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26 de set. de 2017

Parlamentar neozelandês era tutor de espiões chineses, apontam investigações



Epoch Times, 25 de setembro de 2017 






Notícias da mídia local na Nova Zelândia indicam que o pedido de cidadania do deputado Jian Yang foi publicado. No entanto, o jornal Herald relata que os trechos que contavam se Yang ensinava nas academias militares chinesas (aulas de inglês para estudantes que treinavam para ser espiões) quando adquiriu cidadania da Nova Zelândia não foram revelados.

Este caso é o último episódio de uma série de eventos recentes que levantam questões sobre a influência da China em assuntos internos das democracias ocidentais como Austrália, Canadá e Estados Unidos.


Na semana passada, a mídia Newsroom e o Financial Times, que conduziram uma investigação conjunta sobre o parlamentar Jian Yang, informaram que Yang atraiu a atenção do Serviço de Segurança e Inteligência do país por causa de sua ligação com academias militares chinesas.

Yang estudou e trabalhou durante muitos anos em instituições acadêmicas militares de elite, entre elas a Faculdade de Engenharia da Força Aérea do Exército Popular de Libertação e o Instituto Luoyang de Línguas Estrangeiras.

Ele se tornou um membro do Parlamento da Nova Zelândia em 2011 e foi membro de diferentes comitês em diferentes períodos, incluindo de assuntos externos, defesa e comércio. Ele é atualmente o secretário particular do parlamento para assuntos étnicos.

Yang foi uma grande arrecadador de fundos para o Partido Nacional na comunidade chinesa e tem, como afirmou o Financial Times, “grandes doadores anônimos”. O jornal faz referência a um evento para angariar fundos realizado em 2016 junto com o primeiro-ministro John Key, no qual seis doadores anônimos da China doaram um total de 100 mil dólares para que fosse mudada a bandeira da Nova Zelândia, segundo a mídia local. Os doadores queriam que fosse retirada a bandeira do Reino Unido da bandeira da Nova Zelândia por causa da história da China com esse país.


Falando aos repórteres após as revelações sobre seu passado, Yang disse que ensinou inglês e literatura americana enquanto esteve em academias militares chinesas, acrescentando que alguns de seus alunos foram treinados para coletar, monitorar e interpretar informações, conforme relatado pela Associated Press.

Ao refutar “quaisquer acusações que questionam” sua lealdade à Nova Zelândia, Yang disse que ele é vítima de uma campanha racista para desacreditá-lo.

“Embora eu não tenha nascido aqui, tenho orgulho de me considerar neozelandês, obedecer suas leis e contribuir com esse país”, disse ele a repórteres.

Yang disse que o sistema militar possui oficiais com e sem patente, sendo estes chamados de civis, e que ele podia ser considerado um dos civis.

“Se você define esses cadetes ou estudantes como espiões, sim, então eu estava ensinando para espiões”, disse ele. “Posso entender que as pessoas estão preocupadas porque elas não entendem o sistema chinês”, acrescentou. “Mas uma vez que entendem o sistema, eles se sentem confiantes de que não há nada com que se preocupar”.

Mas eles são precisamente aqueles que têm uma boa compreensão do sistema político da China, incluindo um desertor que costumava trabalhar para o mesmo regime de Yang, que é quem está soando o alarme.

Antecedentes militares

Yonglin Chen foi o primeiro secretário do consulado chinês em Sydney, Austrália, até desertar em 2005. Ele foi encarregado do departamento político do consulado, com a tarefa de supervisionar membros da comunidade chinesa no exterior.

Chen diz que os antecedentes de Yang com as forças armadas chinesas não é o tipo de coisa possível de ser ignorada.

De acordo com Chen, aquele que se forma na Faculdade de Engenharia da Força Aérea do Exército Popular de Libertação tem o cargo de tenente; e que, se ele se forma pelo Instituto Luoyang de Línguas Estrangeiras com um mestrado, ele tem, pelo menos, o cargo de capitão.

Ao dar uma entrevista para a edição chinesa do Epoch Times, Chen disse que os alunos da academia e da faculdade militar chinesa sofrem “lavagem cerebral” e que os neozelandeses devem ter cuidado ao lidar com pessoas com formação militar.


Anne-Marie Brady, professora da Universidade de Canterbury na Nova Zelândia e membro global do Centro Wilson, escreveu em um artigo que o Exército Popular de Libertação” não teria permitido que ninguém com formação em inteligência militar de Yang Jian fosse estudar no exterior, a menos que tivesse permissão oficial”.

Associações estudantis chinesas

Antes de ir para a Nova Zelândia e assumir um cargo acadêmico na Universidade de Auckland, Yang era um estudante na Universidade Nacional da Austrália (UNA) em Canberra. De acordo com uma entrevista exclusiva que deu à publicação em língua chinesa, enquanto esteve na UNA foi presidente da Associação Chinesa de Estudantes e acadêmicos (ACEA).

