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5 de jun. de 2017

Seis países árabes cortam relações diplomáticas com o Qatar




RTP, 05 de junho de 2017 



Arábia Saudita, Egito, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Iémen e Líbia anunciaram esta segunda-feira o corte de relações diplomáticas e o fim das ligações aéreas e marítimas com Doha. Acusam o país de ingerência e apoio ao terrorismo e de interferência em “assuntos internos”. Na origem da polémica está um ataque hacker à agência de notícias de Doha que elevou a tensão no Golfo nas últimas duas semanas.

A elevada tensão entre o Qatar e alguns dos aliados dos Estados Unidos no Golfo Pérsico não tem precedentes e deve-se ao alegado apoio de Doha a grupos terroristas, incluindo o Estado Islâmico e a Al Qaeda, uma acusação que o país nega. 


A Arábia Saudita informou através da agência noticiosa SPA que encerrou fronteiras e o contacto por todos os meios com a pequena península, acusando os responsáveis de colaborar igualmente com forças iranianas. 



Riade foi a primeira a anunciar o corte de relações diplomáticas com Doha, ao início do dia, sendo depois seguida dos vários aliados no Golfo Pérsico. Na Líbia, o "governo" sediado na cidade de Bayda, na zona oriental do país, à revelia do poder exercido em Tripoli, também anunciou o corte de relações com o Qatar. 

Para a Arábia Saudita, o corte de relações pretende "proteger o país dos perigos do terrorismo e extremismo". 

Em resposta, o Qatar já criticou aquilo que designa como uma decisão “injustificada” e “sem fundamento”. 

"O Estado do Qatar tem sido alvo de uma campanha de mentiras que atingiram um ponto de fabricação completa. Esta campanha revela o plano oculto de enfraquecer o Estado do Qatar", pode ler-se no comunicado do Governo, citado pela Al Jazeera.  

Voos cancelados

Na sequência deste corte diplomático, três países do Golfo - Arábia Saudita, Bahrein e Iémen - exigem a saída de cidadãos e responsáveis do Qatar em duas semanas. 

Já os Emirados Árabes Unidos reduzem o prazo a 48 horas. Abu Dhabi acusa o país de "ajudar, financiar e abraçar o terrorismo, o extremismo e organizações sectárias" e anunciou a suspensão de todos os voos da Ethiad, a transportadora aérea dos EAU, com partida e destino a Doha, após a madrugada de terça-feira.

As companhias Emirates, flydubai e Saudia também já anunciaram a suspensão de voos com origem e destino do Qatar. Em resposta, a Qatar Airways também já anunciou a suspensão de todos os voos para a Arábia Saudita.  

Também o Bahrein anunciou o corte de relações com o Qatar por interferências na "segurança e estabilidade" do pequeno país insular, bem como pela "intromissão" em assuntos de cariz interno. 

A coligação árabe - liderada pela Arábia Saudita - que combate os rebeldes houthis no Iémen desde o início do conflito, em março de 2015, também anunciou que vai expulsar o Qatar da aliança militar por "práticas que fortalecem o terrorismo". 

Após o anúncio desta segunda-feira, os mercados da região mostraram grande instabilidade, com destaque para a subida do preço do petróleo. A bolsa de Doha caiu oito por cento na abertura dos mercados. 

Tensão no Golfo

O corte diplomático sem predecentes acontece num contexto de tensão crescente entre os países do Golfo Pérsico. Há duas semanas, os quatro países da região bloquearam o acesso a vários sites de notícias do país, incluindo a Al Jazeera, sediada em Doha. 

Na origem da polémica esteve um ataque hacker à Qatar News Agency que levou à publicação de alegadas críticas à política externa dos Estados Unidos pelo emir do Qatar, o sheik Tamim bin Hamad al-Thani.


As notícias difundidas pela agência atribuiam ao sheik do Qatar várias críticas ao isolamento regional do Irão e de Israel, e à necessidade de contextualizar o Hamas e o Hezbollah como "movimentos de resistência". 

Segundo as informações falsas, o responsável teria também criticado Donald Trump por altura da visita à Arábia Saudita, sugerindo que o líder norte-americano não permaneceria por muito mais tempo no poder. 

No Twitter, propagou-se a notícia que o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar teria anunciado a retirada de vários embaixadores de países árabes, uma informação também plantada por hackers  e depois difundida pela Sky News Arabia e a Al Arabiya, dois canais predominantes na Arábia Saudita, que continuaram a emitir as notícias falsas mesmo depois dos esclarecimentos. 

Na sequência deste incidente, o Governo do Qatar lançou uma investigação sobre o ataque, que não foi reivindicado por nenhum país ou organização, mas o conflito diplomático com Riade acabou por se adensar, resultando no corte de relações esta segunda-feira.

Rex Tillerson, secretário de Estado norte-americano, já pediu aos Estados do Golfo que se mantenham "unidos" na luta contra o terrorismo. 

Hamid Aboutalebi, representante do Presidente iraniano Hassan Rouhani, criticou o bloqueio diplomático. "A era de cortar relações diplomáticas e encerrar fronteiras já acabou. Esta não é a forma de reosolver uma crise. Estes países não têm outra opção senão iniciar o diálogo a nível regional", escreveu no Twitter.

Hashem Ahelbarra, correspondente da Al Jazeera para assuntos do Médio Oriente, considera que esta é "a mais grave crise política da região em vários anos".

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