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20 de nov. de 2023

Javier Milei vence a eleição para presidente: a Argentina entre o Milei libertário e o Milei candidato



Nota do Editor: O que o Milei libertário realmente quer que o Milei candidato não disse? 


Javier Milei ganhou as eleições na Argentina neste domingo, 19 de Novembro. Neste segundo turno, o candidato conseguiu o apoio de Patrícia Bullrich e Maurício Macri, ex-presidente do país entre 2015 e 2019. Bullrich é uma figura histórica da esquerda argentina, tendo tido envolvimento com o terrorismo, ela fez parte de grupos estudantis e pelos direitos civis, e é conhecida como feminista. Ela se converteu "milagrosamente" em uma moderada, ao ponto de ser convidada por Macri para participar do seu governo liberal. Tendo sido parte do seu primeiro partido fundado em 2005, o Proposta Republicana, ela já se declarava "conservadora" há 18 anos atrás e sempre junto de Macri. Maurício Macri é um jovem líder do Fórum Econômico Mundial, fato ratificado pela boca do próprio fundador do Fórum, Klaus Schwab, em 2017. Como político, Macri se vendeu como um liberal econômico, uma via que o coloca nos gostos do isentismo político, pois não o torna nem conservador, nem estatista, e o deixa à vontade para se posicionar sobre os mais diversos temas. Durante sua campanha em 2015, Macri fez aliança com a ala conservadora da Argentina, e prometeu que não avançaria agendas identitárias e progressistas ratificando seu compromisso pela defesa da vida e da família. Mesmo que seu histórico como prefeito de Buenos Aires indicasse o contrário de seu compromisso enquanto político, pois durante sua gestão da capital argentina ele promoveu as paradas do orgulho gay diversas vezes. Os conservadores, no entanto, se contentaram, uma vez que a luta pela legalização do aborto estava ganhando ímpeto na América Latina. 

Macri por diversas vezes prometeu que manteria sua promessa; mas isso até que chegou o momento de pôr a mão na massa (ironicamente). No último ano de mandato, quando Macri tentou emplacar desesperadamente suas reformas econômicas, e houve forte oposição de setores da sociedade argentina, e também da classe política. Tal como agora com Milei, Macri não tinha maioria absoluta na Câmara, mas tinha uma certa maioria no Senado, porém, não era o suficiente caso as duas casas não atuassem em harmonia. O resultado foi que Macri começou a fazer concessões, pois como todo liberal "ele é pragmático". Da noite para o dia, Macri começou a tentar agradar a oposição em troca de votos, e quando não, pedia para que seus próprios deputados governistas e senadores votassem a favor das pautas, como uma forma de mostrar proximidade com a oposição peronista. Muitos deputados que se elegeram na aba dos conservadores se abstiveram vergonhosamente, porém, outros ainda tiveram o mínimo de vergonha de contrariar a orientação do governo de situação. Alguns conservadores estimam que o motivo de Macri ter sido tão assertivo na agenda progressista no fim do mandato foi por causa do FMI, que fez empréstimos que tornaram a crise atual muito mais aguda. O FMI, longe de ser apenas uma instituição financeira, também está por dentro de questões sociais como uma forma de fazer países devedores cumprir a agenda da ONU. Contudo, na época, poucas pessoas sabiam que ele era um jovem líder do FEM, e que seu interesse não era tornar a Argentina prospera, mas um modelo globalista.

Essas são as figuras  que (agora) estão em volta de Javier Milei, e que ajudaram, de certa forma, na sua eleição. Mas aqui estamos nós e o candidato eleito, tutelado por duas figuras sinistras, e cujas ideias (de Milei) não foram expostas em um passado distante, mas em tempos recentes, as quais estão muito bem documentadas. Desde o aborto, até a legalização das drogas e prostituição, passando pela venda de órgãos, Milei prova que é alguém difícil de se defender enquanto libertário. Mas o Milei que vimos é o Milei candidato, tal como Macri era em 2015. Muitas pessoas podem comprar pela conveniência o Milei candidato ignorando o Milei libertário que se apresentou muito recentemente. As pautas libertárias que o Milei defende não contrariam as agendas de Macri e Bullrich, pois elas são bandeiras que a esquerda também levanta. Mas os argentinos estão desesperados, e querem uma mudança, pois a esquerda peronista prova que quando governa, a única eficiência é a propaganda. 

