Euronews, 31 de julho de 2016.
Dezenas de milhares de apoiantes do presidente turco, Tayyp Erdogan, encheram a margem direita do Reno, em Colónia, na Alemanha, numa altura em que as críticas se multiplicam face à purga interna que leva a cabo depois do golpe de Estado falhado.
O apelo à manifestação foi lançado pela união dos democratas europeus turcos. Os organizadores esperavam 50 mil pessoas e, segundo a polícia, o local encontra-se compactamente cheio.
Os manifestantes entoaram o hino turco, seguido do hino alemão e fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas do golpe de Estado falhado.
Milhares manifestam apoio a Erdogan em Colónia https://t.co/qBkPWfVXty pic.twitter.com/S7BH8pNUM9— Jornal de Notícias (@JornalNoticias) 31 de julho de 2016
A palavra de ordem da manifestação foi “contra o golpe de Estado, a favor da democracia”.
Um dos presentes dizia: “Uma coisa como aquela, o golpe de Estado, não devia acontecer. Imagine isso a acontecer na Alemanha. Quem permitiria isso? Ninguém iria permitir. Independentemente do país em que acontece, a democracia deve ser apoiada. Tudo deve ser conduzido de acordo com a justiça.”
A polícia interveio quando uma centena de turcos nacionalistas próximos da extrema direita e um número proporcional de curdos se envolveram em confrontos. Ninguém foi ferido.
ERDOGAN SPOX: Germany’s ban on Pres. Erdoğan’s video conference is unacceptable. German authorities must explain the ban - @DailySabah— Conflict News (@Conflicts) 31 de julho de 2016
PHOTO: ANTIFA and Kurdish anti-Erdogan protesters also getting ready in #Cologne Germany - @antifa_koeln pic.twitter.com/dc92ot6tee— Conflict News (@Conflicts) 31 de julho de 2016
Houve ainda a necessidade de dispersão, da parte das forças da ordem, de uma manifestação de 250 pessoas reunidas no centro da cidade por convocatória de um grupo islamófobo local. A polícia deu conta de uma atmosfera “agressiva”, mas sem registo de incidentes.
Houve ainda, da parte de uma associação alemã de ex-muçulmanos, uma manifestação anti-Erdogan.
Neste sábado (30 julho), Erdogan anunciou que fechará as academias militares da Turquia e que as forças armadas passarão a actuar sob o comando do ministro da Defesa. Depois do golpe falhado, os militares estarão assim sob mais apertado controlo governamental. Mais de 1700 militares foram destituídos desonrosamente esta semana pelo seu alegado papel no golpe de Estado, incluindo cerca de 40% dos almirantes e generais turcos..
Erdogan, que evitou a captura e uma eventual morte durante o golpe de Estado, declarou que o exército turco – o segundo maior da NATO – seria “muito mais forte” como resultado destas mudanças.
As mudanças acontecem numa altura em que o exército, tradicionalmente encarado como salvaguarda do secularismo da república, está sob tensão com a violência no sudeste maioritariamente curdo e com os ataques do Daesh na fronteira turca com a Síria.
4/ German Court's decision to ban directly Turkish President @RT_Erdogan to address a rally is completely against democratic values.— Ömer Çelik (@omerrcelik) 31 de julho de 2016
A presidência turca considerou “inaceitável” a decisão do tribunal alemão de proibir Erdogan de fazer uma video conferência com a multidão em Colónia. As autoridades alemãs crêem que um discurso de Erdogan inflamaria mais ainda as tensões no seio da diáspora turca na Alemanha, a mais importante do mundo, com o total de 3 milhões de pessoas, incluindo os alemães de origem turca.
Durante esta semana, a tensão entre os dois países subiu quando a Turquia pediu à Alemanha que extraditasse os membros presentes em território alemão pertencentes ao grupo de Fethullah Gülen, a quem acusa de haver incitado o golpe de Estado.
Os oponentes ao partido islamo-conservador no poder em Ancara (AKP) residentes na Alemanha têm-se dito vítimas de ameaças e de assédio no quadro das purgas decididas pelo poder.
É neste quadro de tensão que Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão dos negócios estrangeiros, declarou a um jornal alemão: “Importar as tensões políticas internas da Turquia para a Alemanha (…) e intimidar as pessoas com diferentes convições políticas , não é certo.”
As relações bilaterais estão já muito degradadas desde que, em junho, os deputados alemães votaram uma resolução em que classificavam como “genocídio” o massacre dos arménios sob o Império Otomano, em 1915. A resposta de Ankara foi proibir a visita de deputados alemães aos soldados de nacionalidade germânica estacionados na base da NATO em território turco, em Incirlik, no quadro da coligação contra o autoproclamado Estado Islâmico.
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