IP, 23/10/2024
Na fazenda de Najmeddine Tantoun, nos arredores da cidade de Misrata, no oeste da Líbia, o som habitual de centenas de máquinas de ordenha deu lugar a um silêncio quase total.
O surto na Líbia deu um grande golpe em muitos criadores de gado, que dizem ainda não ter recebido vacinas para seus animais, enquanto a produção de laticínios e carne sofre.
A maior parte da receita do país norte-africano vem de seus recursos petrolíferos, mas Misrata é um importante centro de laticínios, que costumava produzir 70.000 litros de leite por dia.
Agora, a produção caiu para 20.000 por dia, segundo Salem al-Badri, de 45 anos, chefe do comitê de criadores de gado da cidade.
Tantoun, de 27 anos, disse: “O futuro parece sombrio”.
“Eu quase perdi tudo”, disse ele. “De 742 vacas, perdemos cerca de 300. Esta doença está destruindo nosso sustento.”
A doença afeta particularmente o gado ruminante, como vacas, ovelhas e cabras. Ela causa febre, bolhas — e, às vezes, morte.
Em Misrata, alguns agricultores relataram a perda de cerca de 70% de seu gado devido à doença, segundo o comitê de Badri.
“O atraso nas vacinas nos custou caro”, acrescentou. “A maioria das vacas em Misrata agora está infectada e não temos outra escolha senão abatê-las para impedir a epidemia.”
A doença também causou dificuldades financeiras para os consumidores, à medida que a escassez eleva o preço da carne e dos laticínios.
Badri disse que outra doença bovina chamada dermatite nodular também teve impacto, com compradores estrangeiros ficando cautelosos em importar couro bovino líbio.
A Líbia está lutando para se recuperar de anos de conflito após o levante de 2011, que derrubou o ditador de longa data Moamer Kadhafi.
O país permanece dividido entre um governo reconhecido pelas Nações Unidas, liderado pelo primeiro-ministro Abdulhamid Dbeibah, e a autoridade rival no leste, apoiada pelo líder militar Khalifa Haftar.
Os criadores de gado culpam as autoridades pela falta de medidas preventivas de segurança, bem como pela resposta lenta durante o surto, o que causou atrasos na entrega de vacinas às regiões afetadas.
Badri disse que “se as vacinas tivessem sido entregues em novembro passado, não estaríamos nesta situação”.
“Pedi às autoridades várias vezes que nos entregassem as vacinas para salvar as fazendas”, disse ele.
Quando contactadas pela AFP, as autoridades em Trípoli não responderam.
As autoridades no leste e no oeste lançaram planos de vacinação emergencial com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mas alguns agricultores disseram que a resposta muitas vezes chegou tarde demais.
Badri afirmou que um grupo de criadores de gado entrou com uma ação judicial junto ao procurador-geral.
Uma das principais causas da disseminação dessas doenças é a importação ilegal de animais sem controle veterinário, disse o ministério da agricultura.
Além disso, a contaminação se espalha de forma descontrolada, já que os casos não são notificados às autoridades locais a tempo, acrescentou o ministério, observando que alguns bovinos podem ter morrido sem serem reportados.
“Dependemos completamente desses animais para o nosso sustento”, disse Tantoun, acrescentando que ele havia “dado tudo” para o sucesso de sua fazenda.
“Perder tantas vacas é um desastre econômico.”
Ele pediu às autoridades de Misrata “não apenas fornecer as vacinas necessárias”, mas também “compensar” os criadores de gado cujas vacas sofreram com a doença.
O fazendeiro Ali Ghabag disse que desistiu completamente da criação de gado “por medo do futuro”.
“Ninguém quer mais continuar neste setor”, disse o homem de 40 anos.
“Os riscos se tornaram muito grandes, e não sabemos se vamos superar essa crise.”
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Fonte:https://insiderpaper.com/cattle-disease-wreaks-havoc-in-libya/
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