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8 de mar. de 2018

Berlusconi aceita Salvini como primeiro-ministro

Silvio Berlusconi e Matteo Salvini durante a campanha. Salvini levou a Liga dos 4% obtidos em 2013 para os 17,3% no passado domingo



DN, 08 de março de 2018. 



Por Abel Coelho de Morais



Líder do Força Itália cede a parceiro de coligação possibilidade de formar executivo. Mas a maioria de italianos deseja que seja o dirigente do 5 Estrelas o próximo chefe de governo.

A dúvida vai persistir até ao início de abril, quando o presidente Sergio Mattarella iniciar consultas para a formação de um novo governo de Itália na sequência das legislativas do passado domingo que deixaram todos os partidos ou coligações abaixo dos 40% necessários para a maioria absoluta. Mas Silvio Berlusconi, cuja Força Itália ficou em terceiro lugar, reconheceu ontem o direito do seu parceiro de coligação, Matteo Salvini, líder da Liga, o segundo partido mais votado, a constituir governo. Isto enquanto o dirigente do partido do vencedor das eleições, Luigi di Maio, do Movimento 5 Estrelas, insiste ser a ele que, primeiro, deve ser dada oportunidade para formar o futuro executivo.


O facto de nenhum partido ou coligação ter chegado à maioria absoluta cria um ambiente político altamente incerto, intensificado pela circunstância da formação política mais votada ser o 5 Estrelas, que não tem experiência governativa e que viu nestas legislativas perder um terço dos votos alcançados em Roma e Turim nas autárquicas de 2016, quando ganhou as câmaras destas duas cidades.

Significativamente, a afluência às urnas no domingo foi de 72,9%, a mais baixa em eleições desde 1948 até à atualidade. O que, em paralelo com o importante resultado do 5 Estrelas, segundo vários analistas, ilustra o nível de desilusão dos italianos com a vida política e, em especial, com os partidos tradicionais.

Numa entrevista concedida ao Corriere della Sera, Berlusconi declarou-se pronto a respeitar "os nossos acordos" e a "garantir a solidez da coligação e assumir os nossos compromissos com os eleitores". Além do Força Itália e da Liga, a coligação integra os Irmãos de Itália e um pequeno partido democrata-cristão, a UDC, num total de 37% dos votos. Por seu turno, o 5 Estrelas teve 32,7% dos votos, sendo claramente maioritário em quase todo o Sul de Itália. Mas fica aquém dos 40% para governar sozinho e terá de recorrer ao apoio de outros partidos. Logo após as eleições, abriu a porta a uma colaboração com a Liga, o que Salvini excluiu de forma taxativa.

Liga e 5 Estrelas

Di Maio tem a seu favor a popularidade do 5 Estrelas que, apesar das diferentes tendências no interior do partido e de algumas dúvidas sobre a capacidade de ser governo, conseguiu apresentar uma imagem homogénea ao longo da campanha, o que se deve principalmente ao trabalho do seu líder. Outro dado a reter destas eleições é a subida extraordinária da Liga, que passa de 4% nas eleições de 2013 para 17,3% no voto de dia 4.

O resultado da Liga é, em larga medida, resultado do trabalho de Salvini, que transformou um partido regionalista e secessionista (na sua origem, no início dos anos 90, a Liga Norte, como era designada, defendia a independência do Norte de Itália) numa força política nacional, que soube capitalizar nos receios dos italianos face à vaga migratória. Todavia, o líder da Liga está longe de ser uma figura consensual, com apenas 21% dos italianos a quererem que seja ele a formar governo, isto segundo uma sondagem ontem divulgada pela televisão La7. Em contrapartida, 40% aceitam que seja o dirigente do 5 Estrelas o escolhido pelo presidente Matarella para dirigir o futuro executivo.

Os resultados oficiais ainda não foram publicados devido a algumas questões legais surgidas na região de Roma. De qualquer forma, o número de eleitos em causa não afetará os resultados conhecidos.

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