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7 de fev. de 2024

Reforma constitucional de AMLO é pura campanha às vésperas das eleições




PP, 06/02/2024 



Por Gabriela Moreno 



Embora seu discurso insista na necessidade de uma "transformação nacional" para superar o que em seus múltiplos discursos, ele chama de "o período neoliberal sombrio de 36 anos que entregou bens do povo e da nação a uma minoria", tudo faz parte de uma narrativa propagandística. Na realidade, seu objetivo é confrontar e polarizar o país azteca antes do encontro nas urnas.

Ninguém pode se confundir com a reforma constitucional proposta pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a menos de quatro meses das eleições presidenciais no país. Sua promessa de "devolver o humanismo", com um pacote de 20 mudanças na Carta Magna, para – na sua opinião –alcançar mais justiça, honestidade, austeridade e democracia, é apenas uma estratégia às vésperas desses pleitos. Neste dia de eleição, seu Movimento de Regeneração Nacional (Morena) buscará continuar no Palácio Nacional, agora sob o comando de Claudia Sheinbaum.

Assumir esta iniciativa de AMLO com outra perspectiva é pisar no terreno da ingenuidade política, quando o lançamento das modificações ocorre no final do mandato.

Embora seu discurso insista na necessidade de uma "transformação nacional", para superar o que em seus múltiplos discursos ele chama de "o período neoliberal sombrio de 36 anos que entregou bens do povo e da nação a uma minoria", tudo faz parte de uma narrativa propagandística. Na realidade, seu objetivo é confrontar e polarizar o país azteca antes do encontro nas urnas.

"Ele deixa a mesa servida para Sheinbaum", afirma Luis Carlos Ugalde, diretor da Integralia Consultores. O especialista, em particular, ressalta que López Obrador "faz convocação para votar em massa no Morena, para alcançar a transformação".

Jogada com riscos

A candidata do Morena agora tem a responsabilidade de assumir a oferta da reforma constitucional. Este pacote de medidas inclui a eliminação dos plurinominais (de representação proporcional), o que reduziria a Câmara para 300 deputados dos atuais 500. Também inclui uma reforma do Poder Judiciário para reduzir de 11 para 9 os ministros da Suprema Corte, que também devem ganhar seus cargos por eleição popular.

No entanto, a polêmica em torno das medidas reside em suas intenções de fazer desaparecer órgãos autônomos. Sua meta é que sejam absorvidos pelo Estado. Entre os afetados estão o Instituto Federal de Telecomunicações (IFT), o Instituto Nacional de Transparência e Acesso à Informação e Proteção de Dados Pessoais (INAI), a Comissão Reguladora de Energia (CRE), entre outros.

Sheinbaum terá até que fazer parte dos sonhos ingênuos de AMLO que buscam proibir o uso de fentanil por meio de uma lei e garantir serviços médicos gratuitos, apesar de estar em dívida a respeito desde sua ascensão em 2018 à chefia de Estado.

Gostará disso? Estará totalmente de acordo? Não tem outra opção. O presidente a eclipsa e se apropria da campanha, que começa formalmente em 1º de março com uma lista de reformas que constituem uma espécie de plataforma de uma nova campanha presidencial, embora seu nome e imagem já não estejam na cédula de votação.

Estratégia entre fracassos

Além de "servir a mesa", López Obrador também estabeleceu as bases do próximo governo, ao impor à sua candidata a tarefa de repetir elogios à sua agenda. Desta forma, ele nega a oportunidade de imprimir seu próprio selo a uma eventual administração.

A jogada pode ter custos altos para ambos. As pesquisas atribuem a Sheinbaum 52% de preferência entre os eleitores neste momento, em comparação com Xóchitl Gálvez, ficha da coalizão formada pelo Partido Ação Nacional (PAN), Partido Revolucionário Institucional (PRI) e Partido da Revolução Democrática (PRD). Por enquanto, a voz desta opositora aglutina apenas 27%. Também supera os 3% do candidato do Movimento Cidadão, Jorge Álvarez Máynez.

As tendências podem mudar com o debate das reformas constitucionais, considerando que o presidente arrasta o fracasso tanto da reforma eleitoral quanto da energética que impulsionou em 2022. Nenhuma delas prosperou. A primeira desencadeou ondas de protestos, enquanto a segunda não obteve os votos necessários. Naquela época, ele obteve apenas 275 votos a favor da coalizão governista, 223 contra dos opositores e 0 abstenções. Sem os dois terços dos 498 deputados presentes, ou seja, 332 parlamentares, a iniciativa ficou apenas no papel e nas palavras.

Agora, a oposição está em uma encruzilhada com essa jogada de AMLO. Se combater suas propostas expondo o populismo que as rodeia, beneficiará o presidente ao ampliar sua mensagem. A indiferença ou o design de propostas inovadoras para o futuro são as únicas maneiras de deixar López Obrador de lado e Sheinbaum sem opção de vitória.

O desafio é grande, porque se o Morena ganhar a maioria qualificada em 2 de junho, López Obrador poderá se despedir em 30 de setembro com um "legado histórico". Agora, se não conseguir, forçará sua bancada a submeter o pacote de mudanças a votação no Congresso. Por meio dessa estratégia, fica registrado esse rechaço.

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Fonte:https://panampost.com/gabriela-moreno/2024/02/06/reforma-constitucional-de-amlo-es-pura-campana-en-vispera-de-elecciones/ 

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