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4 de mai. de 2017

Theresa May acusa UE de tentar influenciar eleições britânicas




RTP, 03 de maio de 2017. 



Por Graça Andrade Ramos



Ameaças contra o Reino Unido e um endurecimento nas negociações do Brexit por parte de responsáveis da União Europeia, são tentativas de influenciar as eleições britânicas marcadas para 8 de junho, afirmou a primeira-ministra Theresa May depois de um encontro com a Rainha.

"Nos últimos dias tivemos uma amostra de como as conversações [do Brexit] deverão ser duras. A posição negocial da Grã-Bretanha na Europa está a ser mal apresentada na imprensa do continente, a posição negocial da Comissão Europeia endureceu, políticos e responsáveis europeus fizeram ameaças contra a Grâ-Bretanha", referiu Theresa May.


Frente ao seu gabinete oficial no nº 10 de Downing Street, Theresa May afirmou que há quem, em Bruxelas, não queira ver as conversações do Brexit chegar a bom termo.



"Todos estes atos têm sido deliberadamente programados para afetar o resultado das eleições gerais" marcadas para junho, acusou May, que até agora desvalorizou os artigos publicados na imprensa sobre a tensão nas negociações. 

Durante o fim de semana, artigos publicados na imprensa alemã levantavam o véu sobre o jantar "desastroso" entre Theresa May e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em Londres, na quarta-feira passada. 

De acordo com os relatos, Juncker terá terminado o jantar 10 vezes "mais apreensivo" sobre as negociações do Brexit e terá mesmo dito a May que o Brexit não poderia ser um sucesso.

"Noutra galáxia"

No domingo, a  Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) revelou que Jean-Claude Juncker afirmou ao abandonar o jantar que May vivia "noutra galáxia" quanto às exigências das negociações.

No dia seguinte, a chanceler alemã Angela Merkel avisou Londres para não "se iludir" sobre as implicaçoes do divórcio.

Esta quarta-feira, Juncker mostrou-se incomodado com a divulgação do que se passou no jantar e expressou admiração pela primeira-ministra britânica.

"Percebi que é uma mulher forte", disse o Presidente da Comissão. "Respeito profundamente a primeira-ministra britânica. Gosto dela como pessoa", acrescentou.

O primeiro obstáculo a agravar a tensão está a ser a fatura da separação. 

Esta fatura pode chegar aos 100 mil milhões de euros, valor avançado pelo Financial Times. A Comissão Europeia estima que o valor oscile entre os 40 e os 60 mil milhões de euros.

Não pagamos

O cálculo inclui os compromissos europeus  no quadro plurianual 2014-2020, quanto ao orçamento comunitário, à saída de organismos como o BCE ou o Banco Europeu de Investimentos, ou ainda à participação dos fundos europeus como o atribuído aos refugiados na Turquia.

São somas que poderão ainda evoluir, sustenta a UE, em função dos compromissos que o Reino Unido possa ainda assumir até ao término oficial da sua participação no bloco, prevista para, no máximo, 29 de março de 2019.

Para a União Europeia, Londres terá de incorrer nestes custos mas o ministro britânico para o Brexit, David Davis, já disse que o seu país não irá pagar 100 mil milhões de euros e ameaçou mesmo não pagar "nada", caso não haja acordo.

Esta manhã, o principal negociador da UE para o Brexit, Michel Barnier, advertiu que o Brexit não se fará "rapidamente nem sem dor".

"Alguns criaram a ilusão de que o Brexit não terá um impacto material nas nossas vidas ou que as negociações poderiam ser concluídas rapidamente e sem dor", lamentou o francês.

Barnier afirma-se pronto "a todas as opções" quanto à negociação, mas insiste que o obejtivo permanece a obtenção de um acordo para uma saída em boa ordem e promete alcançar "um acordo" com Londres sobre um método rigoros de cálculo sobre os custos do divórcio britânico..

"Não é uma punição nem um imposto de saída" referiu Barnier, recusando falar em 'factura' e sublinhando que a UE não irá exigir ao Reino Unido um "cheque em branco".

Trata-se de respeitar os compromissos assumidos, somas alocadas que podem causar problemas se os programas tiverem de ser "amputados ou suspensos", referiu Bernier.

Recomendações europeias

Londres considera ainda que as questão  relativas aos cidadãos europeus no Reino Unido e aos britânicos na União Europeia - cerca de 4,5 milhões de pessoas - poderão estar resolvidas ainda durante o verão, algo que Juncker terá rejeitado liminarmente na semana passada.

Há que estabelecer direitos de residência, direitos ao emprego, à educação, à saúde, o reconhecimento de diplomas ou de qualificações, vantagens sociais ou fiscais a garantir. 

As negociações não poderão também comprometer os acordos de Sexta-feira Santa que pôs fim em 1998 aos confrontos irlandeses. A União Europeia quer garantir ainda que não será instaurada uma fronteira física entre a Irlanda do Norte, província britânica e a Irlanda, estado-membro da UE.

De acordo com a imprensa continental, no encontro com Juncker a primeira-ministra britânica terá dado mostras de estar muito "mal preparada" para estas negociações. 

Esta quarta-feira a Comissão Europeia apresentou num documento as "recomendações" e as "questões" que considera "estritamente necessárias a uma retirada ordenada do Reino Unido".

O documento deverá ser aprovado na próxima cimeira dos 27 dia 22 de maio. A partir daí a União estará juridicamente pronta a iniciar as negociações do Brexit. 

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