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8 de abr. de 2017

Rússia e Irão cerram fileiras por Assad após ataque de Trump

Aviões russos estacionados na base síria de Hmeymim


RTP, 08 de abril de 2017. 



Por Carlos Santos Neves



Os chefes das estruturas militares russa e iraniana falaram este sábado ao telefone sobre o bombardeamento norte-americano contra uma base aérea das forças de Bashar al-Assad na Síria, prometendo “continuar o combate” aos “terroristas”. E voltaram a acusar a Administração Trump de ter ordenado “uma agressão contra um país independente”.

Os generais Mohammad Bagheri, chefe das Forças Armadas do Irão, e Valery Gerasimov, responsável pela máquina de guerra russa, “condenaram a operação americana contra uma base aérea síria”, que avaliaram como “uma agressão contra um país independente”, resumiu nas últimas horas a agência estatal iraniana Irna.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros conversou igualmente ao telefone com o secretário de Estado norte-americano. Rex Tillerson ouviu de Sergei Lavrov um aviso contra "ameaças adicionais à segurança global". O chefe da diplomacia dos Estados Unidos é esperado na próxima semana em Moscovo. 

O ataque desencadeado pelo dispositivo naval dos Estados Unidos, consideraram os dois generais, veio “retardar as vitórias do exército sírio e dos seus aliados e reforçar os grupos terroristas”.

Perante a aparente inflexão de estratégia da nova Administração norte-americana, que até há pouco tempo deixara de encarar o derrube do regime de Assad como uma prioridade, as forças militares russas e iranianas declaram-se dispostas a reforçar a cooperação bilateral em apoio do Presidente sírio: “Até à derrota total dos terroristas e daqueles que os apoiam”.


Pouco antes desta conversa telefónica, também o Presidente iraniano criticara Donald Trump.

Esse senhor que tomou o poder nos Estados Unidos pretendia querer combater o terrorismo, mas hoje todos os grupos terroristas na Síria fizeram a festa depois do ataque americano”, lançou Hassan Rohani.

Mais bombas sobre Idlib

Este sábado a província de Idlib - que abrange a localidade de Khan Sheikhoun, atingida pelo ataque químico que serviu de justificação ao bombardeamento norte-americano de uma base de Assad -, no noroeste da Síria, terá voltado a ser alvo de um raid aéreo.

Há notícia de pelo menos 15 mortos entre a população civil, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres.

O ataque químico de terça-feira, amplamente atribuído pelas chancelarias ocidentais à aviação síria, causou as mortes de 87 civis, entre os quais 31 crianças. Com o respaldo da Rússia, o regime continua a negar qualquer responsabilidade.

O Presidente norte Americano, Donald Trump, fez uma declaração sobre o ataque com mísseis à base síria


Os 59 mísseis Tomahawk lançados a partir de dois vasos de guerra norte-americanos no Mediterrâneo - USS Porter e USS Ross - atingiram três dias depois a base aérea de Shayrat, apontada como um local de armazenamento de armas químicas até 2013.

América preparada para novos ataques

Na sexta-feira, perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, a embaixadora norte-americana junto da Organização, Nikki Haley, quis deixar claro que os Estados Unidos estariam “preparados e fazer mais” para contrariar o regime de Bashar al-Assad. “Mas esperamos que isso não seja necessário”, acrescentou. 


A diplomata intervinha durante uma reunião de emergência, por impulso russo, dedicada à primeira ação militar direta dos Estados Unidos contra Assad em seis anos de guerra na Síria.


O Pentágono agitou a suspeita de algum tipo de assistência externa à aviação síria no ataque da passada terça-feira. Contudo, o Departamento de Defesa não foi ao ponto de acusar diretamente a Rússia.

Os russos, que previamente bloquearam a aprovação de uma resolução da ONU a condenar o uso de armamento químico, acusam desde sexta-feira os norte-americanos de terem “atacado território soberano da Síria”.

Na mesma reunião do Conselho de Segurança em que encaixou o aviso de Nikki Haley, o embaixador russo Vladimir Safronkov referiu-se ao bombardeamento norte-americano como “uma violação flagrante do Direito Internacional e um ato de agressão”.

Gesto britânico

Quem decidiu anular uma visita a Moscovo prevista para a próxima segunda-feira foi o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros. Por causa “dos desenvolvimentos na Síria, que alteraram fundamentalmente a situação”.

A minha prioridade é agora prosseguir o contacto com os Estados Unidos e outros, na aproximação da cimeira do G7 dos dias 10 e 11 de abril, tendo em vista organizar um apoio internacional coordenado a um cessar-fogo no terreno e intensificar o processo político”, explicou Boris Johnson em comunicado.


Falei destes projetos, em detalhe, com o secretário de Estado Tillerson. Ele vai deslocar-se a Moscovo como previsto e, após o encontro do G7, poderá fazer passar esta mensagem clara e coordenada aos russos”, sublinhou.

Lamentamos a defesa contínua, por parte da Rússia, do regime de Assad, mesmo depois do ataque com armas químicas contra civis inocentes”, insistiu Johnson, para em seguida instar o Kremlin “a fazer tudo o que é possível para que haja uma solução política na Síria e a trabalhar com o resto da comunidade internacional para que garantir que os acontecimentos chocantes da semana passada não voltem a ter lugar”, concluiu.

Moscovo reagiu depressa. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, considerou “absurdo” o cancelamento da visita de Boris Johnson e reprovou o que considerou ser a falta “de estabilidade e coerência da política externa” do Ocidente.

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