Páginas

21 de jan. de 2022

Planejando um Novo Mundo — Parte 2: O Grande Scott e o Aparecimento dos Técnicos Soviéticos

Espada,27/08/2011


Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Volume 4, Edição 8.



Nota: Na Parte 1, examinamos a filosofia central da Tecnocracia — a Religião da Humanidade (o Positivismo). Nesta seção, examinaremos o lado organizado do movimento quando ele entrou na cultura ocidental durante os anos da Grande Depressão. Esta é uma visão geral histórica, porém é muito relevante para o nosso tempo. As lições estão diante de nós; o homem procura controlar o comportamento do homem e, quando isto acontece, a arrogância se torna um princípio fundamental. Quem sabe melhor do que os controladores? O século 21 está rapidamente se transformando no Século da Tecnologia, em que a tecnologia e as ciências do comportamento moldam as massas. Mas, de algum modo, as pessoas não vêem. Será se estamos cegos pelo nosso próprio orgulho? Conseguiremos aprender com a história?

 

Sugestão: Talvez seja bom você ler primeiro a Parte 1.


"A partir do fermento da ciência, educação, organização e tecnologia modernas, emergirão novas formas e espíritos de cooperação e controle, com novas instituições e valores, diante de uma nova civilização." — Charles E. Merriam [1].

"Nós na Tecnocracia consideramos o comunismo tão à direita que ele é burguês." — Howard Scott [2].

A Revolução dos Sovietes

A tecnocracia como uma organização surgiu imediatamente após a Primeira Guerra Mundial. Ele teve início como a Aliança Técnica, sediada em Nova York, um grupo de estudo construído com base nas ideias de Thorstein Veblen e mais tarde organizadas pelo enigmático e vistoso Howard Scott. Ambos acreditavam que a recriação técnica da sociedade era inevitável.


Veblen, um professor e economista com livros publicados, projetou suas teorias em torno da "Ciência Positivista" da Evolução Darwiniana. Um comentarista observou que o darwininsmo de Veblen era o "tear em que todo o fulcro do pensamento econômico poderia ser recriado." [3]. Neste caso, a evolução social terminou com o sucesso da "era da máquina". [4]. Portanto, eram os engenheiros e técnicos que representavam a forma mais elevada de avanço. A comunidade empresarial, o professor lamentava, estava negligenciando o potencial dos técnicos como aqueles que moldam um vindouro mundo novo.

O que Veblen imaginava no fim era um "soviete de técnicos" para substituir a era atual do desperdício capitalista. [5]. Esse soviete, ou coletivo, seria chefiado por uma junta central de diretores, que estenderia seu alcance por meio de "subcentros e conselhos locais." [6]. Em seguida, a junta poderia enfocar os aspectos centrais da economia do país: a indústria e o transporte. Compreenda que a ideia de Veblen não era a versão marxista de "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos", mas era uma forma mais elevada de evolução socialista; eram os técnicos do mundo coalescendo, sabotando o sistema e colocando-se na direção.

Enquanto Veblen estava promovendo um soviete de engenheiros nos EUA, a União Soviética dava as boas-vindas aos tecnocratas industriais americanos como heróis. Henry Ford, que certa vez disse que "Fazer as coisas direitas na mecânica e fazer as coisas direitas na moral são basicamente a mesma coisa e não podem estar separadas", recomendou certos engenheiros ao governo soviético. [7]. O tecnocrata russo mais proeminente naquele tempo, Gleb Maksimilianovich Krzhizhanovsky, que idolatrava Ford, fez a seguinte declaração:

"Na realidade, nossa época é a época da energia. Atrás da máquina existe a energia... O Sr. Ford neste caso acerta na mosca... a produção de energia é a base que garante a possibilidade máxima de possuir a terra." [8].

Krzhizhanovsky acreditava que o sistema soviético, e não o capitalismo, estava adequadamente projetado para lidar com a tecnologia. Isto não é difícil de compreender. O capitalismo permite a liberdade necessária para o desenvolvimento da tecnologia, mas ele é visto como ineficiente. O mercado determina a vida da tecnologia, mas o mercado também pode escolher uma versão diferente e, muito provavelmente, existirão múltiplas opções! Um sistema coletivista, segundo esse pensamento, utilizará o pleno potencial de uma tecnologia e eficientemente a empregará dentro de um ideal maior e unificador.

