LDD, 04/09/2023
O resultado da nacionalização do gás na Bolívia: Luis Arce reconhece que o gás acabou e até 2029 o país terá que importá-lo
O presidente da Bolívia reconheceu oficialmente que as reservas de gás se esgotaram e as exportações para o Brasil e a Argentina serão interrompidas. A falta de investimento em desenvolvimento e exploração por parte da administração estadual são as razões do desastre energético.
O reconhecimento do fracasso não é moeda comum no regime boliviano, mas nesta ocasião o presidente Luis Arce não teve outra escolha senão alertar a população que a disponibilidade de gás na Bolívia está completamente esgotada.
O acúmulo de anos e anos de descapitalização, devido à virtual nacionalização da produção de gás sob o mandato de Evo Morales, a gestão da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) concentrou-se em promover a extração e distribuição de gás para suprir as necessidades de curto prazo e gerar divisas, em detrimento do investimento em exploração para ampliar a disponibilidade de recursos.
A produção de gás natural despencou 37% desde 2014 , caindo para apenas 37 metros cúbicos por dia, segundo os últimos dados oficiais da YPFB. Cerca de 81% da produção é destinada à exportação para Argentina e Brasil, e o restante é aplicado para atender a demanda do mercado interno.
A estratégia de curto prazo hipotecou o futuro das exportações, a balança comercial e até o abastecimento interno . E mesmo com a grande entrada de divisas conseguida nos primeiros anos de nacionalização, o Banco Central não conseguiu acumular qualquer saldo devido à defesa de uma taxa de câmbio fixa que agora também está em dúvida.
Os pilares económicos do “modelo de socialismo do século XXI” na Bolívia estão a ruir : sem moeda estrangeira no Banco Central, o sistema cambial torna-se insustentável (e com ele o controle da taxa de inflação), ao mesmo tempo que o país abandona a vantagem competitiva que historicamente manteve sobre outros países da região.
O presidente Luis Arce tentou se livrar da culpa, e em meio ao conflito interno dentro do MAS, apontou o ex-presidente Morales como o principal responsável pela falta de investimento na exploração de novas jazidas.
“Durante todo esse tempo não houve exploração, e depois do nosso governo começamos a mostrar investimento em exploração. A Bolívia terá primeiro que encontrar os recursos para explorar vigorosamente”, afirmou o Presidente Arce.
Cerca de 7,4% do PIB da Bolívia é consistente apenas com atividades relacionadas com a produção e exploração de gás e, ao mesmo tempo, a maior parte das suas exportações é explicada por este componente.
Em meio à histórica crise cambial que o país atravessa devido à manutenção do câmbio fixo, um choque nas exportações poderia ser a gota d'água para precipitar o colapso do sistema.
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