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8 de jun. de 2017

Fentanil. A droga que matou Prince causa alarme europeu




DN, 07 de junho de 2017. 



Por Rute Coelho. 



Dos 25 novos opiáceos sintéticos que apareceram na Europa, 18 são derivados de Fentanil, um analgésico 50 vezes mais potente que a heroína. Prince morreu com uma overdose

Nos Estados Unidos, o analgésico opiáceo Fentanil, muito utilizado por pacientes com cancro, é uma autêntica epidemia que está a causar milhares de overdoses - uma delas foi a que matou o músico pop Prince, o ano passado. O alarme chegou à Europa. Dos 25 novos opiáceos encontrados no mercado europeu desde 2009, 18 eram derivados de Fentanil e oito deles foram notificados pela primeira vez em 2016, segundo o relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, ontem divulgado.

Como sublinha o relatório, "embora representem atualmente uma pequena parcela do mercado de droga europeu, os novos fentanis são substâncias muito potentes que constituem uma série ameaça para a saúde individual e pública".



O documento refere ainda que "há dados que comprovam que foram vendidos fentanis a consumidores desprevenidos sob a forma de drogas ilícitas tradicionais e medicamentos de contrafação para a dor, aumentando potencialmente o risco de intoxicação grave e fatal em alguns grupos de consumidores". Os novos opiáceos têm sido apreendidos em várias formas, nomeadamente pós, comprimidos e cápsulas e, desde 2014, também na forma líquida. Mais de 60% das 600 apreensões de novos opiáceos sintéticos registadas em 2015 no espaço europeu eram fentanis.


Em Portugal, a preocupação com o Fentanil remonta ao início dos anos 90 do século passado,recordou um artigo da revista Visão de há um ano. Essa preocupação foi visível no regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes epsicotrópicos, assinado em dezembro de 1992 por Mário Soares, então Presidente da República, e por Cavaco Silva, que era o primeiro-ministro, o qual previa uma pena de 4 a 12 anos de prisão para quem "preparar, oferecer, puser à venda, vender, distribuir, comprar, ceder, proporcionar a outrem, transportar, importar, exportar" um conjunto de sustâncias nas quais constava (e ainda consta) o Fentanil.



"Ainda não há registo de episódios graves relacionados com o uso de fentanis", segundo adiantou José Goulão diretor geral do SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências). "Mas devemos estar particularmente atentos porque estamos a falar de várias moléculas parecidas no mercado e de um impacto grande, com muitas mortes, em países como Estados Unidos e Canadá. Estamos num mercado global, por isso deve-nos preocupar".

"Drogas de festa" voltam ao país

Pela primeira vez, o documento europeu incluiu 30 relatórios individuais de países, um deles Portugal. E os dados do país indicam um aumento do uso da cocaína e do ecstasy em Lisboa entre 2013 e 2016, mais do que no Porto ou Almada. "A presença destas substâncias é maior aos fins de semana do que durante a semana", refere o relatório português.

João Goulão interpreta este novo crescimento da cocaína e do MDMA (ecstasy) - que é também uma tendência europeia - como "um regresso dos estimulantes" ou "drogas de festa", que pode, de alguma forma, estar associado "à saída da crise económica". Até porque são drogas caras. "Antes não havia motivos nem capacidade económica para o consumo da cocaína e do ecstasy".

Os últimos estudos em Portugal indicam que, em 2012, a prevalência da cocaína de alto risco era de 6.2 por 1000 habitantes e a prevalência estimada de uso de opióides de alto risco, como a heroína, foi de 4.9 por 1000 habitantes. "Em Portugal, o consumo da heroína tem vindo a descer paulatinamente nos últimos anos, e o da cocaína tem vindo a subir", constata o diretor geral do SICAD. São "fenómenos em permanente mutação sujeitos a modas e tendências".

João Goulão frisa que a prevenção deve ser "mais dirigida aos jovens, nomeadamente no consumo de ecstasy, para os riscos que há de exaustão e desidratação".

Captagon. Mais apreensões da droga do Estado Islâmico

A droga usada pelos terroristas do Estado Islâmico está na mira das autoridades. As apreensões de Captagon, aumentaram recentemente, sobretudo na Turquia, com mais de 15 milhões de comprimidos apreendidos apenas em 2015, refere o relatório europeu. As anfetaminas, como o Captagon, são produzidas em laboratórios e exportadas essencialmente para o Médio Oriente, o Extremo Oriente e a Oceânia. Captagon é uma mistura de anfetaminas e cafeína que inibe o medo, elimina a dor, anula a empatia e provoca um estado de euforia. Esta é a droga usada pelos terroristas, sendo por isto conhecida como a droga dos jihadistas. A descrição dos terroristas nos momentos em que executam os atentados - apresentam uma calma e frieza extrema - corresponde aos efeitos provocados por esta anfetamina. Cada dose de Captagon não custa mais de 20 euros e o seu uso na Síria é cada vez maior. A circulação desta droga na Síria acaba por gerar milhões de dólares, dinheiro que é depois usado na compra de armas. O Captagon pode ser ingerido por via oral ou intravenosa, forma que potencia os seus efeitos. Também um príncipe saudita foi detido em 2015 após ter sido apanhado a transportar duas toneladas de Captagon no seu avião privado. Pretendia embarcar no seu avião, no aeroporto de Beirute, no Líbano, com 40 malas com a droga.

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