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11 de fev. de 2024

Valores e propagandistas





Sumário


  • Valores e propaganda: O autor discute como os regimes autoritários usam os valores culturais e morais como forma de controle e propaganda, dando exemplos históricos e atuais.
  • Marxismo Cultural: O autor critica a agenda ideológica dos revolucionários marxistas, que mudam conforme a necessidade da implementação da revolução, e como eles promovem o caos e a divisão na sociedade.
  • Tecnocracia: O autor analisa como a tecnologia é usada para exercer o controle social e político, especialmente na China, onde existe um sistema de crédito social que monitora e pune os cidadãos.
  • Nacionalismo: O autor questiona o uso do nacionalismo como um instrumento de manipulação e mobilização, tanto no Ocidente quanto na Rússia, e como os conservadores são enganados por esses discursos.



Valores usados como forma de controle 


Durante o regime soviético, a homossexualidade e outros tipos de atos sexuais foram tanto criminalizados quanto permitidos em breves ou longos períodos. O mesmo ocorreu na Alemanha Nazista e na Alemanha Oriental comunista. Os regimes de fundação marxistas carregam em si o germe da tecnocracia, portanto, o controle estrito da vida privada dos cidadãos é apenas mais uma faceta desse controle, e ele foi extenuado através do controle tanto da reprodução humana quanto da educação de modo geral. Assim sendo, os regimes (e não os movimentos) comunistas são invariavelmente tecnocracias por excelência, e assim exercem o seu poder. Quem ouve falar do Sistema de Crédito Social chinês sabe bem que esse é um aspecto vistoso da tecnocracia. 

A agenda ideológica dos revolucionários muda conforme a necessidade da implementação da revolução, o que significa que o que hoje é regra, amanhã pode ser proibido por uma necessidade lógica, e assim por diante. Tem sido assim desde a Revolução Francesa, onde em dado momento eles permitiam a desordem para enfraquecer os seus adversários, e assim tomar a iniciativa de esmagá-los em seguida, quando já não pudessem reagir sob tamanha desordem. Os revolucionários franceses cansaram de promover o caos através do incentivo e proliferação da criminalidade, ao ponto de literalmente soltarem criminosos na sociedade, para que o caos se perpetuasse. Quanto mais caos, mais forte a revolução ficaria, e mais fraca a sociedade fica. 




Controle em vez de subversão


Em regimes onde o controle da sociedade e dos meios de modo geral já são estritamente exercidos, não há necessidade da tradicional subversão na forma da promoção de uma cultura de massa, ou de meios culturais de modo velado, pois o estado já tem o controle absoluto dos meios para mudar o comportamento da sociedade, seja pelo uso da força, medo ou propaganda. Em vez disso, o estado foca somente nos meios que controla, como a educação, o seguro social, etc. Assim sendo, se o estado achar, por bem, promover uma agenda que divide e enfraquece a sociedade, não precisará esconder isso, mas promover abertamente, e demonizar não os indivíduos, mas esses costumes como uma forma de mancha social de um sujeito relapso. 

Como isso fica aparente é como o estado chinês impõe o controle social: o regime comunista não precisa promover uma cultura para exercer o controle, mas impor a força, e através dela impor sua narrativa e sua cartilha, de modo que a obediência traz resultados, e o oposto dela trará punição física, e ostracismo social. É um controle tecnocrata do mais refinado que existe, e é a condensação de anos do uso de terrorismo psicológico e repressão estatal. A tecnologia libertaria supostamente o homem, mas em regimes autoritários, ela se torna a mão onipresente e invisível do totalitarismo. O controle social por meios cibernéticos já é uma realidade na China, e tudo nele gira em torno de que o estado está lá vigiando você, e você deve ser um observador dos dogmas do estado, caso contrário, não poderá coexistir com ele e por meio dele. 




