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11 de fev. de 2024

Dois agentes da patrulha costeira espanhola morrem após serem atropelados por narcotraficantes em um barco




ELMUNDO, 10/02/2024 



Por Gema Peñalosa 



Morrem dois agentes atropelados por uma narcolancha em Barbate

Num vídeo com vários minutos, pode-se ver as pessoas encorajando os traficantes e incentivando-os a afundar os agentes.

O sério problema que o Ministério do Interior enfrenta com o narcotráfico no Campo de Gibraltar atingiu seu ponto máximo no final da tarde desta sexta-feira no Porto de Barbate. Uma narcolancha atropelou uma embarcação da Guarda Civil e matou dois agentes. Além disso, outro agente está em coma e outro levemente ferido.



A Guarda Civil prendeu oito pessoas em Sotogrande por sua suposta participação na morte dos agentes. Três dos detidos são tripulantes da narcolancha e também foram presas as outras duas pessoas que foram buscá-los. Outras três pessoas foram detidas posteriormente. Um deles é o piloto, um homem com antecedentes conhecido como El Kabra.

As embarcações haviam se refugiado no recinto portuário do município sem qualquer precaução, amparadas pela impunidade com que os traficantes operam na região, afirmam fontes da Guarda Civil.

Ao tomar conhecimento da presença das narcolanchas, a Guarda Civil ativou uma equipe do Grupo de Ação Rápida (GAR) e outra do Grupo de Especialistas em Atividades Subaquáticas (GEAS) – os mergulhadores – pois os agentes do Serviço Marítimo estavam fora do porto em outro serviço. Os dois agentes falecidos são mergulhadores, indicam fontes da Guarda Civil.

Miguel Ángel González Gómez, um deles, pertencia ao Grupo Especial de Atividades Subaquáticas (GEAS). Tinha 39 anos, era natural de San Fernando (Cádiz) e era solteiro, embora tivesse companheira e uma filha.

David Perez Garacel, o outro falecido, era agente do Grupo de Ação Rápida (GAR). Com 43 anos, ele nasceu em Barcelona, mas morava em Sarrigurren (Navarra), onde esteve radicado por muitos anos. Era casado e tinha dois filhos de oito e 10 anos.

Outro dos agentes feridos é natural de Terrassa (Barcelona), segundo fontes da Guarda Civil na Catalunha.

Num vídeo grotesco com vários minutos de duração, pode-se ouvir as pessoas que o gravam incentivando os traficantes a afundar os agentes, enquanto duas lanchas circulam em torno de uma pequena embarcação para colidir com ela.

Este incidente ocorre no mesmo dia em que o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, se deslocou até a região para elogiar seu Plano Especial de Segurança do Campo de Gibraltar. De Algeciras, o titular do Interior destacou que a pressão policial fez com que as máfias mudassem suas rotas de distribuição da mercadoria ilícita. No entanto, suas reflexões não são compartilhadas pela equipe policial que opera na região, que insiste na conflituosidade do destino e na falta de efetivos para lidar com as diferentes situações. Neste sábado, o titular do Interior visitará a Comandância da Guarda Civil em Cádiz.

Os policiais denunciam que os efetivos policiais vivem uma situação crônica de abandono institucional. Assediados e agredidos pelas máfias da droga, que estendem a pressão às famílias dos agentes, e sem meios suficientes para combater também a imigração ilegal, os agentes preferem outros locais.

O que aconteceu ontem no Porto de Barbate foi a constatação de que os clãs de traficantes de drogas do Estreito superam em recursos a Guarda Civil. O atropelamento da narcolancha à embarcação da Guarda Civil – esta se aproximava para pedir documentação – ilustra como os termos foram invertidos e agora os ratos são os que perseguem os gatos.

"Eles não têm outra coisa"

A superioridade esmagadora dos traficantes de drogas também é percebida pelas pessoas que estavam no porto. "Aquela é a Guarda Civil? Com aquela lancha de merda?", pergunta um, conforme visto num vídeo. "Com essa merda de lancha", responde outro. "Eles não têm outra coisa, é o que têm aqui", acrescenta.

Os agentes e suas famílias trabalham sob a constante pressão do ambiente que apoia ou opera para os traficantes e as redes de imigração ilegal. "O que vivemos aqui é insustentável, porque não devemos esquecer que os narcotraficantes têm mais recursos que nós. Os veículos que usam estão muito à frente dos nossos. Estão a anos-luz", lamenta um dos guardas civis consultados pelo EL MUNDO.

