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22 de fev. de 2019

Trudeau e o escândalo com ligações a Kadhafi que lhe pode custar a reeleição

Em janeiro, Josy Wilson-Raybould passou de ministra da Justiça e procuradora-geral a ministra dos Assuntos dos Veteranos.



DN, 21 De fevereiro de 2019 




Por Susana Salvador 




A história envolve a alegada pressão que terá sido feita à procuradora-geral para chegar a acordo e não acusar uma empresa de engenharia canadiana, suspeita de corrupção na Líbia de Muammar Kadhafi. Liberais em queda nas sondagens.

"Continuo surpreendido pela decisão de Jody Wilson-Raybould... Esta não é uma decisão que é clara para mim." A frase é do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, que está debaixo de fogo por causa da demissão de uma das ministras estrela do seu governo. Um escândalo que tem tentáculos que chegam até à Líbia de Muammar Kadhafi e que pode custar a reeleição de Trudeau em outubro deste ano.

Mas, voltemos ao princípio, a 7 de fevereiro. O jornal The Globe and Mail, citando fontes anónimas, revelou que a ministra Jody Wilson-Raybould, que cerca de um mês antes tinha sido "despromovida" de ministra da Justiça (e procuradora-geral) a ministra dos Assuntos dos Veteranos, teria sido pressionada por um membro da equipa de Trudeau. Wilson-Raybould, de 47 anos, foi a primeira indígena (da tribo Kwakwaka"wakw) a ser ministra da Justiça.

A pressão, quando ainda era procuradora-geral no ano passado, era para que renunciasse a levar a empresa de engenharia SNC-Lavalin a julgamento. Em vez disso, pagaria uma multa por alegada fraude e pelo suposto pagamento de subornos em troca de lucrativos contratos de construção na Líbia de Muammar Kadhafi (construiu prisões e aeroportos para o regime).

Com sede no Quebeque, a província natal de Trudeau, a empresa emprega 3400 funcionários e o seu encerramento (qualquer condenação implicaria uma proibição de concorrer a contratos públicos no Canadá) teria um impacto significativo na região. Além disso, uma vitória no Quebeque é essencial para Trudeau conseguir repetir a vitória surpresa que o seu Partido Liberal teve em 2015.

Trudeau alegou que não houve qualquer pressão, que o tema foi discutido entre ambos, mas que disse a Wilson-Raybould que a decisão seria só dela e que não estava a ser pressionada a fazer nada.

Mas, a 12 de fevereiro, Wilson-Raybould apresentou a demissão, indicando estar a consultar um advogado para saber o que pode revelar. Na próxima semana, irá testemunhar diante da Comissão Parlamentar de Justiça. "Espero ter a oportunidade para contar a minha verdade", referiu entretanto.

A ex-ministra já apresentou as suas razões tanto ao Conselho de Ministros como ao grupo parlamentar do Partido Liberal de Trudeau, mas as declarações nestes dois espaços são confidenciais. Foi depois de uma destas intervenções que o primeiro-ministro disse continuar "surpreendido" com a sua decisão.

Mas esta não foi a única demissão. Na passada segunda-feira, um dos arquitetos da vitória de Trudeau e um dos conselheiros mais próximos do primeiro-ministro, Gerald Butts, também se demitiu. Insistiu que não fez nada de errado, mas que sentia estar a prejudicar o governo.



Impacto eleitoral

A oposição está a usar este escândalo para acusar os Liberais de encobrimento e exige um inquérito público. As eleições estão previstas para outubro e as sondagens já revelam a mossa que este caso pode ter. Duas pesquisas, feitas no início desta semana, colocavam os Liberais dois pontos atrás dos Conservadores. Antes disso, as mesmas empresas, colocavam os Liberais cinco ou seis pontos percentuais à frente.

Mas o escândalo poderá também ter um impacto dentro do partido. Dois deputados liberais votaram ao lado da oposição, na quarta-feira, numa tentativa que acabou por não ser bem-sucedida de lançar um inquérito público. Já a deputada liberal Celina Caesar-Chavannes não foi tão longe, mas expressou arrependimento no Twitter, assim como o seu apoio à ex-ministra Wilson Raybould, usando a hashtag #IStandWithHer (eu estou do lado dela).


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