Contudo, a pergunta que fica é: Milei realmente será um presidente conservador? Ou ele será um presidente libertário? A dolarização é possível em um cenário em que as moedas fiduciárias atuais se tornarão moedas digitais? O que aconteceria com a Argentina, caso o FED converta o dólar em moeda digital? Fato é que além de estar à mercê de um banco estrangeiro, o governo argentino não teria poder sobre a emissão da sua própria moeda. Além disso, a proposta de referendar o aborto é um tanto incoerente por parte de Milei: ele diz que é a favor da vida  mesmo tendo declarado que era a favor do aborto anteriormente , mas como candidato disse ser a favor de referendar a questão. Não é diferente do que Macri fez no seu último ano de mandato, no qual ele disse que aquilo que fosse votado não seria vetado – logo ele que disse que defenderia a vida desde a sua concepção. Ele simplesmente terceirizou para seus governistas e a oposição que obviamente era a favor do tema. Milei está simplesmente jogando para a galera, de modo a não se comprometer publicamente: típico de um liberal. Será que ele faria um referendo sobre a propriedade privada? Sobre as privatizações? Composição de ministérios? Sobre o fim do Banco Central, talvez? Obviamente que não. Há um sinal claro de conveniência no discurso de Milei. Há uma clara tutela de Milei por Macri, e também uma clara aceitação dela por Milei. Torço pelo melhor para a Argentina, mas diferentemente dos mais eufóricos, eu prefiro ser sóbrio, pois uma vez confiamos em um juiz linha dura que condenava corruptos e no fim das contas, ele não só se mostrou progressista e nosso inimigo, como amigo daqueles que promovem nossa destruição. Torçam, mas fiquem atentos! 




Euronews, 20/11/2023 

 

Por Teresa Bizarro 



Javier Milei eleito com 56% dos votos na segunda volta das eleições. O admirador de Donald Trump promete "reconstruir" o país

Uma vitória impossível de imaginar no início deste ano. Javier Milei, o candidato da extrema-direita, vai ser o próximo presidente da Argentina.

Aos 53 anos, o homem que entrou na corrida sem qualquer favoritismo, ganhou a segunda volta das eleições com 56% dos votos - mais 12 pontos que o candidato da continuidade, o peronista Sérgio Massa.




Milei, confesso admirador de Donald Trump, fala em "mudança histórica" para a Argentina. Já recebeu as felicitações do antigo presidente dos Estados Unidos. Também o ex-chefe de Estado brasileiro Jair Bolsonaro esteve entre os primeiros a felicitar o líder populista.

Sergio Massa aceitou a derrota muito antes de todos os votos estarem contados. Apesar de uma inflação anual acima dos 140% e de quase metade da população viver em pobreza, o ainda ministro da Economia teve 44% dos votos

Não é claro se Massa manterá a pasta no governo do presidente cessante Alberto Fernández até à tomada de posse do novo chefe de Estado, a 10 de dezembro.

Milei prometeu uma série de reformas bastante radicais, incluindo a dolarização da economia argentina e a abolição do Banco Central.

Os apoiantes festejaram a noite de domingo à porta da sede de Milei, no centro de Buenos Aires. Agitavam as duas bandeiras argentinas e a bandeira amarela de Gadsden, com as palavras "Não me pise", um símbolo do ultranacionalismo nos EUA e que o movimento de Milei adoptou como sua.

Ao tirar o poder do partido peronista de Massa, que dominou a política argentina durante décadas, a vitória de Milei representa uma mudança de paradigma político no país. É o primeiro outsider a chegar à presidência e consideravelmente mais à direita do que qualquer um que tenha ocupado o cargo anteriormente.

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Fonte:https://pt.euronews.com/2023/11/20/candidato-da-extrema-direita-vence-presidenciais-na-argentina 

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