Ele assume resignado que é "uma batalha perdida". "Não temos uma capacidade de reação imediata, isso é grave, mas real, e eles sabem disso e o utilizam. Além disso, contam com uma logística muito extensa e em todos os níveis, porque muita gente se alimenta disso". É a arquitetura criminosa tão enraizada no Campo de Gibraltar que já foi naturalizada.

(As regiões de) La Línea de la Concepción, Algeciras e Tarifa se tornaram um flagelo. Ninguém quer trabalhar lá. Isso é demonstrado pelo fato de que 40% do efetivo policial (300 agentes) solicita a transferência ano após ano.

O problema é que os agentes da Polícia e da Guarda Civil não conseguem se estabelecer numa área, onde ter equipes consolidadas é essencial para enfrentar eficazmente o leque de crimes que concentra. Com esses dados em mãos, os agentes voltam a exigir do ministro a declaração urgente do Campo de Gibraltar como Zona de Especial Singularidade.

A denominação implica a aplicação de fórmulas de incentivos trabalhistas e econômicos semelhantes às recebidas pelos agentes destacados no País Basco ou em Navarra. A Catalunha também está neste processo. Em suma, trata-se de um bônus pela severidade do local de ação. No entanto, o Interior ainda não incluiu essa proposta.

O ministro presidiu na sexta-feira no Porto de Algeciras uma reunião operacional, na qual fez um balanço do Plano Especial de Segurança para o Campo de Gibraltar desde sua implementação, e analisou sua execução para os próximos dois anos, uma vez que em dezembro passado a Secretaria de Estado de Segurança prorrogou sua vigência até 31 de dezembro de 2025.

1.668 toneladas de droga em um ano

Desde sua implementação em julho de 2018, sua vigência foi prorrogada três vezes (em 2020, 2022 e no passado mês de dezembro) e o território de aplicação ampliado do Campo de Gibraltar até a totalidade das províncias de Cádiz, Huelva, Málaga, Almería, Granada e Sevilha.

Grande-Marlaska repassou alguns dos dados mais destacados, como que desde 1º de agosto de 2018 até 31 de dezembro de 2023, a Polícia Nacional e a Guarda Civil apreenderam 1.668 toneladas de droga, das quais 1.452 eram de haxixe, 106,7 toneladas de cocaína e 109,7 toneladas de maconha ou outras drogas.

No entanto, o ministro do Interior não se pronunciou sobre o desmantelamento em setembro de 2022 do Órgão de Coordenação contra o Narcotráfico na Andaluzia, o chamado OCON-Sur, composto por 150 agentes da Guarda Civil em comissão de serviço disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, no Campo de Gibraltar. O (ministério do) Interior decidiu dissolver o grupo apesar de seus resultados esmagadores.

Os agentes que integravam o OCON-Sur foram transferidos para outros destinos. O Ministério do Interior sempre defendeu que, em nenhum caso, houve perda de efetivos na luta contra o tráfico de drogas, mas que os agentes do OCON foram integrados na Polícia Judiciária e continuam desenvolvendo o seu trabalho dentro desses grupos.

O Campo de Gibraltar tem sido palco de perseguições vistosas, apreensões ao sol pleno e até mesmo do assalto a um hospital para libertar um traficante sob custódia. A sucessão de adjetivos sobre a região espanhola que faz policiais e guardas civis fugirem é devastadora e implacável. O atropelamento à lancha dos agentes da Guarda Civil é mais uma prova da complicada situação que se vive na região.

"O que aconteceu esta noite no porto de Barbate é mais um exemplo de que os traficantes sabem que isto é terra de ninguém e operam à vontade, sem se importar com as consequências", reivindica um dos agentes destacados no Campo de Gibraltar que testemunhou o que aconteceu.

Dia de luto

Por outro lado, o prefeito de Algeciras, José Ignacio Landaluce, convocou para este sábado, às 12h, às portas do Consistório, um minuto de silêncio pela morte dos guardas civis, um dos quais residia em Algeciras.



O prefeito quis transmitir uma mensagem de carinho e apoio às famílias e aos seus entes queridos, assim como a todo o corpo da Guarda Civil.

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Fonte:https://www.elmundo.es/espana/2024/02/09/65c69406e9cf4abd0f8b45aa.html 

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