Promoção de valores antagônicos como propaganda


Na Segunda Guerra Mundial, muitos líderes cujas nações estavam envolvidas na guerra apelavam ao Nacionalismo, como uma forma de obter apoio moral e cívico (mão de obra) para os esforços de guerra. Isso ocorreu tanto no Ocidente, quanto nos blocos soviéticos, e na Alemanha de Hitler. Líderes que em seus escritos declaravam o desejo de um mundo unipolar sob o estandarte de um governo mundial, de repente apelavam a defesa da soberania nacional, e dos símbolos nacionais, de modo a sensibilizar a sociedade. Vez ou outra, ataques de falsa bandeira eram usados para reforçar a propaganda em torno do engajamento aos esforços de guerra. Foi verdade em Perl Harbor, bem como em Gleiwitz. O Nacionalismo, infelizmente, muitas vezes foi usado como um botão pelo qual os líderes ativavam a sociedade para coletivamente reagir a um estimulo. Esse estimulo era o amor patriótico intrínseco, e que era arraigado primeiramente nos valores cristãos que civilizaram essas nações, e as tornaram potências culturais e políticas. 

Com o tempo, os líderes do pós-guerra precisavam enfraquecer esses valores, pois eles não atendiam ao seu propósito de controle. Embora muitos exercessem o controle corporativo, como nos EUA – onde as instituições privadas são braços diretos e indiretos do estado – eles não tinham o controle social pleno, pois esses valores ao mesmo tempo, em que tinham influência sobre a sociedade, minavam quaisquer tentativas de controle autoritário em níveis cada vez mais individuais e coletivos. Dessa forma, a cultura, que outrora serviu bem aos propósitos dos líderes em tempos de guerra, que também era uma forma de enfraquecer os alicerces da sociedade, agora precisava dar uma guinada para que os líderes pudessem exercer o mais estrito controle nas próximas gerações. E foi assim que começou a revolução cultural consentida do Ocidente nas universidades e na cultura de modo geral. Hoje, não existe um governo na Europa, seja ele autodenominado de direita ou de esquerda, que não promova a agenda identitária. De repente, tudo o que importa é a "inclusão" e "equidade". 




Tempos atuais de disrupção


E aqui estamos atualmente, onde podemos ver claramente o uso dessas artimanhas na forma de promoção cultural e política, bem como propaganda de massa na era das redes sociais. Da União Europeia até o regime russo, nós vemos os mesmos apelos à defesa da soberania nacional e dos valores ocidentais. No lado ocidental, os valores são liberais, contrastando com os valores fundadores das nações ocidentais. Os valores proferidos das bocas dos políticos não dizem respeito ao amor legítimo à pátria, nem à tradição da família e da preservação da ordem moral e social, mas sim da "equidade" e "inclusão" como a força motriz do progresso. Nada, além disso, pode ser tido como o ideal de um povo. Logo, a guerra do Ocidente contra a Rússia é a luta da civilização liberal contra a barbárie de um regime de controle e opressão das minorias. E o regime russo faz a sua parte, pois mesmo sendo um regime tecnocrata com total controle social por meios tecnológicos e o uso da força, ainda precisa promover seus valores na forma de propaganda tanto para dentro quanto para fora.

Assim, os líderes se enxergam como os guardiões da Nova Ordem contra a velha ordem. Os russos promovem uma parte da dialética, e os ocidentais promovem a outra. E no meio desse fogo cruzado estão os conservadores, que cansados do bombardeio propagandístico, abraçam um lado e acreditam que podem tirar uma lição para dar aos seus respectivos governos do outro. O resultado é que estamos vendo a legitimação da pessoa pelo discurso, e ignorando todo o aspecto negativo do uso indevido de um discurso que é nosso por natureza, pois necessitamos de um símbolo que represente ele na forma de um indivíduo proeminente. O resultado é que somos tachados de propagandistas russos, porque estamos defendendo a pessoa do discurso através da defesa do discurso, sem nunca criticarmos o seu uso indevido, e a pessoa em questão. 

A falta de conhecimento e o desespero nos trouxe até esse momento, em que nós temos que justificar o errado, porque ele profere o discurso correto, mas em circunstâncias erradas. Então, entre Bukele e Putin, ficam os conservadores, que não entendem quem são aqueles que proferem o discurso, e abraçam-no ternamente por seu resultado prático, mas sem nunca discriminar o porta-voz dele. Caímos nos mesmos erros de sempre, mas são erros históricos que muitos de nós não percebemos. Não só abraçamos figuras históricas que usaram o discurso que é nosso, mas que defendiam uma visão de mundo antagônica à nossa, como continuamos cometendo os mesmos erros, pois não conseguimos evoluir em compreensão para além dos sinais e símbolos externos. Temos de conseguir separar os valores da propaganda.  

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