Lenin e Stalin reconheciam a importância dos tecnocratas. Lenin era rígido: "Precisamos mais e mais de engenheiros, agrônomos, técnicos, todos os tipos de especialistas científicos." [9]. Em 1920, ele disse: "Nenhum poder das trevas pode resistir à união dos representantes da ciência, o proletariado e a técnica." [10]. Mais tarde, ele acrescentou que: "A ciência... deve realmente penetrar na pele e no sangue." [11]. Em conformidade com isto, inúmeras instituições técnicas foram criadas em toda a Rússia.

Para Stalin, a Revolução Socialista e a excepcional capacidade técnica dos EUA estavam unidas. De fato, estavam. Especialistas técnicos estadunidenses praticamente construíram a União Soviética; Stalin admitiu que dois terços da capacidade industrial da Rússia comunista tinha sido construída com ajuda ou assistência americana. [12]. Indústrias químicas, fábricas de fertilizantes, fábricas de tratores, usinas hidrelétricas e quilômetros de ferrovias foram completadas com envolvimento direto de firmas e engenheiros americanos. O sócio de produção de Ford, Albert Khan, foi à Rússia em 1928, onde "construiu 521 fábricas e treinou 4.000 engenheiros." [13].

Charles Steinmetz, chefe da seção de pesquisa da General Electric, ofereceu a Lenin sua assistência para eletrificar a Rússia. Lenin lamentou que não estava em condições de aceitar a proposta de Steinmetz, mas enviou ao engenheiro sua fotografia pessoal, que Steinmetz pendurou em seu laboratório. Steinmetz "via a eletrificação como a principal ação do Socialismo". [14].

Charles Steinmetz era amigo de Veblen, e uma parte da Aliança Técnica de Nova York — junto com Howard Scott, Basset Jones, da Associação de Normas dos EUA, e Walter Rautenstrauch, da Universidade de Colúmbia. Foi por meio desses encontros que Veblen coletou suas ideias para aquilo que se tornou seu livro The Engineers and the Price System, publicado em 1921. [15]

Esse livro de Veblen, energizou a ideia da Tecnocracia organizada. Além disso, ele escreveu que esse "soviete de técnicos" americanos somente seria aceito após uma ação revolucionária — uma greve geral dos engenheiros "para incapacitar suficientemente a indústria produtiva do país". [16].

Em seguida, os capitães da indústria e das finanças veriam a necessidade para essa "nova ordem de produção" e um "soviete de técnicos, selecionados por eles mesmos, mas inclusivos", poderia efetivamente "assumir as decisões econômicas do país"... e cuidar do bem-estar material da população que está por baixo." [17].

Um plano geral era necessário. Portanto, Veblen propôs um mapa da estrada. Primeiro, produzir um levantamento abrangente da indústria, energia e transporte. Ao fazer isso, a "população que está por baixo" — os cidadãos comuns — poderiam ver o desperdício excessivo inerente no sistema. A população então ficaria mais inclinada a aceitar um modo melhor. Mais importante ainda, os engenheiros teriam acesso aos dados completos sobre mão de obra qualificada, distribuição de energia e recursos materiais em todo o país. Com essas informações cruciais em mãos, os técnicos soviéticos poderiam efetivamente tomar o controle no tempo certo. [18]. Mas, tudo isto requereria um líder especial, um líder que pudesse conquistar a imaginação do público e unir a comunidade técnica.

Howard Scott era esse homem.

O Grande Scott

Howard Scott parece ter aparecido do nada. Ele afirmava ser um engenheiro, porém isso era contestável. Chegando em Greenwich Village (NT: famoso bairro da cidade de Nova York) imediatamente antes do fim da Primeira Guerra Mundial, ele passava grande parte de seu tempo em conversas com progressistas de Nova York, incluindo Veblen e Steinmetz. O historiador William Akin o descreve como um "engenheiro boêmio":

"A aparência de Scott era a de um engenheiro e aventureiro vistoso. Alto, magro e ossudo, com 1,92 metros de altura e 91 kg, sua presença física chamava a atenção... em tudo ele parecia ser um engenheiro de projeto, fora de seu lugar, mas autoconfiante em Manhattan." [19].

