França é o Islã. Todos os anos, igrejas são demolidas para dar lugar a estacionamentos ou shopping centers. Mesquitas estão sendo construídas em todos os lugares e estão lotadas. Imãs radicais são proselitistas. O assassinato, há três anos, de Jacques Hamel, um padre de 85 anos de idade que foi massacrado por dois islamistas enquanto celebrava a missa em uma igreja onde apenas cinco pessoas (três freiras idosas) estavam presentes, já diz tudo.

Em 1905 o parlamento francês aprovou uma lei decretando que todas as propriedades da Igreja Católica na França seriam confiscadas. Igrejas e catedrais viraram propriedade do Estado. Desde então, sucessivos governos gastaram pouco dinheiro com a conservação delas. As igrejas que não foram profanadas estão em péssimo estado e a maioria das catedrais também está nas mesmas condições. Mesmo antes do devastador incêndio, a Arquidiocese de Paris declarou que "não tem condições de arcar com todas as despesas" necessárias para manter a Catedral de Notre Dame, "estimada em US$185 milhões." Segundo a CBS News, em 20 de março de 2018:

O governo francês, dono da catedral, prometeu US$50 milhões para a próxima década, deixando uma conta em aberto de US$135 milhões. Para levantar o restante, Picaud ajudou a lançar a Fundação Amigos da Notre-Dame de Paris. Ela trabalha para encontrar doadores do setor privado tanto na França quanto do outro lado do Atlântico.

"Sabemos que os americanos são ricos, de modo que iremos onde acreditamos que temos condições de arrecadar dinheiro para ajudar a restaurar a catedral", ressaltou Picaud.

Na noite do incêndio na Catedral de Notre Dame, centenas de franceses se aglomeraram em frente à catedral em chamas para cantar salmos e rezar. De repente, parecia que eles estavam entendendo que estavam perdendo algo imensamente precioso.

Após o incêndio, o governo francês decidiu receber doações de pessoas, empresas e organizações do setor privado para a reconstrução; foram arrecadados mais de um bilhão de euros. Bilionários franceses prometeram doar vultuosas somas de dinheiro: a família Pinault (os principais proprietários do conglomerado varejista Kering) prometeu 100 milhões de euros, a família Arnault (proprietária da LVMH, a maior empresa de artigos de luxo do mundo), 200 milhões de euros, a família Bettencourt (proprietária da L'Oréal), também 200 milhões. Muitos da "esquerda" francesa imediatamente disseram que as famílias abastadas tinham dinheiro demais e que esses milhões seriam melhor empregados se ajudassem os pobres ao invés de se preocuparem com pedras antigas.

Por um bom tempo, o coração de Paris terá que arcar com as terríveis cicatrizes de um incêndio que devastou muito mais do que uma catedral. O fogo destruiu uma parte essencial do que restou da alma quase perdida da França e do que a França podia realizar quando os franceses acreditavam em algo superior que a sua própria existência do dia-a-dia.

Alguns nutrem a esperança de que a visão da catedral destruída inspire muitos franceses a seguirem o exemplo daqueles que rezavam na noite do desastre. Michel Aupetit, Arcebispo de Paris, salientou em 17 de abril, dois dias depois do incêndio, que ele tinha total convicção que a França experimentaria um "despertar espiritual".

Outros, não tão otimistas, veem nas cinzas da catedral um símbolo da destruição do cristianismo na França. O historiador de arte Jean Clair disse que ele vê na destruição da Catedral de Notre Dame mais um sinal da "irreversível decadência" da França e do colapso final das raízes judaico-cristãs da Europa.

O colunista americano Dennis Prager escreveu:

"O simbolismo do incêndio da Catedral de Notre Dame, a mais renomada construção da civilização ocidental, símbolo icônico da cristandade ocidental, é difícil de deixar passar.

"É como se o próprio Deus quisesse nos advertir, da maneira mais inequívoca, possível que o cristianismo ocidental está em chamas e juntamente com ele a civilização ocidental".

Outro escritor americano, Rod Dreher, observou:

"Esta catástrofe ocorrida em Paris hoje é um sinal para todos nós cristãos e um sinal para todas as pessoas no Ocidente, especialmente aqueles que desprezam a civilização que construiu este grande templo para o seu Deus em uma ilha no Sena onde ritos religiosos eram celebrados desde os dias da Roma pagã. É um alerta do que estamos perdendo e do que não recuperaremos se não mudarmos de curso agora."

Por ora, nada indica que a França e a Europa Ocidental mudarão de curso.

Dr. Guy Millière, professor da Universidade de Paris, é autor de 27 livros sobre a França e a Europa.

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