As sedes da Associação Chinesa de Estudantes e Acadêmicos, que estão localizadas em muitos campi fora da China, incluindo Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos, são conhecidas pelos pesquisadores como extensões do aparelho diplomático da China no estrangeiro e são usadas para controlar os estudantes chineses no exterior.

A seção “sobre nós” na conta do Facebook da ACEA diz em chinês que a associação é promovida pela embaixada chinesa na Austrália”. O site da ACEA da Universidade de Canberra diz em chinês que a Associação está “sob a administração da embaixada chinesa na Austrália”.

De acordo com Brady, as ACEAs são “um dos principais meios utilizados pelas autoridades chinesas para orientar estudantes e acadêmicos chineses que fazem cursos de curta duração no exterior”.

Os americanos tiveram uma experiência não tão secreta com a missão das ACEAs no início deste ano quando as ACEAs da Universidade da Califórnia – São Diego mobilizaram os estudantes chineses para interromper um discurso programado pelo Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, na Universidade. A ACEA emitiu uma declaração sobre o WeChat (uma plataforma chinesa de mensagens instantâneas) que afirma: “A Associação Chinesa de Estudantes e Acadêmicos pediu instruções ao Consulado chinês em Los Angeles e, depois de recebê-las, as implementará”.

Depois de desertar, Chen explicou como o Partido Comunista Chinês (CCPh) usa grupos de estudantes e comunidades no exterior como organizações de fachada para influenciar funcionários do governo e sociedades ocidentais.

“O controle da comunidade chinesa no exterior tem sido uma estratégia consistente do Partido Comunista Chinês e é o resultado de meticuloso planejamento e gerenciamento por dezenas de anos”, disse ele em uma entrevista. “Não é apenas na Austrália. Também é feito desta forma em outros países, como Estados Unidos e Canadá”.

Grande parte da espionagem e das iniciativas do Partido Comunista Chinês para exercer influência no exterior são organizadas pelo Departamento da Frente Unida e pelo Escritório de Relações Exteriores, disse Chen.

Brady explica que a Frente Unida é originária de uma “tática leninista de alianças estratégicas”.

“As atividades da Frente Unida incluem trabalhar com grupos e indivíduos proeminentes na sociedade; gestão de informação e propaganda; e muitas vezes foi um meio de facilitar a espionagem”, escreveu ele.

De acordo com Michel Juneau-Katsuya, ex-chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Canadá para a Ásia-Pacífico, o Partido Comunista Chinês criou várias organizações como o Congresso Nacional de Canadenses Chineses (CNCC) para atuar como “agentes de influência” no Canadá . Ele disse que o Partido exerce influência entre a diáspora chinesa e o público em geral em outros países através de organizações similares. O CNCC negou consistentemente ser uma frente para o poder comunista no exterior.

“O que é muito importante [para a China] é ter certas organizações que se convertam em seus próprios agentes de influência dentro da comunidade, a fim de poder identificar os dissidentes em primeiro lugar e então poder fazer um grande lobby no governo local de qualquer país “, disse Juneau-Katsuya.

Influência

No início deste ano, a Organização de Segurança e Inteligência da Austrália advertiu os principais partidos políticos do país contra a retirada de milhões de doações de indivíduos com vínculos estreitos com o regime chinês, pois isso tornaria a Austrália vulnerável à influência de Pequim.

Este ano, a imprensa prestou mais atenção à questão da campanha da China para se infiltrar e influenciar a Austrália e até moldar as políticas governamentais e influenciar a comunidade e os meios de comunicação chineses no país. Desde então, houve pedidos de proibição das doações de fontes estrangeiras aos partidos políticos.

No Canadá, grande parte do que aconteceu na Austrália com doações milionárias já seria ilegal por causa dos limites de doação previstos em lei, pelo menos em nível federal. No entanto, o primeiro-ministro Justin Trudeau foi criticado no ano passado pelos partidos da oposição por participar de eventos de coleta de fundos com a presença de pessoas ricas da comunidade sino-canadense, uma das quais possuía um empreendimento que requer a aprovação do governo. Um desses eventos contou com a presença de Zhang Bin, um assessor político do regime chinês, de acordo com informações do The Globe and Mail. Trudeau encerrou os polêmicos eventos de coleta de fundos mais cedo este ano.

Em seu artigo, Brady enumera uma série de políticas do Partido Comunista Chinês destinadas a controlar as nações estrangeiras. Entre elas: designar estrangeiros com acesso ao poder político para cargos de alto perfil em empresas chinesas ou entidades financiadas pela China no país anfitrião; atrair acadêmicos estrangeiros, empresários e políticos para promover a perspectiva da China nos meios de comunicação e meio acadêmico; usar fusões, aquisições e parcerias com empresas estrangeiras, universidades e centros de pesquisa para adquirir identidade local que melhore atividades de influência; e potencialmente, acessar os segredos da tecnologia militar e comercial e outras informações estratégicas.

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