Akin também nos diz:

"Scott absorveu muitos dos temas fundamentais de Veblen. O Positivismo Científico de Veblen e o determinismo tecnológico foram básicos para o pensamento subsequente de Scott. Ele adotou o caráter tecnológico do pensamento de Veblen, vendo a sociedade como uma operação mecânica." [20].

Scott era carismático. Ele parecia ser a quintessência do líder necessário para organizar a Tecnocracia. Dinâmico e capacitado, ele epitomizava o tipo de pessoa que poderia reunir em torno de si o público e a comunidade da engenharia. Na Aliança Técnica ele assumiu o título de "Engenheiro-Chefe".

Por meio da Aliança, Howard Scott esperava formar "uma grande união de especialistas profissionais". Os membros viriam de todos os ramos de especialidades, incluindo estatísticos, educadores, arquitetos e físicos. A Aliança seria uma união da elite técnica, [21] e atrás dela havia um ideal unificador: "A Ciência Aplicada à Ordem Social". [22].

Entretanto, a organização não teve vida longa. Em 1921, o mesmo ano em que Veblen publicou The Engineers and the Price System, a Aliança passou por dificuldades financeiras. Ironicamente, a escassez de dinheiro foi atribuída à "má administração por parte do engenheiro-chefe." [23]. A Aliança Técnica faliu, mas isto não deteve Howard Scott. Enamorado pelos seus próprios esquemas grandiosos, ele continuou a promover seus sonhos tecnocráticos, incluindo a substituição do dinheiro — um produto do "sistema baseado em preços" — por uma unidade econômica criada em torno das medições de energia.

Em Greenwich Village, Scott "falava para todos os que quisessem ouvir." [24]

E alguém da Universidade de Colúmbia estava ouvindo: o ex-membro da Aliança, o professor Walter Rautenstrauch, chefe do prestigioso Departamento de Engenharia Industrial (o primeiro do tipo nos EUA) ainda via a validade da Tecnocracia. (Nota: Naquele tempo, Scott dividia uma sala com outra personalidade de Colúmbia, M. King Hubbert, mais tarde conhecido como o pai da teoria do "Pico Petrolífero"). Agora, um novo projeto teve início: Rautenstrauch e Scott formaram o Comitê Sobre Tecnocracia. O professor Rautenstrauch apresentou então Scott ao reitor Nicholas Murray Butler, e então a porta da oportunidade se abriu. [25]

Michael Rosenthal, professor do Departamento de Ciências Humanas na Universidade de Colúmbia, explica o entusiasmo de Butler:

"Impressionado pelo fervor messiânico de Scott, Butler o convidou em 1932 para vir para a universidade, trabalhar no Departamento de Engenharia Industrial e realizar pesquisas sobre a história do desenvolvimento industrial estadunidense conforme visto por meio de uma série complexa de mensurações da energia. Quando se tornou conhecido em agosto que Scott e seus colegas tecnocratas estavam estabelecidos em Colúmbia, o interesse pela Tecnocracia explodiu. Uma nova dança recebeu o nome de Tecnocracia, Scott tornou-se um conferencista muito requisitado e a imprensa proclamou que suas teorias eram revolucionárias. Butler tentou minimizar as expectativas sobre o potencial dela... mas, estava claro que ele também estava entusiasmado por ter conseguido trazê-la para Colúmbia." [26].

A revista Time chamou a Tecnocracia de "carne boa para Nicholas Murray Butler". [27] Em 17 de janeiro de 1933, a edição do Berkeley Daily Gazette foi rápida em apontar que "sem a capa de respeitabilidade da Universidade de Colúmbia, a tecnocracia teria permanecido na obscuridade". [28]. Colúmbia era a galinha que punha ovos de ouro para a Tecnocracia.

Tudo isto ocorreu na fase inicial da Grande Depressão. Com a crise econômica como pano de fundo e agora vinculado a uma das universidades mais influentes, Scott foi saudado como um homem "que anunciava um evangelho de salvação". [29]. A partir da plataforma de Colúmbia, sua visão grandiosa de uma sociedade planejada provocou uma explosão de entusiasmo e esperança, e a moda se alastrou para fora das fronteiras dos EUA.

