SWI, 18/06/2024
A Suíça está considerando experimentos com a distribuição controlada de cocaína para ajudar no tratamento de viciados em crack.
Um número crescente de especialistas tem solicitado uma reavaliação da política de combate ao vício em drogas, desde que um aumento significativo no consumo de crack foi observado em Genebra nos últimos três anos. A Comissão Federal para o Vício e Prevenção de Doenças Não Transmissíveis (EKSN) foi impulsionada a agir.
“As pessoas que consomem crack várias vezes ao dia ficam presas em um círculo vicioso de aquisição e consumo,” disse o vice-presidente da EKSN, Christian Schneider, à emissora pública suíça SRF.
Análises estratégicas da Polícia Cantonal de Zurique mostram a necessidade de mais locais adicionais e facilmente acessíveis – pontos de contato e locais de refúgio – para viciados que mal dormem, comem, bebem e se tornam negligenciados – ou que então dormem exaustos por 24 horas seguidas.
Mais cidades afetadas
Genebra foi a primeira a ser afetada pela onda de crack, e agora outras cidades, como Lausanne, Basel, Zurique e Chur, também foram afetadas. Algumas já reagiram e estabeleceram serviços adicionais ou ainda estão planejando fazê-lo. O Escritório Federal de Saúde Pública também pediu mesas redondas com cantões e cidades.
Schneider assume que a Suíça será afetada por essa situação por um longo tempo. A comissão está, portanto, pedindo investigações controladas sobre como as pessoas frequentemente gravemente afetadas podem ser melhor cuidadas, para que problemas ainda maiores não se desenvolvam.
“Estamos pelo menos sugerindo como a cocaína poderia ser fornecida a usuários de crack gravemente viciados para que eles possam quebrar o círculo vicioso e se recuperar,” diz Schneider. Ele está pensando em equipes que poderiam visitar viciados e fornecer-lhes cuidados médicos ou psicoterapêuticos. Baseando-se na distribuição bem-sucedida de heroína ou metadona nas últimas décadas, a cocaína deveria ser distribuída de maneira controlada.
Mas há pouca pesquisa sobre isso, e os especialistas estão divididos: “Muito perigoso,” disse André Seidenberg, um médico e pioneiro em drogas de Zurique, em uma entrevista ao NZZ em maio.
Resultados questionáveis
O especialista em medicina do vício Marc Vogel, das Clínicas Psiquiátricas Universitárias de Basel, faz parte de um grupo de trabalho que compilou abordagens de tratamento para o vício em crack e cocaína para o governo federal. Ele coloca da seguinte forma: “A principal questão é se podemos alcançar a saturação para que as pessoas fiquem satisfeitas. Se isso funcionará com a distribuição de cocaína é, pelo menos, muito questionável.”
Ele aponta que a cocaína é significativamente mais prejudicial do que os opioides, pois tem um forte efeito no coração e nos vasos sanguíneos e pode desencadear psicose: “Muitas questões surgem. Os grandes sucessos obtidos com substitutos para o vício em opioides não podem ser transferidos para a cocaína.”
Schneider entende as vozes críticas: “Também não sugeriríamos simplesmente distribuir cocaína em grandes quantidades.” Sem propor um modelo concreto, no entanto, é importante reunir experiências.
Schneider e Vogel concordam que a distribuição controlada de cocaína ou de um substituto não pode ser implementada rapidamente. É precisamente por isso que a comissão quer discutir as coisas antecipadamente: “Quanto mais tempo esperarmos, mais tarde haverá soluções para problemas que podem afetar as cidades novamente nas próximas semanas,” diz Schneider.
Artigos recomendados: Cocaína e Suíça
Nenhum comentário:
Postar um comentário