William Akin explica:

"Em 1932-33 as ideias dos tecnocratas ofuscaram todas as outras propostas para tratar a crise... Os jornais propagavam as ideias da tecnocracia na primeira página, as revistas dedicaram mais matérias a ela do que a Franklin D. Roosevelt, organizações e grupos de estudo espontâneos surgiram em todo o país e se alastraram até o Canadá. Por um momento de tempo foi possível acreditar que os EUA conscientemente escolheriam se tornar uma tecnocracia." [30].

Para as massas que lutavam para conseguir pagar as contas e sobreviver com seu salário, a " sociedade planejada" oferecia uma visão maravilhosa, "um emprego para todos entre 25 e 45 anos; suporte do governo após os 45 anos; jornada de trabalho de 16 horas semanais; fim das dívidas; mais produtos e de melhor qualidade e um padrão de vida correspondendo a pelo menos uma renda de 10 mil dólares anuais." [31]

Dez mil dólares anuais eram um quantia muito boa naquele tempo. Em uma sociedade dilacerada pelo desemprego, essa visão luminosa de prosperidade técnica brilhava como um novo Sol. A mecanização e a automação, controladas pela eficiência e guiadas por especialistas não enviesados, resgatariam a todos. O grande e ostentador Howard Scott parecia ser um herói; "A Ciência, em resumo, na pessoa de Howard Scott, veio para salvar o mundo." [32].

Revertendo outra vez para Veblen, que morrera em 1929, o Comitê Sobre Tecnocracia iniciou um levantamento dos recursos materiais da América do Norte. Os dados estavam sendo compilados na Universidade de Colúmbia com a visão de formar um Tecnato — a ordenação do continente segundo as linhas técnicas. Propostas para a substituição do dinheiro foram discutidas: "A Contabilidade da Energia" ou "Certificados de Energia". Um estudo hidrológico foi iniciado com a ideia de transpor sistemas hidrográficos inteiros, inclusive no Canadá, para criar um meio eficiente de transporte transcontinental e de geração de energia elétrica. Socialmente falando, a Tecnocracia ridicularizava os padrões bíblicos, ao mesmo tempo que adotava a evolução darwiniana, de forma que abordagens comportamentais para a gestão humana foram ensinadas em seu Study Course de 1934. [33].

Harold Loeb, um ex-camarada de Scott e Veblen, estava disposto até a tratar o assunto da sexualidade de uma forma científica, em oposição aos "tabus, originalmente impostos pelos dogmas cristão e calvinista". [34]. A partir da perspectiva da eugenia do Darwinismo Social, e prenunciando o movimento transumanista atual, Loed declarou que:

"A Tecnocracia contempla outra forma de domesticação, uma forma em que o homem poderá se tornar mais do que um homem... A Tecnocracia está destinada a desenvolver as assim chamadas faculdades mais elevadas em todo homem e não tornar cada homem resignado à sorte para a qual ele possa ter nascido... Por meio da reprodução com indivíduos específicos para propósitos específicos... A Tecnocracia, então, deverá com o tempo produzir uma raça de homens superiores em qualidade a qualquer que agora exista na terra..." [35].

Um modo novo e de alta potência de criar e gerenciar a riqueza material e os relacionamentos humanos parecia bom para uma nação desesperada. Em todo o país organizações da Tecnocracia foram formadas, incluindo um Partido Tecnocrático, que queria fazer de Howard Scott o ditador da América do Norte. Outro grupo, a Sociedade Tecnológica Americana, "propôs o uso da União Soviética como um modelo para a nova ordem."

As instituições de ensino superior gravitaram em torno do conceito progressista da Tecnocracia. Elementos estavam incorporados ou espalhados dentro das universidades de todo o país; o Instituto de Tecnologia da Califórnia, a Universidade de Cornell, a Nova Escola para Pesquisa Social (iniciada por Veblen e por socialistas fabianos, e agora conhecida como A Nova Escola), o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), a Universidade de Chicago e muitas outras tinham professores com inclinações tecnocráticas.

No Canadá, a Tecnocracia estava avançando nas províncias ocidentais. Foi neste mesmo período de tempo que o movimento Comunidade Cooperativa se difundiu pelas pradarias. Em 1933, Regina Manifesto, embora não tenha sido um documento oficial da Tecnocracia, tinha um nítido tom tecnocrático em sua proposta para uma "sociedade planejada".

"A Comunidade Cooperativa propõe o estabelecimento de uma ordem econômica planejada e socializada, de modo a tornar possível o desenvolvimento mais eficiente dos recursos nacionais e a distribuição da renda nacional de forma mais equitativa. O primeiro passo nessa direção será o estabelecimento de uma Comissão Nacional de Planejamento, constituída por um pequeno corpo de economistas, engenheiros e estatísticos auxiliados por um corpo técnico apropriado."

"A tarefa da Comissão será planejar a produção, distribuição e permuta de todos os bens e serviços necessários para o funcionamento eficiente da economia, coordenar as atividades das indústrias socializadas; fornecer um equilíbrio satisfatório entre o poder de produção e o de consumo e realizar pesquisa contínua em todas as ramificações da economia nacional de modo a adquirir as informações detalhadas necessárias para o planejamento eficiente... É agora certo que em todo país industrial alguma forma de planejamento substituirá o sistema capitalista em desintegração." [36].

A Alemanha nazista também testemunhou um crescimento da Tecnocracia. Em 1933, o jornal New York Times observou que a Alemanha "estava crescendo e prosperando por meio da aplicação apropriada da Tecnocracia". [37]. O Dr. Gottfried Feder, o autor das primeiras teorias econômicas nazistas, [38] disse a uma audiência em Danzig que:

"O Nacional Socialismo... compreende que ainda restaram poderosas tarefas e possibilidades técnicas e que somente poderão ser solucionadas pela mobilização planejada da técnica... a riqueza de um povo é medida por sua capacidade de organizar seus recursos." [39].

Os alemães formaram seus próprios grupos tecnocráticos. A União Technokratische, que tinha um escritório em Berlin, esteve em contato com Howard Scott enquanto ele estava na Universidade de Colúmbia e sonhava em "criar conjuntamente uma organização tecnocrática internacional." [40] A Sociedade Tecnocrática Alemã produziu uma revista que publicava artigos traduzidos do lado Tecnocrático Americano. [41]

À medida que o Nacional Socialismo cresceu em poder, esses grupos tecnocráticos se dissiparam sob a pressão do regime nazista. De acordo com um ensaio publicado em Science, Technology and National Socialism, "O Terceiro Reich tinha espaço para tecnocratas individuais, mas não para um movimento tecnocrático." [42].

Apesar disso, os ideais da tecnocracia como um sistema de controle social estavam bem enraizados nas operações nazistas: "... por volta do fim da guerra e do 'Reich de Mil Anos' — a Tecnocracia — e com ela a ciência e a engenharia — estava emergindo como um dos mais poderosos e últimos pilares do Estado Nacional Socialista." [43].

Comissões técnicas alemãs do período do Nacional Socialismo também visitaram Howard Scott. Um de seus organizadores, William Knight trabalhava para uma subsidiária americana da indústria aeronáutica alemã. De acordo com a história da Tecnocracia, de Akin, o Sr. Knight "apresentou os aspectos paramilitares da organização". Isto incluía o uso de um terno cinza, com duas fileiras de botões, uma mônada do Yin-Yang em vermelho e branco afixada no tecido e uma saudação especial. [44]. Por volta de 1940, era possível encomendar o "Cinza Tecnocrático" como uma opção para os veículos Mercury, Ford, Nash e Chevrolet. [45]

No breve período de tempo em que a Tecnocracia esteve em Colúmbia, o ideal tecnocrático se espalhou internacionalmente. Na verdade, se o Comitê Sobre a Tecnocracia não tivesse ficado sob o guarda-chuva da Universidade de Colúmbia, é duvidoso se Scott teria ido muito além do seu bairro em Nova York, mesmo com seu estilo franco e sem reservas de discursar.

Scott era certamente o porta-voz da Tecnocracia, mas sua língua era muito afiada. Seu dinamismo era cativante, porém ele era arrogante e se tornou publicamente abrasivo. O Comitê começou a fraquejar e depois entrou em colapso.

O que aconteceu? Dois fatos ocorreram quase simultaneamente. Uma divisão ocorreu quando o Dr. Rautenstrauch encontrou-se diretamente diante da realidade da Tecnocracia — a atribuição de "poderes ilimitados aos engenheiros" e a absoluta engenharia social. [46]. Em uma palavra: ditadura. Era hora para o professor se distanciar daquilo que estava parecendo ser um movimento subversivo.

Ao mesmo tempo, Howard Scott estava se destruindo na mídia. Sua personalidade grandiloquente começava a atrapalhar. Além disso, quando questionado, ele frequentemente se recusava a dar respostas tangíveis e, algumas vezes, silenciava os questionadores com "arrotos pretensiosos e dogmáticos". [47]. Afinal, ele era Howard Scott, "o maior profeta desde Jesus Cristo". [48]. Portanto, nos dias finais de 1932, a revista Time definiu a personalidade dele em uma linha: "A Tecnocracia era uma ideia; ele era sua inteligência; sua pessoa e sua personalidade não importavam; ouça e compreenda, se quiser, mas não interrompa e nem questione demais Howard Scott." [49].

Finalmente, em um discurso transmitido pelo rádio, que recebeu ampla divulgação, feito diante da Sociedade das Artes e Ciências de Nova York, Scott se destruiu. Seu discurso foi constrangedor e ele se recusou a responder às perguntas feitas pelo público presente. Provérbios 16:18 nos diz: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda." Embora Howard Scott desdenhasse o Cristianismo, ele parece ter vivido segundo esse verso.

Colúmbia e, mais importante ainda, o reitor Butler, estavam agora sendo alvos de críticas. Fornecendo uma base para a Tecnocracia, Butler tinha dado uma enorme credibilidade a Scott. Agora, ele queria se distanciar do Comitê que estava se dissolvendo. Entretanto, algo aconteceu que demonstrou que um poder permanecia.

No mês em que o Comitê foi dissolvido e deixou a universidade, o reitor Butler anunciou a criação de um grupo de trabalho especial para examinar o progresso tecnológico no país. Indicados para a comissão estavam Edmund Day, da Fundação Rockefeller, o socialista fabiano Walter Lippman, Alvin Johnson, da Nova Escola de Pesquisa Social (a universidade de Veblen), Benjamin Anderson, do Chase National Bank, e diversos professores das Universidades de Yale, Harvard e Chicago. Butler explicou: "A investigação será direcionada em particular para a técnica de produção e a técnica do comércio... para o serviço da sociedade." O tópico de escolha: A economia baseada em preços e a adequação do sistema presente com relação ao "bem-estar social". [50] Em outras palavras, Tecnocracia.

Isto não foi irônico. A Tecnocracia era perfeitamente adequada para a Universidade de Colúmbia. Como veremos, a essência da Tecnocracia — completa com seus projetos para o controle social — estava em harmonia com o coração de uma das mais importantes figuras internacionais daquele tempo. E esse indivíduo, cujo objetivo era recriar o mundo, residia em Colúmbia. A partir de sua torre de marfim, esse homem se cercava das mais importantes personalidades, flertava com os movimentos mais promissores, incluindo o fascismo e fazia parcerias com os atores mais poderosos na cena internacional. Seu coração pulsava com os ideais da Tecnocracia.

Sem esse indivíduo e sua fenomenal rede de poder, a Tecnocracia não teria se propagado tão rápido e para tão longe quanto conseguiu se propagar. Esse homem, o reitor da Universidade de Colúmbia, era considerado por muitos "a mente mais brilhante na vida educacional e política da América." [51] Se quisermos compreender como o poder flui, como a Tecnocracia se enraizou firmemente e como a busca atual pela governança global — a gestão internacional — se encaixam em tudo isto, precisamos examinar a vida do extraordinário Nicholas Murray Butler, também conhecido como "Milagroso Nicolau".

Leia as partes 1,3

Artigos recomendados: Tecnocracia 


Fonte:https://www.espada.eti.br/tecnocracia-2.asp

Nenhum comentário:

Postar um comentário